Venezuela: dono da maior reserva de petróleo do mundo, país também registra os maiores índices de inflação (John Moore/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 1 de junho de 2016 às 09h41.
São Paulo – A Venezuela está cada vez mais próxima do fundo do poço: enquanto a situação econômica do país se agrava dia após dia, no campo político, governo e oposição parecem estar cada vez mais distantes de um acordo que possa trazer qualquer sinal de estabilidade.
O país vive em tensão constante desde que o presidente Nicolás Maduro declarou Estado de Exceção e Emergência Econômica no início do mês passado. A estratégia foi vista como uma tentativa de enfraquecer a convocação pela oposição de um referendo que pode vir a resultar no fim do mandato do chavista.
Maduro, por sua vez, chama os esforços da oposição de “golpe orquestrado pelas potências estrangeiras” e declarou ter mobilizado as forças armadas e declarou estar pronto para lidar com “processos internos de comoção e desestabilização”, como informou a agência de notícias AFP. Já até ganhou um puxão de orelha da Organização dos Estados Americanos (OEA).
No meio dessa confusão, é a população a grande afetada pela escassez de itens essenciais, pelo desemprego e pela violência. Para mostrar a gravidade dos problemas enfrentados hoje pelos venezuelanos, EXAME.com relembra abaixo algumas situações insólitas que vem acontecendo no país dono das maiores reservas de petróleo do planeta.
Em 2016, pela primeira vez em 20 anos, a Venezuela teve de aumentar o preço da gasolina no país. De acordo com informações do site de notícias CNN Money, o preço do litro do combustível subiu de 10 centavos de bolívar para 6 bolívares. Segundo Maduro na época, a medida visava criar um “sistema que garanta o acesso à gasolina a preços justos, mas que garanta também o pagamento pelo que é investido na sua produção”.
Não bastasse a crise econômica, que tem como um de seus maiores fatores a queda no preço do barril de petróleo, o país vem enfrentando um duro período de seca que acertou em cheio os seus reservatórios. Com uma infraestrutura obsoleta, os apagões deixaram de ser ocasionais e passaram a acontecer semanalmente.
Primeiro, os dias úteis no país foram reduzidos de cinco para quatro na semana, como forma de conter o consumo de energia elétrica. Dias depois, Maduro anunciou que os serviços públicos passariam a funcionar duas vezes na semana.
Nas residências, a luz é cortada diariamente por períodos de até quatro horas e já há em curso planos de racionamento de água.
A crise impactou no aumento dos índices de violência no país. Para se ter noção do caos, depois de anos sendo considerada a cidade mais perigosa do planeta, San Pedro Sula, em Honduras, perdeu para Caracas, a capital da Venezuela.
Neste ano, a taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes chegou a 119,87 em Caracas, contra 111,03 na cidade hondurenha conhecida como o paraíso do crime organizado na América Central.
A violência trouxe mudanças para a rotina dos venezuelanos, como mostrou uma reportagem recente da Bloomberg. De acordo com informações da publicação americana, os venezuelanos hoje saem para badalar durante o dia e procuram estar a caminho de casa até às 18h para evitar tiroteios e sequestros que acontecem quando o sol se põe.
Dentre tudo o que está escasso hoje na Venezuela, a comida é, sem dúvida, um dos itens mais graves. No mês passado, o governo reajustou em 900% o preço do quilo da farinha de milho. Para muitas famílias, conseguir fazer três refeições por dia está cada vez mais difícil.
Venezuelanos relatam o sofrimento de enfrentar filas quilométricas durante a noite para tentar comprar comida. Não raras são as vezes em que não se encontra mais nada na prateleira. Uma brasileira que reside na Venezuela contou para EXAME.com que não compra leite há mais de um ano.
O país é hoje dono da mais alta inflação no planeta. Segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), a expectativa é que a inflação chegue a 500% ainda neste ano.
Uma das situações que trouxeram choque e constrangimento aos venezuelanos diz respeito à escassez desse item essencial. Os hotéis vêm sentindo a falta de papel higiênico desde o ano passado, quando muitos chegaram a pedir aos hóspedes que trouxessem os próprios rolos durante o feriado da Semana Santa. O papel higiênico não é o único item de higiene pessoal em falta no país: shampoos e sabonetes também estão em falta.
Os preservativos estão em falta no país há algum tempo. No início do ano passado, veio à tona a notícia de que ainda era possível adquirir um pacote com 36 camisinhas pela internet e por quase 5 mil bolívares, o equivalente a pouco mais de 2 mil reais. “Esperamos na fila até para transar”, disse um venezuelano ao site de notícias americano Bloomberg.
Inflação e escassez de produtos fizeram com que muitos venezuelanos apelassem para uma tática similar ao escambo e que no país foi apelidada de “trueque”: com as redes sociais em mãos, a população aproveita para fazer a troca de itens e obter informações sobre onde encontrar o que mais precisarem.
*Matéria atualizada em 01/06, às 09h40.