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A jihad em tempos de recrutamento 2.0

Os jihadistas europeus usam a internet para apresentar a Síria e o Iraque como paraísos, e mostram a guerra como um videogame


	Membros do Estado Islâmico: radicais preferem vender o EI como um novo paraíso
 (AFP)

Membros do Estado Islâmico: radicais preferem vender o EI como um novo paraíso (AFP)

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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2014 às 14h15.

Paris - Os jihadistas europeus usam a internet para apresentar a Síria e o Iraque como paraísos na Terra, e mostram a guerra como um videogame, um tipo de propaganda que as autoridades consideram preocupante.

Os combatentes, armados com kalashnikovs, enviam fotos em que aparecem sorridentes, comendo pizza e aproveitando o luxo de mansões confiscadas pelo grupo Estado Islâmico (EI).

As fotos mostram uma imagem idealizada da jihad na qual a ideologia fica relegada a um segundo plano.

Estes jovens europeus descrevem seu dia a dia utilizando os códigos de sua geração, ultra-conectada com as redes sociais.

E utilizam sua língua materna com o objetivo de recrutar para o grupo EI, "que está aqui para sacrificar seu dinheiro e seus soldados".

Assim dizia o francês Abu Abdallah G., um jihadista que passou por Reino Unido e Espanha. Na Síria, cercado de crianças, dizia querer ajudar os pobres.

Um aspecto humanitário que nada tem a ver com as fotografias de cabeças decapitadas que publicava em sua conta no Facebook.

Seu perfil contava com 4.000 amigos quando morreu em julho.

"A radicalização surge do encontro entre um jovem muito sensível que faz perguntas a si mesmo sobre as injustiças e um discurso que o transforma em salvador da humanidade. O doutrinamento começa quase sistematicamente pela internet", explica Dunia Buzar, diretora do Centro de Prevenção contra as derivas sectárias vinculadas ao islã na França.

Envolvimento discreto

Na França, "dois terços das pessoas que se auto-radicalizaram através da internet não estavam fichadas pelos serviços de inteligência e os casos se espalham rapidamente, afetando cada vez mais as mulheres", explica uma fonte policial.

"A instrução religiosa não é mais necessária. Isso é demonstrado com mensagens do tipo 'eu não me importo com o islã, vou fazer minha jihad'. Os radicais preferem vender o EI como um novo paraíso, onde o dinheiro circula livremente", estima uma fonte policial.

Como a organização precisa de combatentes, o envolvimento se dá através do uso do estilo dos videogames e se inspira no famoso "Call of Duty", multiplicando os vídeos de combates e de execuções sumárias.

As redes sociais se converteram em um instrumento de proselitismo que torna possível dar conselhos práticos para viajar sem provocar suspeitas entre seus familiares e as autoridades.

O primeiro contato físico da maioria dos europeus com um jihadista ocorre depois de ter cruzado a fronteira turca com a Síria.

Este envolvimento virtual, muito discreto, complica o trabalho dos serviços de inteligência.

A criação na França da nova Direção Geral da Segurança Interior (DGSI) tem por objetivo sobretudo o recrutamento de engenheiros para melhorar a detecção na internet destes candidatos e dos recrutadores.

As grandes redes sociais não vigiam, mas encerram as contas que descumprem as condições de utilização, especialmente no caso de incitação à violência.

Então começa o jogo de gato e rato, que consiste em reabrir a conta com outra identidade, que será novamente cancelada.

No dia 24 de setembro, uma reunião da cúpula do Conselho de Segurança da ONU se concentrará na ameaça dos jihadistas estrangeiros que operam na Síria e no Iraque.

Os Estados Unidos esperam que o encontro leve a uma resolução vinculante que fixe um marco legal para evitar os alistamentos.

A Alemanha já se dotou na sexta-feira de armas jurídicas que proíbem a comunicação por texto, imagens ou sons de tudo relacionado ao grupo EI, sobretudo nas redes sociais.

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