Mercados

Pela primeira vez, Bolsonaro enfrenta resistência dos mercados

Ao descartar a privatização da Eletrobras o candidato do PSL deixou os investidores receosos

Jair Bolsonaro: os mercados não demoraram a reagir a fala do candidato (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Jair Bolsonaro: os mercados não demoraram a reagir a fala do candidato (Fernando Frazão/Agência Brasil)

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AFP

Publicado em 11 de outubro de 2018 às 06h35.

Última atualização em 11 de outubro de 2018 às 07h42.

O candidato da extrema direita Jair Bolsonaro, favorito nas pesquisas para o segundo turno, enfrentou pela primeira vez a resistência dos mercados, depois de recuar em algumas posições em seu plano de reformas liberais.

Seu adversário Fernando Haddad, por sua vez, conseguiu apenas um "apoio crítico" do Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Ciro Gomes, de quem se esperava o principal reforço para encurtar a enorme distância que o ex-capitão Exército conquistou no primeiro turno (46% a 29%).

A pesquisa do Datafolha, a primeira realizada após a votação de domingo, mostrou que essa vantagem só reduziu em um ponto: 58% das intenções de voto são para Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), e 42% para Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT). A pesquisa, com margem de erro de 2 pontos percentuais, foi realizada nesta quarta-feiram com 3.235 eleitores.

Reação na Bolsa

Bolsonaro parece ter jogado um balde de água fria nos mercados, que tinham recebido com euforia sua vitória no primeiro turno, ao descartar a privatização da Eletrobras e deixar no ar a reforma previdenciária, considerada essencial por os investidores.

O candidato do Partido Social Liberal (PSL) advertiu, ainda, que poderá limitar a penetração de capitais chineses.

"A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil. Você vai deixar o Brasil na mão do chinês?", disse Bolsonaro em entrevista à rede Bandeirantes.

Os mercados não demoraram a reagir. A Bolsa de São Paulo caiu 2,8% nesta quarta-feira e o real se desvalorizou em relação ao dólar, fechando em 3,764 reais, acima dos 3,712 da véspera.

As ações da Eletrobras caíram 9% (chegaram a perder mais de 13% durante a sessão) e as de Petrobras, 2,87%.

A situação ficou ainda mais conturbada com a notícia de que o Ministério Público Federal abriu uma investigação contra seu assessor econômico, o neoliberal Paulo Guedes, por suspeitas de fraude com fundos de pensão de empresas estatais.

"Apoio crítico"

O PDT de Ciro Gomes, que obteve 12,47% no primeiro turno, declarou seu "apoio crítico" à candidatura de Haddad para "evitar a vitória das forças mais reacionárias e atrasadas do Brasil e a derrocada da democracia".

"Não faremos nenhuma reivindicação. Porisso que a gente fala que é ovoto crítico. Évoto sem participação emcampanha", disse à imprensa o presidente do PDT, Carlos Lupi.

Haddad até agora recebeu apoio do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Na corrida para conquistar o centro, Haddad continuou com sua operação de se dissociar da imagem de Lula. Depois de deixar claro que não visitará mais o ex-presidente na prisão, sua campanha modificou nesta quarta as cores de seu logotipo, abandonando o tradicional vermelho do partido para adotar as cores da bandeira do Brasil.

O grande receio de Haddad é não poder debater com Bolsonaro, que não teve alta médica para se dedicar aos compromissos de campanha, como os debates, mas que tem concedido várias entrevistas televisionadas.

Haddad garante que está disposto a tudo para debater as propostas de governo.

"Eu vou na enfermaria que ele quiser, não tem problema, os brasileiros precisam saber a verdade. Se tem fake news, vamos tratar isso como adultos. Eu não tenho problema com nenhum tema, não estou fazendo criancice na internet, contando com a boa fé das pessoas que são crédulas", afirmou Haddad depois de ficar sabendo que o ex-capitão do Exército não comparecerá ao debate previsto para esta quinta-feira.

Violência

A polarização da campanha ficou trágica no domingo, quando um respeitado mestre de capoeira morreu vítima de facadas depois de ter expressado seu voto no candidato do PT Fernando Haddad.

O assassinato causou indignação e artistas, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, prestaram homenagens. Bolsonaro, que na terça-feira tratou o caso com pouca ênfase, voltou a se manifestar.

"Em entrevista, lamentei e pedi para que eleitores não pratiquem violência. Os jornais publicaram apenas uma fala isolada para manipular a opinião pública. Esqueceram que quem levou uma facada por motivações políticas fui eu", afirmou nesta quarta-feira pelo Twitter a seus 1,72 milhão de seguidores.

A cantora de funk transexual Jullyanna Barbosa, de 41 anos, denunciou ter sido agredida por um grupo de homens com barras de ferro e socos quando voltava para a casa na manhã de sábado em Queimados, no Rio de Janeiro. Ela conta que antes de ser agredida, os homens gritaram: "Olha o tamanho do viado! Bolsonaro tem que ganhar para tirar esses lixos da rua. Deve estar com Aids".

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