ARGENTINA: o anúncio se deu no 25º aniversário do ataque a bomba contra um centro comunitário judeu, a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), em Buenos Aires, que matou 85 pessoas. / REUTERS | Marcos Brindicci (Marcos Brindicci/Reuters)
Tais Laporta
Publicado em 12 de agosto de 2019 às 15h10.
Última atualização em 12 de agosto de 2019 às 16h12.
O mercado argentino vive um dia de pânico após a derrota do liberal Mauricio Macri para o kirchnerista Alberto Fernández nas eleições primárias de domingo para a eleição presidencial de outubro.
O Merval, um dos principais índices da Bolsa de Comércio de Buenos Aires, operava em forte queda de 34,14%, aos 29.195,39 pontos, perto das 14h30 de Brasília nesta segunda-feira (12). O fundo que reproduz o índice MSCI Argentina, o ARGT, abriu em baixa de 27%.
As ações argentinas estavam entre as piores perdas no Nasdaq, com as ADRs (recibos de ações negociados em NY) também despencando. O papel da estatal petroleira YPF cedeu acima de 30%. A siderúrgica Ternium recuou acima de 15%, ao redor de 15 dólares.
O panorama das urnas também chegou ao câmbio. O peso argentino chegou a cair 30,4% frente ao dólar, com a moeda americana negociada a 59 pesos. Se fechar neste patamar, será a maior desvalorização desde o fim do controle cambial no país, em dezembro de 2015, e a segunda maior desde 2002.
Para tentar conter o dólar, o Banco Central da Argentina subiu os juros, de 63,7% ao ano na sexta-feira para 74% ao ano, além de vender US$ 50 milhões em reservas para tentar acalmar o dólar. O risco-país da Argentina atingiu 9,05 pontos percentuais, alta de 0,33 ponto percentual. Como comparação, o do Brasil é de cerca de 1,30 ponto. Leilões de dólares nos últimos meses foram realizados usando fundos do Tesouro.
Os títulos argentinos também sofreram. Quedas de 18 a 20 centavos no título referencial da Argentina de 10 anos os levou a serem negociados em torno de 60 centavos ou menos. Dados da Refinitiv mostraram que as ações, títulos e peso argentinos não registram esse tipo de queda simultânea desde a crise econômica do país e default da dívida em 2001.
O mercado mostrou grande nervosismo após a contundente derrota do presidente da Argentina, Mauricio Macri, para o peronismo nas eleições primárias realizadas na véspera no país. O resultado põe em xeque a reeleição do mandatário no pleito geral de outubro e coloca a oposição como favorita na disputa.
Com o resultado, os eleitores argentinos deixaram evidente que rejeitam com ênfase as políticas econômicas austeras de Macri. A coalizão que apoia o candidato de oposição Alberto Fernández, cuja companheira de chapa é a ex-presidente Cristina Kirchner, liderava com 47,3% dos votos, uma vantagem de 15 pontos percentuais.
O receio dos investidores é que o país abandone as políticas de ajuste fiscal e liberdade econômica de Macri, voltando às medidas populistas dos governos de Nestor e Cristina Kirchner. As preocupações cresceram após Fernández afirmar que pretende ampliar benefícios e investimentos em escolas com os recursos do pagamento de juros da dívida argentina.
A vitória dos peronistas Fernández e Kirchner "abre caminho para o retorno do populismo de esquerda que muitos investidores temem", disse a consultoria Capital Economics em nota.
Em relatório enviado a clientes, analistas da Rico Investimentos afirmaram que o mercado “odiou” o resultado porque “o governo de Cristina Kirchner adotou um modelo econômico que praticamente afundou a economia para a crise que ainda se encontra, nacionalizando empresas, manipulando dados oficiais e provocando repulsa aos investidores”.
Macri assumiu o poder em 2015 com promessas de recuperar o país através de uma onda de liberalização. Mas a recuperação prometida não se materializou e a Argentina está em recessão com inflação de mais de 55%. Uma forte crise financeira no ano passado afetou o peso e forçou Macri a tomar um empréstimo junto ao FMI em troca da promessa de equilibrar o déficit argentino.
O dólar subiu fortemente ante o real nesta segunda, chegando a superar os 4 reais logo após a abertura dos negócios, em meio à aversão ao risco ligada à disputa EUA-China e às perspectivas de que o presidente argentino, Mauricio Macri, não conseguirá se reeleger nas eleições de outubro.
O principal índice da ações brasileiro, o Ibovespa, iniciou a semana com forte queda, também diante do cenário internacional turbulento.
“Como também somos um país emergente, acabamos entrando no mesmo pacote de países com economia fragilizada pelo olhar dos investidores internacionais. E sofremos em conjunto, assim como o México e a África do Sul, que também enfrentam perdas”, afirmou em relatório o estrategista-chefe da consultoria independente Levante Ideias de Investimento, Rafael Bevilacqua.