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A saída de Scaramucci, o franco-atirador de Trump

Oficialmente, Anthony Scaramucci, que foi contratado há apenas dez dias, não havia nem começado no trabalho, ele assumiria em 15 de agosto

Scaramucci: ele fazia o governo Trump parecer ainda mais truculento e desorientado do que de costume (Jonathan Ernst/Reuters)

Scaramucci: ele fazia o governo Trump parecer ainda mais truculento e desorientado do que de costume (Jonathan Ernst/Reuters)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 31 de julho de 2017 às 18h21.

A sucessão de baixas no governo de Donald Trump continuou nesta segunda-feira 31. Nas últimas duas semanas já deixaram o governo o ex-secretário de Imprensa, Sean Spicer e o ex-chefe de gabinete, Reince Priebus. Agora, foi a vez foi do novo diretor de comunicações, Anthony Scaramucci, que foi contratado há apenas dez dias. Sua saída é uma espécie de marco: ele fazia o governo Trump parecer ainda mais truculento e desorientado do que de costume.

Oficialmente, Scaramucci não havia nem começado no trabalho (a Casa Branca havia dito que ele assumiria em 15 de agosto). Há quem diga que sua brevíssima passagem pelas trincheiras de Trump tinha o intuito de realizar o trabalho sujo: demitir nomes mais ligados ao partido republicano e que vinham batendo de frente com o presidente, justamente Spicer e Priebus. Scaramucci não tinha qualquer experiência prévia com gestão de comunicação, tampouco com política.

Vindo de uma tradicional família ítalo-americana, Scaramucci se graduou na Faculdade de Direito de Harvard, onde também cursou Economia. Após se formar ele trabalhou no banco Goldman Sachs, onde fez carreira nas áreas de investimento e administração de recursos privados. Após sair do Goldman, fundou a empresa de administração de capital Oscar. Em 2005, criou a companhia Skybridge Capital, que fazia investimentos em todo o mundo.

Scaramucci também já escreveu livros sobre ajuda financeiro, além de ter apresentado seu próprio programa no canal Fox Business. Com uma fortuna estimada em 1,5 bilhão de dólares, ele é um famoso doador de campanhas republicanas tendo apoiado Trump depois que suas apostas iniciais, Scott Walker e Jeb Bush, haviam saído da corrida presidencial. Mas os democratas não estão longe: Scaramucci também doou para Barack Obama e Hillary Clinton.

A retirada de Scaramucci do governo foi anunciada nesta segunda-feira pela secretária de Imprensa, Sarah Sanders, em um pronunciamento. “O Sr. Scaramucci sentiu que seria melhor dar uma chance ao novo chefe de gabinete, o general John Kelly, de um novo começo e também de montar seu próprio time. Nós lhe desejamos tudo de melhor”, disse Sanders.

O cargo ocupado por Scaramucci, que estava livre desde maio, é um dos mais quentes de Washington. Antes era ocupado por Mike Dubke, um estrategista republicano que ficou apenas três meses como diretor de Comunicações antes de renunciar ao posto, que por sua vez já havia sido de Jason Miller, um auxiliar de campanha de Trump que deixou o governo antes mesmo da posse e sequer fez seu juramento.

Scaramucci chegou ao governo como um elefante numa loja de cristais. Dez dias foram o suficiente para polêmicas com a imprensa, entrevistas bombásticas e a demonstração de uma personalidade expansiva, coroada de óculos de sol com lentes reflexivas.

Em uma entrevista que causou tumulto na quinta-feira da semana passada, Scaramucci atacou outros membros do governo e anunciou a demissão de Priebus. “Eu não sou Steve Bannon [o chefe-estrategista de Trump], eu não estou tentando chupar meu próprio pinto. Eu não estou tentando construir minha marca da força do presidente. Eu quero ajudar o país”, disse ele ao repórter Ryan Lizza, da revista The New Yorker.

Na mesma conversa, ele indagou o repórter sobre suas fontes dentro da Casa Branca, indicando que muitos deles eram aliados próximos de Priebus, que havia barrado sua entrada no governo. Scaramucci queria saber quem do time da Casa Branca estava vazando informações para a imprensa.

“Eu vou demitir todo mundo. Eu vou chegar na pessoa que faz esses vazamentos. Se você quiser vazar algo, Reince Priebus, vai ser solicitado a renunciar nos próximos dias”, disse Scaramucci, que não pediu para a conversa ser confidencial. Ele finalizou dizendo que Priebus é “um maldito paranóico esquizofrênico”.

Essas declarações teriam levado sua esposa, Deidre Ball, a pedir divórcio mesmo grávida do segundo filho do casal, segundo o jornal New York Post. Uma matéria publicada na coluna de fofocas Page Six, havia mostrado fontes anônimas que detalhavam uma relação conturbada pelos últimos anos de tentativa de Scaramucci de entrar na política.

Segundo fontes próximas à presidência, Trump estava “de saco cheio” de Scaramucci nos últimos dias. A contratação havia sido um pedido de sua filha, Ivanka Trump, e de seu genro e assessor, Jared Kushner, que viam em Scaramucci uma maneira de forçar a saída de Priebus. Deu certo. Depois de completar seu trabalho, o franco-atirador de Trump pode até ocupar outro cargo no governo.

Enquanto isso, analistas já se perguntam quem será o próximo a cair no governo. As apostas recaem sobre o procurador-geral, Jeff Sessions, e o secretário de Estado, Rex Tillerson. Segundo uma estimativa do jornal The New York Times, dos 210 cargos mais importantes do governo Trump, 114 ainda estão vagos.

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