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Afinal, o muro de Trump no México é tão importante assim?

Hoje, a política imigratória dos EUA enfrenta desafios que barreiras físicas não são capazes de resolver

Barreira física na fronteira da cidade de Naco, no México, com o Arizona, nos EUA. (Rex_Wholster/Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Publicado em 28 de janeiro de 2017 às 07h35.

Última atualização em 29 de janeiro de 2017 às 13h37.

São Paulo - Donald Trump prometeu construir um muro ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos com o México e, em sua semana de estreia no cargo mais poderoso do país, ele já deu os primeiros passos para manter essa promessa.

Na última quarta-feira (25), o presidente americano assinou uma série de decretos determinando a construção do muro e estabelecendo barreiras para a entrada de refugiados sírios e imigrantes provenientes de países "propensos ao terror".

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Ainda não foram revelados os detalhes dessa obra colossal, mas especula-se que a barreira física pode atingir até 12 metros de altura e se estender por mais de 1 000 quilômetros. Tampouco está claro de onde virá o dinheiro para o projeto, cujo custo estimado já foi cifrado entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões.

Entre tantas incertezas, a conceituada revista The Economist levantou mais uma nesta semana: será que o muro é realmente tão necessário assim?

Citando dados da US Border Control, entidade que faz a segurança nas fronteiras dos EUA, a reportagem destaca que o fluxo de imigrantes ilegais vindos do México já estava em forte declínio muito antes de Trump defender sua proposta polêmica durante a corrida eleitoral à Casa Branca no ano passado.

O número de apreensões de pessoas que tentavam cruzar a fronteira ilegalmente atingiu o pico em 2000, quando ocorreram mais de 1,6 milhão de prisões, das quais 98% eram de mexicanos.

Ao longo da administração de George W. Bush, esse número caiu para cerca de 1 milhão por ano. Durante a presidência de Barack Obama, a taxa caiu ainda mais, com uma média de apenas 400.000 por ano. Além disso, em 2016, apenas 47% das apreensões envolviam mexicanos.

Claro que o números deprisões não tem relação direta com a quantidade de pessoas que escapam da detecção e entram no país, mas certamente dão uma ideia de que a travessia ilegal está sendo combatida e isso previne futuras investidas.

Segundo a The Economist, isso pode ter relação tanto com a instalação de cercas em determinadas extensões da fronteira quanto com o crescimento econômico do próprio México.

Americanos preferem reforma da política imigratória

É verdade que muitos partidários de Trump cantaram em coro o mantra "Build the wall" em seus eventos de campanha eleitoral.

No entanto, pesquisas recentes sugerem que os americanos como um todo não estão entusiasmados com um muro na fronteira. Uma sondagem da ABC News mostrou que apenas 37% dos americanos são a favor da construção.

Não significa que os americanos não estão preocupados com a imigração, pelo contrário: 72% querem "deportar ilegais sem documentos", segundo a pesquisa da ABC News.

Da mesma forma, uma pesquisa do Pew Research Center realizada no final de novembro e início de dezembro do ano passado constatou que a grande maioria dos americanos são a favor de uma variedade de políticas de imigração.

O objetivo mais amplamente apoiado é estabelecer políticas mais rigorosas para evitar que as pessoas ultrapassem o período dos vistos de permanência no país. Cerca de oito em cada dez (77%) consideram que esse é um objetivo importante, de acordo com a pesquisa.

Questionados sobre oito possíveis metas para a política de imigração dos EUA, a maioria dos entrevistados classificam-nas como importantes, exceto uma: menos da metade, 39%, consideram construir um muro ao longo da fronteira entre EUA e México um objetivo "importante" ou "muito importante".

A maioria dos americanos (58%) diz que é importante aumentar o número de deportações de pessoas que vivem ilegalmente nos Estados Unidos, outra das propostas de campanha que Trump tem enfatizado desde que venceu a eleição. E 73 por cento disseram ser contra a política de imigrantes não qualificados receberem benefícios do governo.

A mais recente estimativa do Pew Research Center coloca o número de imigrantes não autorizados no país em 11,1 milhões.

No ano fiscal de 2015, relata o centro, cerca de 400.000 visitantes nos EUA permaneceram no país depois de seus vistos expirarem, de acordo com uma recente estimativa do Departamento de Segurança Interna.

Além disso, cerca de seis em cada dez (62%) dizem que é "muito" ou "um pouco importante" estabelecer um caminho com perspectivas para a maioria das pessoas que permanecem ilegalmente no país, enquanto 61% dizem o mesmo sobre a recepção de refugiados civis de países mergulhados em violência e guerra.

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