10 dados reveladores sobre assassinos em massa
Pela primeira vez, um estudo mapeia ataques em todo o mundo para desvendar perfil dos criminosos. Separamos os dados mais surpreendentes que você precisa saber
Maurício Grego
Publicado em 13 de junho de 2016 às 10h49.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h33.
São Paulo - Infelizmente, já virou rotina nos noticiários internacionais imagens de jovens que abrem fogo em escolas, escritórios, shoppings e boates, e tiram a vida de até dezenas de pessoas. Mais do que pelo elevado número de vítimas, os ataques assustam por sua complexidade e por não ter hora nem lugar para acontecer. Na madrugada do último domingo (12), o assassino abriu fogo em uma boate gay em Orlando (EUA) e, além de matar 49 pessoas, causou ferimentos em outras 53. Depois disso, ele morreu em troca de tiros com a polícia. Um estudo divulgado em 2015 pelo professor de Justiça Criminal da Universidade do Alabama, Adam Lankford, mapeou 292 ataques dos chamados atiradores públicos em massa em todo o mundo, entre 1966 e 2012, e revelou informações valiosas sobre esse tipo de crime, que não é exclusividade dos norte-americanos . Qual é o perfil dos atiradores? Onde ataques como esses têm mais chances de explodir? Quais são os países com mais casos e que características eles têm em comum? E o mais importante: o que fazer para evitar mais tragédias? Veja na galeria algumas descobertas reveladoras sobre os atiradores em massa. Texto atualizado às 10h46.
Os Estados Unidos realmente são um fenômeno quando se trata de ataques públicos em massa. Apesar de terem menos de 5% da população mundial, cerca de 31% de todos os crimes do tipo nos últimos 40 anos aconteceram dentro de suas fronteiras. Lankford atribui o grande número de ocorrências a três fatores principais: a cultura armamentista do país, as tensões sociais e uma frustrante busca pela fama. Ele ressalta que “81% dos estudantes norte-americanos dizem que pretendem conquistar um ‘grande trabalho’ até os 25 anos, 59% imaginam-se melhores financeiramente do que seus pais e 26% esperam ser famosos em breve. A maior parte deles infelizmente não vai atingir essas metas”. Após a desilusão de não conquistar o tão esperado sucesso, alguns desses atiradores veem nos ataques o único - e talvez mais fácil - caminho para alcançar a fama.
Quando se trata de assassinatos em massa, o sexo masculino é ainda mais hegemônico do que em outros crimes. Segundo Lankford, tanto homens quanto mulheres sofrem pressão social, mas são eles que reagem com mais violência. “Eles percebem essas tensões como uma ameaça a sua masculinidade e a sua auto-estima, e querem recuperar o poder que acreditam ser deles por direito”, destaca. O único caso de mulher registrado pelo estudo ocorreu na Califórnia, em janeiro de 2006. Na ocasião, a funcionária dos correios locais Jennifer San Marco, de 44 anos, matou um vizinho e seis ex-colegas da unidade de onde fora demitida. Em seguida, tirou sua própria vida.
Embora a média de vítimas por ataque em massa no mundo seja de 8,23, não existe um limite para os atiradores que, em 55% dos casos, só interrompem os disparos quando perdem a própria vida - seja por suicídio, seja por uma intervenção policial. Em julho de 2011, o empresário norueguês Anders Behring Breivik entrou vestido como policial em um acampamento de jovens do Partido dos Trabalhadores na ilha de Utoya, na Noruega, e matou 69 pessoas. Algumas horas antes, o mesmo atirador havia detonado uma bomba perto da sede do governo e feito mais 8 vítimas. Um relatório divulgado por psiquiatras em novembro do mesmo ano diagnosticou o suspeito com “insanidade mental”, o que aventou a possibilidade de internação em uma clínica. Mesmo assim, o suspeito foi condenado por unanimidade a 21 anos de prisão, sentença contra a qual nunca recorreu. Como o conceito de assassinato público em massa leva em conta apenas as mortes por disparos, apenas 69 das 77 vítimas do massacre norueguês foram contabilizadas para a pesquisa de Lankford.
Há uma série de critérios para que um criminoso seja considerado um atirador em massa. Segundo o FBI, o assassino precisa usar ao menos uma arma, abrir fogo em um lugar público e matar um mínimo de quatro vítimas. Além disso, o suspeito não pode estar vinculado a gangues ou facções, tentativas de roubo, sequestros ou brigas familiares. As vítimas desse tipo de ataque são aleatórias e raramente têm uma relação pessoal direta com o infrator, o que torna o o crime quase tão imprevisível e danoso quanto atentados terroristas. “É possível que uma pessoa limite seus riscos pessoais de muitas formas no dia a dia, mas quase todo mundo vai para a escola, para o trabalho e para lugares públicos”, lembra Lankford.
Os lugares onde o atiradores mais atacam no mundo são prédios comerciais (20% dos casos), ambientes militares (17%) e escolas (11%). Em geral, os ataques acontecem em locais que representam “barreiras sociais” para eles, explica Lankford. No entanto, o quadro muda quando os Estados Unidos são analisados separadamente. Os agressores no país atacam duas vezes mais em escolas e cinco vezes mais em escritórios do que no resto do mundo. Já nos outros países, as chances dos ataques acontecerem em unidades do Exército é 10 vezes maior. “A natureza das tensões dos Estados Unidos ajuda a explicar essa diferença. O país coloca mais pressão em seus cidadãos para que sejam bem sucedidos profissionalmente e financeiramente do que outros países”, defende.
Engana-se quem pensa que pessoas que abrem fogo em escolas, escritórios ou quartéis militares sejam exclusividade dos Estados Unidos. De acordo com a pesquisa, outros quatro países tiveram ao menos 10 casos de atiradores em massa desde 1966. Ocupando a segunda posição, as Filipinas têm 18 casos (6% do total). Em seguida, aparecem os russos com 15 casos (5%). Em quarto lugar, o Iêmen foi vítima de 11 casos (4%). E, completando a lista dos top-5, a França foi palco de mais 10 massacres (3%).
Uma das principais conclusões do estudo, afirma Lankford, é a de que o número de assassinatos em massa em um país está vinculado a suas taxas de armamento. Todos os primeiros cinco países do Smalls Arms Survey - índice internacional de países com mais armas de fogo - estão também no top 15 de casos de ataques em massa. Os Estados Unidos, com impressionantes 88,8 armas para cada 100 habitantes e primeiro em ambos os rankings, não são um caso isolado. Na outra ponta dos indicadores, o pesquisador destaca o caso da Austrália como exemplo a ser seguido. “O país sofreu numerosos ataques entre 1987 e 1996. Depois que adotou leis de controle mais rígidas para armas de fogo, não foi registrado mais nenhum caso desse tipo”. Contra o argumento de que, em caso de proibição do porte, os infratores conseguiriam ter acesso a armas por meios ilegais, o pesquisador defende que o perfil do atirador em massa é o de uma pessoa “tipicamente pouco conectada” com facções criminosas. “Muitos são tão bloqueados e têm uma saúde mental tão fraca que não conseguiriam levar adiante as relações necessárias para adquirir armas de fogo por outros métodos”.
A cultura armamentista norte-americana também se manifesta na quantidade de armas usadas pelos atiradores. Segundo o estudo, 51% dos ataques no país são feitos com mais de uma arma, ante fatia de apenas 22% nos outros países. Apesar disso, a média de vítimas por ataque nos Estados Unidos (6,87 pessoas por caso) está abaixo da média dos outros países (8,83), fato que Lankford atribui ao preparo das forças de segurança do país. “Os departamentos de polícia dos Estados Unidos são fortemente equipados e respondem rapidamente a situações com alto nível de perigo”.
A relação entre crimes comuns de homicídio e assassinatos em massa é contraintuitiva. Em alguns dos países onde as taxas de homicídio são mais altas, como Venezuela, Nigéria e México, o número de casos desses tipo é extremamente baixo. O que explica esse quadro, para Lankford, é o diferencial de perfil dos assassinos em massa. “Esse atirador tem normalmente problemas mentais ou é suicida, enquanto a maioria dos agressores normais não é”. Além disso, assassinos em massa costumam planejar seus crimes, enquanto os outros cometem crimes passionais. Ao contrário do que ocorre com assassinos em massa, a maioria dos outros homicidas não ataca estranhos a menos que eles tenham dinheiro ou objetos de valor para serem roubados.
Além de restringir o livre acesso a armas de fogo, Lankford acredita que estudar o comportamento desses indivíduos que atacam “espontaneamente” seja outro caminho para evitar tragédias. “Cerca de 80% dos agressores contam para pelo menos uma pessoa sobre seus problemas e planos antes de abrirem fogo”, considera. “Quando pessoas postam seus pensamentos [nas redes sociais] no meio da noite, depois de terem bebido alguns drinques, não é apenas preconceitos que elas revelam. Elas também expõem a profundidade de sua dor, os sintomas de sua doença mental, as tensões que ameaçam consumi-las, ou os sinais de que cometerão um crime horrível”.
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