Real: moeda tem o pior e o mais volátil desempenho do mundo (Priscila Zambotto/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 25 de junho de 2020 às 07h49.
A moeda com o pior desempenho e mais volátil do mundo provavelmente permanecerá exatamente a mesma no resto do ano: fraca e volátil.
Dólar subiu 22% no acumulado do ano com o real afetado por uma série interminável de escândalos políticos, aumento dos níveis de endividamento e nível de carry baixo.
E, embora o real pareça barato, olhando para a taxa de câmbio efetiva - a taxa ajustada pela inflação em relação às moedas dos principais parceiros comerciais do Brasil - não se espera uma recuperação tão cedo. Moeda tem se mantido desvalorizada desde o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff há cinco anos, e o cenário econômico não está melhorando.
A diferença entre as taxas de câmbio nominal e efetiva permaneceu pouco alterada, mesmo com o colapso do real neste ano devido à pandemia do coronavírus impedindo a economia de se beneficiar do impacto fiscal da reforma da Previdência aprovada em outubro de 2019.
“Somos pessimistas em relação ao real no médio prazo, porque a situação fiscal após o Covid-19 será muito mais desafiadora”, disse Italo Lombardi, estrategista sênior de mercado emergente do Credit Agricole, em Nova York, que espera que a relação dívida / PIB suba 15 pontos percentuais este ano. “Nesse contexto, os ganhos obtidos com a reforma da Previdência são significativamente reduzidos e as perspectivas fiscais tornam-se preocupantes novamente.”
O Ministério da Economia espera que a proporção da dívida suba para 93,5% do PIB até o final do ano, com o aumento dos gastos para enfrentar as conseqüências econômicas e de saúde da pandemia. O salto ante o nível de 79,7% no final de abril torna os fundamentos tão pouco atraentes que é difícil atrair o capital estrangeiro necessário para fortalecer o real.
A proposta de elevar temporariamente o limite de gastos fiscais para combater a pandemia de coronavírus torna a situação ainda mais preocupante, pois poderia desencadear um salto nas despesas antes das eleições municipais deste ano.
Houve uma época em que o Brasil ofereceu um os patamares mais atraentes de carry do mundo, reforçando a moeda. Esses tempos se foram.
As taxas de juros recuaram constantemente por cinco anos, à medida que o banco central intensifica os estímulos monetários em meio ao crescimento econômico cada vez menor. As taxas caíram tanto que agora é barato apostar contra o real ou usá-lo como proteção para outros investimentos, como ações.
Ninguém está prevendo um aumento nas taxas no curto prazo devido aos efeitos deflacionários da crise do coronavírus. E se as taxas voltarem, é mais provável que seja devido aos riscos de um déficit fiscal crescente do que ao crescimento econômico e à inflação mais fortes do que o esperado.
O real melhorou em relação ao nível recorde de baixa de meados de maio, com o investidor aprendendo a conviver com a crise política quase perpétua. Mesmo assim, a história indica que a relativa calma do mercado é facilmente quebrada. Só precisa de uma faísca
Potenciais catalisadores incluem o relacionamento tenso do presidente Jair Bolsonaro com o STF, protestos semanais exigindo intervenção militar e investigações associadas aos filhos de Bolsonaro.
Além disso, a abordagem descontraída e não ortodoxa do presidente da pandemia criou tensões com os governadores. O Brasil se tornou um epicentro global para o coronavírus, com mais casos do que qualquer outro país, exceto os EUA. No entanto, as cidades estão reabrindo e uma segunda onda do vírus é outro risco que ajuda a tornar os ativos brasileiros uma escolha apenas para os corajosos.
“O Brasil está em uma posição desafiadora para atrair investidores internacionais, pois oferece baixas taxas de juros, baixo crescimento e alto risco político”, afirmou Lombardi.