Aliado de Putin, Irã bombardeia Iraque e escala risco de tensão global
Ato seria consequência de acordo feito entre Rússia e Irã para envio de tropas para guerra na Ucrânia; em troca, Putin teria dado sinal verde para ações do governo iraniano na região
Carla Aranha
Publicado em 13 de março de 2022 às 11h57.
Última atualização em 13 de março de 2022 às 12h02.
O domingo amanheceu tenso no Iraque: pelo menos 12 mísseis atingiram Erbil, capital da região do Curdistão, no norte do país. O Irã reconheceu a autoria dos atentados por meio de uma declação nas mídias sociais do governo. O ataque, de acordo com Teerã, teria como alvo "o centro estratégico de conspirações sionistas em Erbil". As bombas caíram perto do consulado americano em Erbil e da sede da rede de TV Kurdistan 24, nos subúrbios da cidade. Até o momento, não há relato de mortes.
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Fontes diplomáticas e de inteligência iraquianas e de outros países do Oriente Médio enxergam a operação como resultado do acordo feito por Vladimir Putin com o Irã para o fornecimento de militantes para lutar na guerra na Ucrãnia. Em troca do envio de mais de 16 mil mercenários para o leste europeu, o Irã, antigo aliado da Rússia no Oriente Médio, teria obtido sinal verde para estender seu poder sobre nações como o Iraque, Líbano e Síria.
Na última sexta, dia 11, Putin anunciou oficialmente o recrutamento de tropas no Oriente Médio. "Recebemos várias propostas de voluntários da região dispostos a lutar na Ucrânia. Acreditamos que devemos responder favoravelmente a esses pedidos. Sabemos que muitos deles nos ajudaram na luta contra o Estado Islâmico, uma organização terrorista, nos últimos dez anos", disseSergey Shoigu, ministro de Defesa da Rússia. Em 2015, Putin enviou tropas para a guerra na Síria, conflito que já dura 11 anos.
A expectativa é que militantes do Hezbollah e outros grupos que atuam no Oriente Médio se juntem aos soldados russos na Ucrânia. Com isso, aumenta o temor de uma escalada global de tensões. Em países como o Iraque, a expectativa é de uma maior desestabilização, com forças iranianas atuando diretamente contra Bagdá, assim como no Líbano.
Dado o poderio militar iraniano e o disnível de forças em relação a outros países da região, por enquanto não há sinais de que a agressão a Erbil será revidada militarmente. O presidente iraquiano, Barham Salih, limitou-se a dizer que a comunidade internacional deveria repudiar o ataque, realizado em momento no qual o país busca formar um novo governo. "Precisamos ficar firmes diantes de tentativas de mergulhar o Iraque no caos", disse.
O Parlamento iraquiano elegeu o presidente da Câmara,Mohamed al Halbusi, em janeiro deste ano, dando início a um complicado processo de formação de governo. As eleições gerais ocorreram em outubro de 2021.
O Irã também pretende aumentar sua influência no Líbano, de acordo com fontes diplomáticas, onde já exerce relativo poder por meio de milícias como o Hezbollah. O grupo, fundado em 1982 pela Guarda Revolucionária do Irã, atua a favor dos interesses do país na região. A expansão de sua ascedência no Líbano vêm provocando conflitos com os países do Golfo, tradicionais rivais de Teerã.
O caldo esquentou no final de janeiro, após declarações do ministro de Informações,George Kordahi, considerado aliado do Hezbollah, criticando a Arábia Saudita, o que motivou um movimento para a ruptura de laçoes diplomáticos entre os dois países. Na ocasião, Kordachi também disse que o Hezbollah nunca entregará suas armas.O Líbano vive uma severa crise econômica desde 2019, além de turbulências políticas. Nos últimos três anos, a moeda libanesa desvalorizou 90% e milhões de famílias ingressaram na pobreza. Diante da expectativa de um recreduscimento de tensões, o cenário é considerado preocupante.