Os 10 "cisnes cinzas" que podem sacudir 2018
Dinheiro jogado de helicópteros e guerra por procuração no Oriente Médio estão entre os "eventos improváveis mas de impacto" listados pelo Nomura
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de dezembro de 2017 às 07h00.
Última atualização em 28 de dezembro de 2017 às 07h00.
São Paulo - O conceito de “cisnes negros” foi criado por Nassim Nicholas Taleb para definir eventos imprevisíveis mas que geram fortes consequências, como o 11 de setembro.
Como eles são por definição difíceis de prever, o banco japonês Nomura decidiu focar em "cisnes cinzas" no seu relatório para 2018:
"São eventos improváveis mas de impacto que estão fora do cenário-base normal e dos cenários de risco da comunidade de analistas", explica o texto.
Veja quais são os 10 cisnes cinzas que estão no radar do Nomura para o ano que vem:
Choque #1: O que os filmes nos dizem sobre 2018
Os filmes sobre o futuro erram muito, mas às vezes podem ser prescientes: o primeiro presidente negro americano, por exemplo, aparece no filme "O Presidente Negro", de 1972.
Por isso, o Nomura escolheu três filmes que se passam em 2018 para refletir sobre possíveis perigos.
Eles são "O Exterminador do Futuro: A Salvação" (de 2009, sobre robôs em guerra com humanos), "Rollerball - Os Gladiadores do Futuro" (de 1975, sobre um governo que usa jogos violentos para distrair a população) e "Deu a Louca nos Nazis" (de 2012, sobre nazistas escondidos na Lua que voltam para dominar a Terra).
Choque #2: A "Amazonificação" da inflação
Um estudo recente de Kevin Kliesen, economista do Federal Reserve Bank em St. Louis, mostra como eficiência e controle de custos estão entre os fatores que permitem que a Amazon tenha preços tão baixos.
Para competir, outras varejistas online fazem o mesmo. Some a isso o aumento da participação do e-commerce como um todo e fenômenos como automação, terceirização e flexibilidade do mercado de trabalho.
O resultado seria a "Amazonificação da inflação", ou uma desaceleração dos preços causada pela tecnologia. O fenômeno não é unanimidade entre economistas.
Choque #3: As metas de inflação em 2% saem de moda
Há controvérsia entre as razões, mas uma coisa é certa: Europa e Estados Unidos têm falhado constantemente em atingir suas metas de inflação.
"Todo o sentido de ter metas de inflação é gerar confiança em onde a inflação estará no futuro. Erros frequentes e consistentemente em uma direção vão erodir esta confiança, e em algum ponto pode ser melhor admitir a derrota e mudar para uma base menor", diz o texto do Nomura.
Choque #4: Um Estados Unidos da Europa
A Europa pode caminhar para uma maior integração por três razões. Uma delas é a perspectiva de calmaria política: se a Alemanha conseguir formar um governo e não houver surpresa na eleição italiana (entre março e maio), o calendário adiante está relativamente tranquilo.
O segundo motivo seria a superação do choque do Brexit, fortalecendo as relações já existentes, e o terceiro é que a Europa teve seu melhor ano em uma década e é melhor "consertar o teto com o sol brilhando".
Choque #5: Outra virada política no Reino Unido
2017 foi o ano em que a primeira-ministra britânica Theresa May convocou uma eleição para consolidar seu apoio e acabou quase perdendo o posto. 2018 pode ser o ano em que seu governo cai de vez.
As negociações dos termos de saída da União Europeia continuam apesar da maioria dos britânicos já considerar que a decisão foi um erro.
Seria possível fazer um referendo para cancelar o Brexit ou para aprovar (ou não) um acordo final? Veremos.
Choque #6: Bitcoin começa a movimentar outros mercados
O bitcoin foi um dos assuntos do ano, com picos de valorização e a estreia da negociação de contratos futuros na bolsa de Chicago.
O Nomura calcula que o valor de mercado de todas as criptomoedas já chegue a quase meio trilhão de dólares. Chega uma hora em que essa escala (e risco) passa a bater em outros ativos e mercados.
Um exemplo: energia, com estimativas de que só a mineração do bitcoin já usa o equivalente em eletricidade de toda a Dinamarca.
Choque #7: O declínio do mercado imobiliário = cortes de juros?
Os últimos anos foram de valorização forte dos mercados imobiliários de países como Austrália e Canadá, impulsionadas por crescimento econômico, juros baixos e dinheiro fluindo globalmente. A reação veio com aumento da oferta e aperto da regulação e dos financiamentos.
Mas se o processo for revertido rápido demais, o risco é que a economia sofra e que os bancos centrais se vejam obrigados a interromper as altas de juros ou mesmo voltar a fazer cortes.
Choque #8: Uma guerra por procuração no Oriente Médio
"Em anos recentes, os conflitos no Oriente Médio tenderam a começar com um estouro, mas depois assumiram um caráter de 'baixa intensidade'", diz o Nomura, apostando neste cenário-base para 2018.
Isso pode mudar, por exemplo, se houver uma reação forte do Hamas na Palestina e do Hezbollah no Líbano contra a decisão de Donald Trump de colocar a embaixada americana em Jerusalém.
Israel poderia decidir revidar além de suas fronteiras e haveria impacto em cadeia sobre ativos, preço do petróleo e inflação.
Choque #9: "Vá para o helicóptero!”
Um helicóptero jogando cédulas pela janela: a metáfora ilustra a possibilidade de que para estimular a economia, os bancos centrais poderiam dar dinheiro diretamente para os cidadãos gastarem como quiser.
A ideia saiu de moda quando a recuperação econômica tomou força, mas o Nomura acredita que o Japão pode chegar a este extremo se o presidente Shinzo Abe decidir colocar um nome novo no banco central do país ao invés de renovar o mandato do presidente atual.
Choque #10: Um estouro da alavancagem oculta?
O banco central americano passou anos com uma postura de acomodação, e o risco é que ao aumentar juros e drenar liquidez do sistema, ele acabe expondo quem está alavancado demais.
Alguns candidatos: bancos regionais com exposição ao mercado imobiliário comercial e os setores de empréstimos subprime para automóveis e de empréstimos estudantis.