A Colômbia vive um duelo histórico neste domingo. Entenda
Em uma das eleições mais polarizadas da sua história, Colômbia definirá quem chefiará o país pelos próximos quatro anos. Saiba o que está em jogo
Gabriela Ruic
Publicado em 17 de junho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 17 de junho de 2018 às 06h00.
São Paulo – A Colômbia chega neste domingo ao segundo turno da disputa presidencial histórica que definirá quem ditará seus rumos daqui em diante.
De um lado, está Ivan Duque, discípulo do ex-presidente Álvaro Uribe (2002 até 2010) e representante da direita. Do outro, Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá (2012 até 2015) e alinhado com a esquerda, sendo esse o primeiro candidato desse espectro a chegar tão longe em uma eleição presidencial no país.
É verdade que os candidatos estão em lados opostos no campo ideológico. No entanto, uma semelhança é inegável: simbolizam o rechaço da população pelo establishment político da Colômbia. E, segundo Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia, esse fato é um oferecimento, também, da brasileira Odebrecht, que se envolveu em escândalos de corrupção que abalaram a confiança no governo de Juan Manuel Santos, na presidência desde 2010.
Abaixo, EXAME compilou alguns pontos essenciais para entender o contexto em que o país se encontra, sem dúvidas um dos momentos políticos mais polarizados da sua história.
O que está acontecendo no país?
A Colômbia irá realizar as primeiras eleições presidenciais desde o acordo de paz com os guerrilheiros das Farc, que colocou fim em um dos conflitos armados mais antigos da América Latina. Neste domingo, 17, acontece o segundo turno, que definirá o presidente que ocupará o posto pelos próximos quatro anos, o tempo de mandato, a partir do dia 6 de agosto.
O país vive um momento delicado, uma vez que Santos deixa a presidência depois de garantir feitos importantes, porém enfrentando um altíssimo índice de rejeição. Além do acordo que lhe rendeu o Nobel da Paz em 2016, oficializou a entrada da Colômbia no exclusivo “clube dos desenvolvidos” da OCDE (do qual o Brasil não é parte) e na aliança militar mais importante do planeta, a Otan (de novo, sem Brasil).
As conquistas impressionam, mas não são suficientes para aplacar a rejeição que Santos enfrenta a poucas semanas de deixar o poder. No final de abril, mostrou uma pesquisa de opinião do jornal colombiano El Espectador, 80% da população reprovava a sua gestão, enquanto 78% rejeitava sua equipe ministerial. 81% dos colombianos disse acreditar que o país vai mal.
Como foi o 1º turno?
O 1º turno das eleições na Colômbia aconteceu em 27 de maio de 2018 e contou com a participação de 52% do eleitorado, que é de 36 milhões de pessoas, e foi disputado por sete candidatos. Duque e Petro se consagraram os dois candidatos preferidos, com 39,15% e 25,08% dos votos, respectivamente.
Quem são os presidenciáveis?
Duque tem 41 anos e a chancela de Uribe, um ex-presidente eleito por duas vezes ainda no 1º turno e o senador que registrou o maior número de votos já visto na Colômbia, o que lhe confere uma vantagem que pode explicar a dianteira nas pesquisas de opinião até o momento.
Candidato da coalizão conservadora liderada pelo Centro Democrático, é advogado, estudou nos Estados Unidos e trabalhou por anos no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Entrou na política recentemente, depois de eleito senador em 2014.
É o candidato favorito da ala conservadora e cristã, opositor ferrenho da legalização das drogas e do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Petro, por sua vez, tem 58 anos, é da coligação “Colômbia Humana” e registra uma ampla experiência na vida pública. Foi prefeito de Bogotá, mas destituído do cargo no ano seguinte da sua eleição depois de tentar mudar o esquema da coleta de lixo, que deixaria de ser realizado por empresas e passaria para uma concessionária do governo.
Leitor do escritor colombiano e militante de esquerda, Gabriel García Marquez, Petro participou do grupo guerrilheiro M-19 (Movimento 19 de Abril). Se formou economista, estudou Desenvolvimento e Meio Ambiente na Bélgica e foi parte da comissão que redigiu a constituição do país, em vigor desde 1991.
O ex-guerrilheiro é particularmente popular entre os eleitores mais jovens por suas posturas progressistas, especialmente no campo das liberdades individuais e igualdade social.
O que defendem?
Um dos temas centrais da eleição 2018 na Colômbia é justamente o acordo de paz firmado com as Farc em 2016. Neste ponto, Duque e Petro discordam profundamente: enquanto o primeiro defende uma revisão do pacto, o segundo quer garantir que seus termos sejam seguidos, inclusive tocando as reformas que trouxe à baila, como no campo, na saúde e educação.
Outro ponto em debate no país são as drogas. A Colômbia é um dos maiores produtores de cocaína do mundo e a discussão em torno da possível legalização das drogas está longe de um consenso.
Duque é contra essa ideia e quer, inclusive, abolir uma lei de 2009 que permitia o porte de substâncias até certa dose. Petro, por sua vez, quer atuar junto aos camponeses, fornecendo benefícios para que substituam os cultivos de coca, por exemplo.
Na economia, Duque se mostrou o candidato favorito do mercado por sua postura liberal, a favor de investimentos privados e do Estado mínimo. Quer, especificamente, baixar os impostos para as empresas e impulsionar os setores da mineração e do petróleo, setores chave para as taxas de crescimento da Colômbia.
Já Petro deseja explorar alternativas a esses setores em razão das mudanças climáticas, especialmente focando na transição da energia gerada por fontes fósseis pela solar.
Como estão as pesquisas de opinião?
Desde o último dia 11 de junho, a divulgação de pesquisas de opinião está proibida. A mais recente delas, publicada pelo El Espectador no último dia 10, colocava Duque na dianteira, com 52,5% da preferência dos eleitores, enquanto Petro registrava 36% das intenções de voto. Cerca de 11,5% dos participantes da sondagem se posicionaram com votos em branco.
Historicamente, a Colômbia sempre teve o azar de ver suas eleições presidenciais caírem durante alguma edição da Copa do Mundo, que acontece exatamente na mesma janela de quatro em quatro anos que os pleitos. Em 2018, contudo, a população pode se concentrar em torcer apenas pelo seu candidato favorito: o país estreia no torneio só na próxima terça, contra o Japão.