Análise: Com desistência de Joe Biden, agora a eleição será sobre Trump

Chicago - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desistiu de seguir na campanha pela reeleição deste ano neste domingo, 21.

EXAME havia mostrado que eram grandes as chances de ele desistir neste final de semana, diante da pressão avassaladora que sofria dentro do Partido Democrata para sair. E agora, o que acontece?

Mauricio Moura, analista do programa O Caminho para a Casa Branca, professor da Universidade George Washington e sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, separa os principais pontos de análise para agora e para os próximos passos dos democratas na campanha.

1 - A dúvida sobre Kamala Harris

A atual vice-presidente, e também vice na chapa de Biden, Kamala Harris, seria a herdeira natural da indicação do partido.

"Em primeiro lugar, o mais óbvio e a grande pergunta daqui para frente vai ser se Kamala Harris realmente vai ser a candidata ou não", diz Moura.

Segundo ele, a política democrata tem algumas vantagens nessa disputa. "Ela acabou de receber inclusive o endosso do presidente, o Biden, ela tem acesso a um pool de recursos de campanha já arrecadados na casa de 200 milhões de dólares, que é bastante relevante", afirma.

2 - Quem seria vice na chapa de Kamala Harris?

Moura lembra que nos últimos dias, em Washington, já corria a informação de que havia um processo de seleção para eventualmente escolher um vice na chapa de Kamala.

"Quem realmente pode ser o vice? Estamos olhando para a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, para o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, e potencialmente para o governador da Carolina do Norte, Roy Cooper ", afirma Moura.

"Por outro lado, é importante dizer que esses nomes também são aliados ao governador da Califórnia, Gavin Newsom, e ao governador de Illinois, J. B. Pritzker, que também têm condições de ser candidatos no topo do ticket da chapa."

Quem poderá substituir Biden

1 /6Kamala Harris, vice-presidente dos EUA(Kamala Harris, vice-presidente dos EUA)

2 /6Gavim Newsom, governador da Califórnia(Gavin Newsom press conference)

3 /6Gretchen Whitmer, governadora de Michigan, durante o evento Webby Awards, em Nova York(Gretchen Whitmer, governadora de Michigan)

4 /6Pete Buttigieg, secretário de Transporte dos EUA(Pete Buttigieg, secretário de Transporte dos EUA)

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3 - Decisão será em convenção aberta?

Sacramentar a desistência de Joe Biden foi muito importante, diz Moura. Agora, haverá uma discussão, não trivial,  se existe consenso em torno de Kamala de forma antecipada.

Se ele desistisse depois de 7 de agosto, teria ultrapassado a data para formalizar os nomes que os delegados terão disponíveis na convenção democrata", afirma.

Mas há uma pressão dentro de algumas correntes do partido Democrata para a escolha do indicado à Presidência seja feita na convenção nacional democrata, que ocorre de 19 a 26 de agosto, em Chicago -- e na qual a EXAME estará presente.

"Já havia uma discussão de processo de escolha, caso o Biden desistisse, e existe um grupo no partido que quer que a convenção decida o candidato. Que a decisão seja na convenção", diz.

4 - Kamala vs. Trump

Para Moura, as pesquisas dos próximos dias terão dificuldade em capturar plenamente o cenário de disputa entre Kamala e Trump.

"Obviamente que ela vai ganhar bastante atenção na mídia e vai monopolizar a atenção, mas eu acho que as pesquisas realmente vão refletir o quadro da disputa eleitoral depois que a gente formalizar a chapa inteira democrata", afirma. "E acho que isso vai acontecer mesmo nas próximas semanas."

Segundo ele, será "difícil" esperar que as pesquisas dessa semana respondam às perguntas principais. "Até mesmo porque o eleitor não vai estar exposto às decisões definitivas de chapa", afirma.

5 - Uma nova eleição

Por fim, Moura destaca que a corrida eleitoral mudou completamente.

"A questão deixa de ser se o Biden tem qualificação mental e física para ser o presidente e passa a ser uma eleição mais sobre o Donald Trump", diz. "Essa é a grande pergunta agora. Acredito que os Democratas vão fazer enquadrar a campanha dessa maneira: se o Trump merece voltar ou não."

Para Moura, é melhor para os democratas esse cenário do que aquele que estava posto, de debater a sanidade mental de Biden durante a campanha eleitoral.

"Vale lembrar que a campanha mais forte não começou. Ainda não está na rua. Claro que os candidatos estão fazendo eventos e comícios. Tivemos a convenção republicana. Mas, agora, a partir depois da convenção democrata, a campanha ganha muita atração na rua, nos voluntários, nas redes", diz. "A gente vai ter bastante coisa para debater daqui pra frente."