Estoque alto e economia retraem mercado imobiliário
"Como não sabemos qual vai ser a política econômica do suposto novo governo, não temos clareza ao investir", explicou executivo da Eztec
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2014 às 12h41.
São Paulo - Incertezas econômicas, estoques elevados e o desaquecimento na demanda frearam os negócios das incorporadoras ao longo do terceiro trimestre, provocando redução nas vendas de imóveis e dos lançamentos de novos projetos.
Os empreendimentos imobiliários lançados entre julho e setembro totalizaram R$ 2,5 bilhões em valor geral de vendas (VGV), montante 23% menor do que nos mesmos meses do ano passado. Já as vendas contratadas atingiram R$ 3,3 bilhões, redução de 10% no trimestre.
O levantamento foi feito pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a partir do relatório operacional divulgado por oito das maiores companhias do país listadas na bolsa ( Cyrela , Gafisa , MRV , Direcional , EZtec , Even , Helbor e Rodobens ).
Os números de vendas ainda são parciais e devem ser revistos para baixo, pois algumas empresas divulgaram apenas o volume bruto de vendas, sem considerar a quantidade de distratos. Esses detalhes serão conhecidos só no próximo mês, com a divulgação dos balanços completos.
Na avaliação do diretor-financeiro da EZTec, Emílio Fugazza, o ano tem sido muito desafiador para o mercado imobiliário.
Além dos feriados da Copa do Mundo esvaziarem os estandes de vendas em junho e julho, há um quadro eleitoral indefinido, que tira a previsibilidade sobre os rumos econômicos do país e atrapalha o planejamento de longo prazo, essencial tanto para empresas de construção quanto para compradores de imóveis.
"Como não sabemos qual vai ser a política econômica do suposto novo governo, não temos clareza ao investir", explicou o executivo.
O arrefecimento do setor também pode ser explicado por problemas operacionais das próprias incorporadoras, com estoques altos, aponta o analista de construção do banco JP Morgan, Marcelo Motta. "As empresas tiraram o pé do acelerador e adiaram novos projetos para não criar mais estoques", disse.
Motta lembrou que a prioridade das companhias é vender unidades já lançadas e controlar rescisões de vendas. Desde o ano passado, o distrato se tornou um problema de grandes proporções, reflexo do grande volume de obras em fase final.
Os cancelamentos ocorrem no momento da conclusão das obras, quando o cliente que adquiriu a unidade na planta é repassado pela incorporadora para o banco, onde assumirá financiamento para quitar o saldo devedor.
No entanto, muitos clientes não têm o crédito aprovado e são obrigados a abrir mão do imóvel, que retorna ao estoque. Há também os casos de clientes que compraram o imóvel esperando valorização na revenda, mas têm optado por devolvê-lo espontaneamente. Como o preço já não sobe tanto, o negócio deixa de ser atrativo.
No terceiro trimestre, a Gafisa foi a única das oito empresas acima a informar os números de distratos. No seu caso, as rescisões atingiram 43,6% das vendas brutas entre julho e setembro.
No caso da Tenda, sua subsidiária, o patamar foi ainda mais alto: 80,2%. "A Tenda continua a finalizar e entregar seus projetos antigos, mantendo a política de cancelamento de vendas a clientes não elegíveis (ao financiamento bancário)", justificou a companhia, em relatório.
Com a rescisão forçada, a Gafisa busca acelerar a revenda para compradores com condições financeiras melhores.
Outro ponto que contribuiu para a retração do mercado imobiliário foi o enfraquecimento da demanda.
De acordo com Belmiro Quintaes, diretor de atendimento da imobiliária Lopes, os compradores têm levado mais tempo para fechar negócio, à procura de preços atrativos e ofertas especiais. "O cliente tem mais opções e está mais seletivo, então demora mais para definir a compra", disse.
Quintaes acredita que, encerrado o período eleitoral, pode haver melhora das vendas e lançamentos no quarto trimestre, que tradicionalmente é mais forte.
O executivo pondera, no entanto, que a estabilização dos estoques levará muito tempo, pois depende de aumento na velocidade de vendas, que por sua vez está associada à recuperação da economia brasileira.
"Outubro ainda não foi um mês forte para lançamentos e vendas por causa das eleições. O mercado ainda depende das definições políticas", ressaltou.
São Paulo - Incertezas econômicas, estoques elevados e o desaquecimento na demanda frearam os negócios das incorporadoras ao longo do terceiro trimestre, provocando redução nas vendas de imóveis e dos lançamentos de novos projetos.
Os empreendimentos imobiliários lançados entre julho e setembro totalizaram R$ 2,5 bilhões em valor geral de vendas (VGV), montante 23% menor do que nos mesmos meses do ano passado. Já as vendas contratadas atingiram R$ 3,3 bilhões, redução de 10% no trimestre.
O levantamento foi feito pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a partir do relatório operacional divulgado por oito das maiores companhias do país listadas na bolsa ( Cyrela , Gafisa , MRV , Direcional , EZtec , Even , Helbor e Rodobens ).
Os números de vendas ainda são parciais e devem ser revistos para baixo, pois algumas empresas divulgaram apenas o volume bruto de vendas, sem considerar a quantidade de distratos. Esses detalhes serão conhecidos só no próximo mês, com a divulgação dos balanços completos.
Na avaliação do diretor-financeiro da EZTec, Emílio Fugazza, o ano tem sido muito desafiador para o mercado imobiliário.
Além dos feriados da Copa do Mundo esvaziarem os estandes de vendas em junho e julho, há um quadro eleitoral indefinido, que tira a previsibilidade sobre os rumos econômicos do país e atrapalha o planejamento de longo prazo, essencial tanto para empresas de construção quanto para compradores de imóveis.
"Como não sabemos qual vai ser a política econômica do suposto novo governo, não temos clareza ao investir", explicou o executivo.
O arrefecimento do setor também pode ser explicado por problemas operacionais das próprias incorporadoras, com estoques altos, aponta o analista de construção do banco JP Morgan, Marcelo Motta. "As empresas tiraram o pé do acelerador e adiaram novos projetos para não criar mais estoques", disse.
Motta lembrou que a prioridade das companhias é vender unidades já lançadas e controlar rescisões de vendas. Desde o ano passado, o distrato se tornou um problema de grandes proporções, reflexo do grande volume de obras em fase final.
Os cancelamentos ocorrem no momento da conclusão das obras, quando o cliente que adquiriu a unidade na planta é repassado pela incorporadora para o banco, onde assumirá financiamento para quitar o saldo devedor.
No entanto, muitos clientes não têm o crédito aprovado e são obrigados a abrir mão do imóvel, que retorna ao estoque. Há também os casos de clientes que compraram o imóvel esperando valorização na revenda, mas têm optado por devolvê-lo espontaneamente. Como o preço já não sobe tanto, o negócio deixa de ser atrativo.
No terceiro trimestre, a Gafisa foi a única das oito empresas acima a informar os números de distratos. No seu caso, as rescisões atingiram 43,6% das vendas brutas entre julho e setembro.
No caso da Tenda, sua subsidiária, o patamar foi ainda mais alto: 80,2%. "A Tenda continua a finalizar e entregar seus projetos antigos, mantendo a política de cancelamento de vendas a clientes não elegíveis (ao financiamento bancário)", justificou a companhia, em relatório.
Com a rescisão forçada, a Gafisa busca acelerar a revenda para compradores com condições financeiras melhores.
Outro ponto que contribuiu para a retração do mercado imobiliário foi o enfraquecimento da demanda.
De acordo com Belmiro Quintaes, diretor de atendimento da imobiliária Lopes, os compradores têm levado mais tempo para fechar negócio, à procura de preços atrativos e ofertas especiais. "O cliente tem mais opções e está mais seletivo, então demora mais para definir a compra", disse.
Quintaes acredita que, encerrado o período eleitoral, pode haver melhora das vendas e lançamentos no quarto trimestre, que tradicionalmente é mais forte.
O executivo pondera, no entanto, que a estabilização dos estoques levará muito tempo, pois depende de aumento na velocidade de vendas, que por sua vez está associada à recuperação da economia brasileira.
"Outubro ainda não foi um mês forte para lançamentos e vendas por causa das eleições. O mercado ainda depende das definições políticas", ressaltou.