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Se eleito, Trump pode interromper a recuperação da Bovespa?

Para alguns especialistas, a resposta é sim. Índice foi impactado a cada notícia que favorecia o candidato republicano

O candidato republicano, Donald Trump: impacto no mercado brasileiro (Carlo Allegri/Reuters Brazil)

O candidato republicano, Donald Trump: impacto no mercado brasileiro (Carlo Allegri/Reuters Brazil)

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Reuters

Publicado em 8 de novembro de 2016 às 08h33.

São Paulo - A incerteza sobre a condução da maior economia do mundo no caso de uma eventual vitória do republicano Donald Trump deve causar um estresse inicial no mercado acionário brasileiro, tirando o Ibovespa temporariamente do rumo de recuperação, afirmam especialistas consultados pela Reuters.

"É um choque de incerteza considerável (a eventual vitória de Trump) e a incerteza afugenta investidores no primeiro momento", disse o estrategista-chefe global da XP Securities, Daniel Cunha, sobre o pleito marcado para terça-feira.

O Ibovespa subiu quase 50 por cento de janeiro a outubro e apenas nos três primeiros pregões de novembro o índice perdeu 5,1 por cento, acompanhando a aversão a risco nos mercados globais diante do avanço do republicano nas pesquisas eleitorais.

Em Wall Street, o S&P 500 caiu por nove sessões seguidas até sexta-feira da semana passada, a maior sequência de baixas em mais de 35 anos. Nesta sessão, o índice referência do mercado acionário norte-americano mostrava recuperação, com a melhora nas perspectivas para a candidata democrata após o FBI informar que não iria avançar com ações criminais no caso relacionado ao uso de seus emails.

Para o diretor de gestão de recursos da Mapfre Investimentos, Carlos Eduardo Eichhorn, o susto inicial com a eventual vitória de Trump poderia levar o índice a perder mais cerca de 6 por cento, levando o índice de volta ao patamar dos 57 mil pontos ante 63.700 nesta segunda-feira.

Empresas exportadoras com mais exposição aos Estados Unidos devem ser as mais afetados inicialmente, embora analistas ainda evitem traçar cenários corporativos específicos, afirmando que a análise individual dependerá não somente do resultado do pleito, mas do cenário que será traçado pelas políticas de Trump.

A incerteza é a palavra central no caso de vitória do republicano, atingindo inclusive as empresas estrangeiras que operam em solo norte-americano e não as que apenas exportam seus produtos aos EUA.

"JBS e Gerdau, por exemplo, têm grande parte de suas operações nos EUA. No caso de uma vitória de Trump não se sabe qual política ele vai querer implementar (para empresas estrangeiras)", disse Cunha, da XP Securities, acrescentando que neste cenário, uma análise mais detalhada será necessária e essas empresas tenderão a mostrar mais volatilidade.

No entanto, embora pessimistas com os efeitos iniciais de uma eventual vitória de Trump, especialistas acreditam que o impacto no Brasil tende a ser limitado e transitório, com o viés de alta da Bovespa voltando em meio às perspectivas de avanço de medidas econômicas no Congresso Nacional, que ajudaram o recente rali.

"A gente pode passar uma semana mal, pode ter uma digestão ruim, mas já para o final do mês de novembro as coisas já se estabilizam e 2017 volta o passo de retomada", disse Cunha, da XP Securities, onde a projeção para o Ibovespa é de 68 mil pontos este ano e 80 mil pontos ao final de 2017.

Além do cenário mais otimista para a situação econômica e política no Brasil, a expectativa de que Trump não consiga de fato adotar uma política extremamente dura e altamente protecionista leva especialistas a ver o impacto de sua eleição como transitório.

Para o economista da corretora Guide Investimentos Ignacio Crespo Rey, é possível que Trump tenha adotado um discurso mais extremo para conseguir votos de uma população insatisfeita com a atual situação econômica do país, mas acabe diminuindo o tom caso vença o pleito.

"Ainda que ele queria aplicar o que defendeu em campanha, ele vai ter o Congresso no caminho, que não vai deixar ele ir adiante", completou o economista da Guide, que vê o Ibovespa encerrando o ano entre 64 mil e 66 mil pontos.

Outro fator que limitaria o impacto em outros mercados, incluindo o Brasil, é a expectativa de que uma vitória de Trump levaria o Federal Reserve a adotar uma normalização da política monetária ainda mais gradual do que vem fazendo até o momento, aumentando o fluxo de recursos para países com retornos mais elevados, como o Brasil.

Já uma vitória da democrata Hillary Clinton traria alívio e tiraria as incertezas causadas por Trump, levando a bolsa paulista de volta ao rumo de altas, na opinião dos especialistas, voltando o foco para o desenrolar das políticas econômicas locais e para os resultados das empresas.

Pesquisas de opinião divulgadas nesta segunda-feira, organizadas por ABC/Washington Post, CBS News e Fox News, indicam uma vantagem de três a quatro pontos para Hillary, enquanto levantamento da Universidade Monmouth mostra a democrata à frente com seis pontos.

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