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Acusado no julgamento por próteses nega risco para mulheres

O fundador da empresa de próteses mamárias PIP afirmou que não expôs ao risco as milhares de mulheres que usaram implantes com gel impróprio


	Jean-Claude Mas na entrada do tribunal: "o gel PIP não estava homologado, mas era homologável. O gel era tão biocompatível quanto o Nusil" (o gel aprovado), disse (Franck Pennant/AFP)

Jean-Claude Mas na entrada do tribunal: "o gel PIP não estava homologado, mas era homologável. O gel era tão biocompatível quanto o Nusil" (o gel aprovado), disse (Franck Pennant/AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2013 às 12h48.

Marselha - O principal acusado no processo pelos implantes mamários defeituosos realizado em Marselha (sul da França), o fundador da empresa PIP, Jean-Claude Mas, reconheceu nesta sexta-feira os problemas, mas assegurou que não houve riscos à saúde das dezenas de milhares de mulheres que os usaram.

"Não havia riscos", afirmou Mas, de 73 anos, que fundou e dirigiu a empresa francesa Poly Implant Prothese (PIP), cujos 85% dos implantes eram exportados, 50% à América Latina.

Mas e outros quatro diretores da empresa são julgados por "fraude agravada" e "fraude" por terem fabricado implantes com um gel de silicone impróprio para uso médico. Podem ser condenados a cinco anos de prisão.

"Este homem merece ir à prisão. Agiu como um terrorista, colocando uma bomba-relógio, uma bomba atômica, em nossos corpos", declarou à AFP de Bogotá uma advogada colombiana de 28 anos, Surany Arboleda, portadora de próteses PIP.

Neste processo, 5.250 mulheres, francesas em sua maioria, se declararam demandantes. No total, acredita-se que cerca de 300.000 mulheres no mundo implantaram estas próteses adulteradas.

Diante de uma centena destas mulheres, Mas se defendeu com firmeza, sustentando que não havia risco para as mulheres envolvidas.

"O gel PIP não estava homologado, mas era homologável", disse. "Em nível de toxidade, é igual ao Nusil" (o gel homologado para uso médico), acrescentou, denunciando que foi vítima de uma "delação".


Com uma segurança total em si mesmo, Mas explicou que sua fórmula procedia de um cirurgião plástico, precursor dos implantes nos anos 60, com quem ele trabalhou nos anos 80.

Segundo as autoridades sanitárias francesas, aproximadamente um quarto das próteses PIP retiradas desde o início do escândalo eram defeituosas, embora não esteja claro se apresentam um risco aumentado de câncer. Está sendo realizada a respeito uma investigação epidemiológica de dez anos.

Após o interrogatório dos outros quatro acusados desta sexta-feira, o processo continuará na segunda-feira com os depoimentos das testemunhas de acusação. Depois será a vez das testemunhas de defesa e dos relatórios dos peritos.

Entre a centena de demandantes que seguiam presentes nesta sexta-feira (cerca de 400 delas participaram da audiência de abertura na segunda-feira), era perceptível um certo sentimento de alívio.

Isabelle Traeger declarou-se mais calma. Mas "não esconde nada", disse Traeger, enfermeira de 56 anos, declarando-se convencida de que será condenado mesmo que ainda não reconheça que seu gel é um veneno.

Paralelamente a este processo, outros dois procedimentos judiciais estão em curso na França pelo escândalo PIP. Um por ferimentos e homicídio culposo e outro sobre os fluxos financeiros gerados pela fraude e sobre o patrimônio dos diretores da empresa antes e depois da declaração de quebra.

Para além deste primeiro processo e das cinco acusações, os defensores das vítimas tentam estabelecer outras responsabilidades junto com a empresa de controle alemã TUV, com os fornecedores de silicone da PIP ou com a agência francesa de segurança dos produtos de saúde.

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