2016 pode ser ano mais quente da história — e isso não é nada bom
O aquecimento do Planeta mais parece um "déjà vu infernal" com custos humanos e econômicos cada vez maiores
Vanessa Barbosa
Publicado em 16 de novembro de 2016 às 14h52.
São Paulo - Mais um ano se aproxima do fim e mais um recorde inglório está próximo de ser quebrado: 2016 caminha para se tornar o ano mais quente já registrado, com temperaturas globais ainda mais altas do que as temperaturas recordes em 2015.
Dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial (OMM) mostram que as temperaturas entre os meses de janeiro a setembro de 2016 foram aproximadamente 1,2 graus Celsius (ºC) acima dos níveis pré-industriais e 0,88 °C acima da média para o período de referência 1961-1990.
Segundo a OMM, as temperaturas subiram com mais intensidade nos primeiros meses do ano devido ao evento El Niño, caracterizado pelo aquecimento acima da média das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical (próximo à linha do Equador), com impactos para todo o clima do planeta.
O calor oceânico contribuiu para oaumento do nível do mar acima da média e para o branqueamento dos recifes de corais. Só na Grande Barreira de Corais foi relatada uma mortalidade de coral de até 50%.
Déjà vu infernal?
Os dados disponíveis sobre o mês de outubro indicam que as temperaturas seguem altas. Se a previsão para 2016 se concretizar, isso fará com que 16 dos 17 anos mais quentes da história tenham sido registrados neste século (1998 foi o outro ano mais quente).
Os indicadores de mudança climática a longo prazo também estão sendo quebrados. Concentrações dos principais gases de efeito estufa na atmosfera continuam a aumentar ; o gelo marinho do Ártico manteve-se em níveis muito baixos, especialmente durante o início de 2016 e o período de congelamento de outubro, e houve um derretimento significativo e muito precoce da camada de gelo da Groenlândia.
Ao longo do ano, o clima extremo levou a consideráveis perdas socioeconômicas em todas as regiões do mundo. O mais significativo, em termos de baixas, foi o furacão Matthew em outubro, a pior emergência humanitária do Haiti desde o terremoto de 2010.
De acordo com números do governo haitiano do início de novembro, a passagem do furacão causou 546 mortes e 438 feridos.
A bacia do Yangtze na China teve suas inundações de verão mais significativas desde 1999, matando 310 pessoas e causando cerca de US$ 14 bilhões em danos.
Inundações e deslizamentos de terra no Sri Lanka em meados de maio deixaram mais de 200 pessoas mortas ou desaparecidas, e deslocou várias centenas de milhares.
Consequências humanitárias
Claramente, as mudanças climáticas têm potencial de agravar a pressão social, humanitária e ambiental.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, espera-se que a migração populacional aumente em todo o mundo como resultado de mais catástrofes relacionadas com o tempo, conflitos por recursos mais escassos e devido ao aumento do nível do mar, que tornará zonas costeiras e baixas inabitáveis.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, 2015 registrou 19,2 milhões de novos deslocamentos associados a riscos climáticos, hídricos e geofísicos em 113 países, mais que o dobro do número de deslocamentos por conflitos e violência.
A OMM publicou a declaração provisória sobre o clima de 2016 nesta semana para informar os líderes reunidos na reunião climática COP22, que está ocorrendo em Marrakesh, no Marrocos. A declaração final será publicada no começo de 2017.