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América Latina espera encontrar uma UE mais flexível

O presidente do Uruguai, José Mujica, considera que a crise na Europa possa dar vantagem ao Mercosul na mesa de negociações

O presidente uruguaio, José Mujica: "Agora, provavelmente há um clima mais propício para superar os obstáculos", afirmou Mujica. (Miguel Rojo/AFP)
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Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2013 às 14h51.

Bogotá - Uma América Latina que se apresenta unida, com um crescimento sustentado e um panorama geral de otimismo vê a crise da Europa como um trunfo a seu favor na cúpula que realizará junto com os países do Caribe nesta semana com os membros da União Europeia (UE).

A capital chilena reunirá governantes de 33 países que formam a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e os 27 da União Europeia entre os dias 26 e 27 de janeiro, além dos responsáveis do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, dirigida para promover os investimentos sociais e ambientais.

Os latino-americanos e caribenhos falarão como "uma só voz" em Santiago, 19 anos depois que o então presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, pediu aos membros do Mercosul que possibilitassem um acordo entre os blocos.

Desde a mensagem que Delors lançou em Montevidéu em 1994, os países da América Latina conseguiram estabelecer com a UE uma série de acordos de associação por blocos e a título individual que vão além do comercial.

Paradoxalmente, o Mercosul, com o qual a UE iniciou sua aproximação com a América Latina no início dos anos 90, é a única das organizações sub-regionais latino-americanas que não conseguiu concretizar um acordo com os europeus, fundamentalmente pelas divergências sobre os subsídios agrários.

No entanto, ambas as partes assinalaram a esperança de que em Santiago seja alcançada uma saída para o impasse nas negociações.


O presidente do Uruguai, José Mujica, considera que a crise na Europa possa dar vantagem ao Mercosul na mesa de negociações.

"Pela situação na Europa, provavelmente se apresentou o paradoxo de que existam condições para intercambiar e negociar como não houve no passado", disse Mujica em dezembro antes do início da Cúpula do Mercosul em Brasília.

"Agora, provavelmente há um clima mais propício para superar os obstáculos", acrescentou Mujica.

"A cúpula não é um lugar onde são negociados acordos bilaterais, mas vai permitir contatos suficientes para que possam discutir quais serão os pontos de bloqueio" na negociação com o Mercosul, apontou, por sua parte o embaixador europeu no Chile, Rafael Dochao Moreno.

A UE tem acordos com a América Central, com a Colômbia e Peru - dois dos quatro países da Comunidade Andina (CAN) -, e com México e Chile, em ambos os casos individuais, além de uma aliança com os países caribenhos do Grupo ACP (África, Caribe e Pacífico).

Os quatro países fundadores do Mercosul - Argentina, Brasil, Paraguai (suspenso desde junho de 2012) e Uruguai, além da Venezuela, membro desde julho 2012 -, assim como Bolívia, Equador (membros da CAN) e Cuba estão fora da rede de acordos por enquanto.

Neste último grupo está a maioria dos países bolivarianos (Aliança Bolivariana dos Povos da América), que é capitaneada pela Venezuela e que têm divergências políticas com a UE, além de se opor aos tratados de livre-comércio.


Apesar destas diferenças na relação com a UE, todos os países latino-americanos estão dentro da CELAC, criada em fevereiro de 2010 no México, cuja presidência mudará de mãos em Santiago (Cuba assumirá).

"A relação mudou um pouco. Pela primeira vez, a América Latina e o Caribe são uma só voz" e isto faz com que seja possível "uma conversa mais simétrica" com os países da UE, declarou no início de janeiro o ministro das Relações Exteriores do Chile, Alfredo Moreno.

Dada a difícil situação econômica e social na Europa, "pela primeira vez, a América Latina e Caribe podem ser parte das soluções à crise global", enfatizou Moreno.

O Sistema Econômico Latino-Americano e do Caribe (SELA) considera que para a CELAC e o fortalecimento de posições comuns da América Latina e do Caribe, a Cúpula de Santiago representa "uma oportunidade histórica importante".

Para o especialista do SELA, Carlos Quenan, "dado que a Europa vive uma fase ruim e está muito preocupada por seus problemas internos", isso desponta como "uma oportunidade para colocar no radar da Europa "a América Latina e o Caribe".

"Que a UE veja na América Latina um espaço e uma região que pode contribuir", comentou Quenan.

A troca comercial entre a UE e América Latina, segundo dados estatísticos europeus, somou 202,4 bilhões de euros em 2011.

Além disso, a União Europeia é o principal investidor na região (US$ 613 bilhões de dólares), mas América Latina também tem investimentos nos países da UE (US$ 117 bilhões).


A embaixadora do México em Bruxelas, Sandra Fuentes-Berain, disse à Agência Efe que perante a crise europeia, assim como perante a incerteza que persiste nos Estados Unidos e na China, corresponde à América Latina, "que enfrentou a crise com maior fortaleza, ser parte da solução".

"A América Latina não reduziu seus índices de investimento, e cada vez vemos um maior número de empresas mexicanas e latino-americanas se aventurando na Europa e comprando companhias em dificuldades", comentou.

Segundo uma minuta das conclusões da cúpula que a Efe teve acesso, os países da América Latina e do Caribe vão pedir aos da UE que seus investimentos sejam "transparentes" e protejam os trabalhadores e o meio ambiente.

As partes reconhecem na minuta que sua relação estratégica "é inclusive mais relevante em tempos de crise financeira e econômica e de complexidades sociais, quando nossos povos buscam formas de participação mais inclusivas".

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Bogotá - Uma América Latina que se apresenta unida, com um crescimento sustentado e um panorama geral de otimismo vê a crise da Europa como um trunfo a seu favor na cúpula que realizará junto com os países do Caribe nesta semana com os membros da União Europeia (UE).

A capital chilena reunirá governantes de 33 países que formam a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e os 27 da União Europeia entre os dias 26 e 27 de janeiro, além dos responsáveis do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, dirigida para promover os investimentos sociais e ambientais.

Os latino-americanos e caribenhos falarão como "uma só voz" em Santiago, 19 anos depois que o então presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, pediu aos membros do Mercosul que possibilitassem um acordo entre os blocos.

Desde a mensagem que Delors lançou em Montevidéu em 1994, os países da América Latina conseguiram estabelecer com a UE uma série de acordos de associação por blocos e a título individual que vão além do comercial.

Paradoxalmente, o Mercosul, com o qual a UE iniciou sua aproximação com a América Latina no início dos anos 90, é a única das organizações sub-regionais latino-americanas que não conseguiu concretizar um acordo com os europeus, fundamentalmente pelas divergências sobre os subsídios agrários.

No entanto, ambas as partes assinalaram a esperança de que em Santiago seja alcançada uma saída para o impasse nas negociações.


O presidente do Uruguai, José Mujica, considera que a crise na Europa possa dar vantagem ao Mercosul na mesa de negociações.

"Pela situação na Europa, provavelmente se apresentou o paradoxo de que existam condições para intercambiar e negociar como não houve no passado", disse Mujica em dezembro antes do início da Cúpula do Mercosul em Brasília.

"Agora, provavelmente há um clima mais propício para superar os obstáculos", acrescentou Mujica.

"A cúpula não é um lugar onde são negociados acordos bilaterais, mas vai permitir contatos suficientes para que possam discutir quais serão os pontos de bloqueio" na negociação com o Mercosul, apontou, por sua parte o embaixador europeu no Chile, Rafael Dochao Moreno.

A UE tem acordos com a América Central, com a Colômbia e Peru - dois dos quatro países da Comunidade Andina (CAN) -, e com México e Chile, em ambos os casos individuais, além de uma aliança com os países caribenhos do Grupo ACP (África, Caribe e Pacífico).

Os quatro países fundadores do Mercosul - Argentina, Brasil, Paraguai (suspenso desde junho de 2012) e Uruguai, além da Venezuela, membro desde julho 2012 -, assim como Bolívia, Equador (membros da CAN) e Cuba estão fora da rede de acordos por enquanto.

Neste último grupo está a maioria dos países bolivarianos (Aliança Bolivariana dos Povos da América), que é capitaneada pela Venezuela e que têm divergências políticas com a UE, além de se opor aos tratados de livre-comércio.


Apesar destas diferenças na relação com a UE, todos os países latino-americanos estão dentro da CELAC, criada em fevereiro de 2010 no México, cuja presidência mudará de mãos em Santiago (Cuba assumirá).

"A relação mudou um pouco. Pela primeira vez, a América Latina e o Caribe são uma só voz" e isto faz com que seja possível "uma conversa mais simétrica" com os países da UE, declarou no início de janeiro o ministro das Relações Exteriores do Chile, Alfredo Moreno.

Dada a difícil situação econômica e social na Europa, "pela primeira vez, a América Latina e Caribe podem ser parte das soluções à crise global", enfatizou Moreno.

O Sistema Econômico Latino-Americano e do Caribe (SELA) considera que para a CELAC e o fortalecimento de posições comuns da América Latina e do Caribe, a Cúpula de Santiago representa "uma oportunidade histórica importante".

Para o especialista do SELA, Carlos Quenan, "dado que a Europa vive uma fase ruim e está muito preocupada por seus problemas internos", isso desponta como "uma oportunidade para colocar no radar da Europa "a América Latina e o Caribe".

"Que a UE veja na América Latina um espaço e uma região que pode contribuir", comentou Quenan.

A troca comercial entre a UE e América Latina, segundo dados estatísticos europeus, somou 202,4 bilhões de euros em 2011.

Além disso, a União Europeia é o principal investidor na região (US$ 613 bilhões de dólares), mas América Latina também tem investimentos nos países da UE (US$ 117 bilhões).


A embaixadora do México em Bruxelas, Sandra Fuentes-Berain, disse à Agência Efe que perante a crise europeia, assim como perante a incerteza que persiste nos Estados Unidos e na China, corresponde à América Latina, "que enfrentou a crise com maior fortaleza, ser parte da solução".

"A América Latina não reduziu seus índices de investimento, e cada vez vemos um maior número de empresas mexicanas e latino-americanas se aventurando na Europa e comprando companhias em dificuldades", comentou.

Segundo uma minuta das conclusões da cúpula que a Efe teve acesso, os países da América Latina e do Caribe vão pedir aos da UE que seus investimentos sejam "transparentes" e protejam os trabalhadores e o meio ambiente.

As partes reconhecem na minuta que sua relação estratégica "é inclusive mais relevante em tempos de crise financeira e econômica e de complexidades sociais, quando nossos povos buscam formas de participação mais inclusivas".

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