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Afeganistão investigará abuso sexual de menores pela polícia

A prática do "bacha bazi", que consiste em usar jovens pré-púberes como companhia sexual, para transportar armas ou servir chá, ainda é muito presente no país


	Afeganistão: a prática do "bacha bazi", que consiste em usar jovens pré-púberes como companhia sexual, para transportar armas ou servir chá, ainda é muito presente no país
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Afeganistão: a prática do "bacha bazi", que consiste em usar jovens pré-púberes como companhia sexual, para transportar armas ou servir chá, ainda é muito presente no país (Thinkstock/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2016 às 12h25.

O Afeganistão prometeu iniciar uma investigação minuciosa depois das críticas da comunidade internacional em função das revelações sobre casos de abusos sexuais da polícia contra menores de idade.

De acordo com várias fontes entrevistadas pela AFP, os talibãs usam os menores submetidos à prática tradicional do "bacha bazi" ("brincar com meninos" em dari, uma das duas línguas oficiais afegãs) pelos policiais para atacar a própria polícia.

Este tipo de ataque matou centenas de policiais nos últimos dois anos na província central de Uruzgan, onde a prática continua muito presente.

"O presidente Ashraf Ghani ordenou uma investigação minuciosa com base nestas informações", anunciou o palácio presidencial em um comunicado.

"Quem for considerado culpado será perseguido e punido, independente da patente, de acordo com o direito afegão e nossos compromissos internacionais", completa o texto.

A prática do "bacha bazi", que consiste em utilizar jovens pré-púberes como companhia sexual, para transportar armas ou servir chá, ainda é muito presente em algumas regiões do Afeganistão.

Suboficiais de polícia, juízes, funcionários do governo e sobreviventes revelaram à AFP como os talibãs recrutam os "bacha bazi" para atacar aqueles policiais que os violentaram, expondo assim os meninos aos abusos dos dois lados do conflito afegão.

A presidência destacou que "não há espaço" na sociedade afegã para estes agressores e que está disposta a tudo, "independente do preço", para que sejam punidos.

O anúncio foi feito depois de uma série de condenações internacionais em resposta a uma reportagem da AFP.

"Condenamos com veemência os espantosos abusos como os que são descritos na matéria", afirmou a embaixada dos Estados Unidos em Cabul.

"Estamos pressionando o governo afegão para proteger e a apoiar as vítimas e suas famílias. Pedimos à justiça que faça com que os culpados prestem contas", completou a representação diplomática.

Duncan Hunter, representante republicano no Congresso americano, pediu na semana passada "tolerância zero" e "medidas imediatas para impedir as violações de meninos na presença das forças americanas", ainda presentes no Afeganistão com quase 10.000 homens para apoiar e treinar as forças afegãs.

A Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama) afirmou que o "bacha bazi" é motivo de "grave preocupação" para a comunidade internacional.

"A Unama continua recebendo informações dispersas sobre o bacha bazi, inclusive dentro das forças de segurança afegãs, e vai cobrar do governo que todas as formas de abuso e de exploração dos meninos sejam punidas e prevenidas", afirmou à AFP Mark Bowden, representante especial adjunto da ONU no Afeganistão.

O anúncio do governo, que não divulgou um calendário preciso para as investigações, acontece a duas semanas das conferências para a renovação do compromisso internacional com o Afeganistão, no início de julho em Varsóvia e em setembro em Bruxelas.

Cabul tem uma grande dependência do apoio militar e financeiro internacional para a formação e manutenção das forças de segurança.

A falta de reação ao "bacha bazi" poderia colocar em perigo o apoio, afirmou Michael Kugleman, analista no Woodrow Wilson Center de Washington.

"Nenhum doador poderia justificar conscientemente financiar uma polícia associada a esta prática".

O ministério afegão do Interior reconhece que o "bacha bazi" é um grave crime e anunciou seu compromisso para reformar as instituições. Mas o país ainda não adotou uma legislação para punir a prática, nem anunciou qualquer iniciativa para ajudar as vítimas.

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