A advogada sul-africana Thuli Madonsela: "protetora pública" desde 2009, Thuli é conhecida por ser implacável em sua batalha contra a corrupção na África do Sul (Flickr)
Gabriela Ruic
Publicado em 18 de outubro de 2014 às 07h00.
Última atualização em 16 de agosto de 2017 às 16h52.
São Paulo – Nesta semana, foi entregue o prêmio Person of Integrity (Pessoa de Integridade) para a advogada Thuli Madonsela, da África do Sul. A honraria, oferecida desde 2000 pela organização não governamental (ONG) Transparency International, tem como objetivo reconhecer os esforços de pessoas e entidades que lutam contra a corrupção mundo afora.
Thuli assumiu em 2009 o cargo de protetora pública, uma função que exerce um papel similar ao do Ministério Público no Brasil. É de sua responsabilidade a investigação de condutas exercidas por membros do poder público do país para que sejam apuradas possíveis irregularidades.
Thuli nasceu em 1962 em Joanesburgo e cresceu em Soweto, região criada na época do apartheid com o objetivo de separar a população negra da branca. Ela estudou direito e participou do time que elaborou a constituição da África do Sul, promulgada em 1996 pelo então presidente do país, Nelson Mandela.
"Meus pais não ficaram felizes com a minha vontade de estudar Direito. Achavam que advogados serviam apenas para ajudar criminosos a escaparem de pagar por seus crimes", contou rindo em um vídeo produzido pela ONG.
Conhecida por sua fala mansa e pela calma com a qual lida com assuntos polêmicos, a advogada desferiu neste ano um duro golpe na administração de Jacob Zuma, atual presidente da África do Sul.
Um relatório compilado por ela e sua equipe acusou Zuma de usar o equivalente a 23 milhões de dólares, dinheiro público, na reforma de sua residência no campo.
Para Thuli, a conduta era incompatível com o cargo. Portanto, Zuma deveria pagar do próprio bolso por alguns dos novos itens da casa como, por exemplo, o galinheiro e a piscina, que foi descrita pelo escritório da presidência como um equipamento anti-incêndio.
"Thuli Madonsela é um exemplo de como um funcionário público sul-africano deve ser", escreveu a revista Time, que a elegeu uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. "Ao se posicionar sobre a verdade, ela garantiu o seu espaço na história moderna da África do Sul", continuou a publicação.
Humilde, Thuli deseja que o prêmio fosse dado não apenas para ela, mas para toda a equipe de protetores públicos da África do Sul. "É uma honra e um privilégio ser reconhecida como parte de uma nação comprometida em fazer o melhor por todo o seu povo", declarou a advogada em um comunicado oficial.
"Ninguém disse que seria fácil. Nosso ícone global, o ex-presidente Nelson Mandela, alertou que, apesar da nossa boa vontade, erros podem ser cometidos. Daí a importância de uma instituição legal que atue para limitar os excessos do poder público em exercício", terminou.
Veja abaixo, em ingês e sem legendas, uma breve entrevista com Thuli conduzida pela ONG Transparency International.
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