São Paulo parada: pandemia não fez Grupo Kallas desistir do plano de listar ações na B3 para crescer (Eduardo Frazão/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 27 de maio de 2020 às 15h10.
Última atualização em 27 de maio de 2020 às 16h15.
O Doutor Emílio Kallas, como é conhecido fundador do grupo de construção e incorporação que leva seu nome, está pronto, só no aguardo do sinal verde de bancos assessores que contratou, para fazer o pedido de abertura de capital do seu negócio. Já estava, na verdade, mas aí veio a pandemia da Covid-19 e colocou tudo de pernas para o ar — a saúde, a economia, os mercados.
Kallas, que é primo do médico Esper Kallas e engenheiro de formação, contou ao EXAME IN que pretende levantar 2 bilhões de reais para o caixa da companhia. O objetivo é expansão. “Eu prepararei a empresa para isso. Hoje, faço mais ou menos 20% do que temos condição de fazer”, disse ele, ao explicar para que quer acessar o mercado, após 37 da fundação de seu negócio. “Não tenho dívida corporativa. Só as das obras. O dinheiro novo é todo para crescimento.”
“Estava tudo pronto para a gente ir para a bolsa em maio, mas aí veio o coronavírus. Acredito que seja possível fazer no segundo semestre.” Os bancos líderes na coordenação do processo são o Credit Suisse e o Itaú BBA. Também participam do sindicato da operação Safra, Banco do Brasil e Caixa.
O valor das companhias, aos poucos, vem se recuperando — de forma surpreendente, inclusive, para muitos gestores de recursos. E o movimento ganhou força nos últimos dias. Hoje, o Índice Bovespa alcançou o maior valor desde 11 de março. No fim daquele mês, a capitalização das empresas que compõem o indicador somava 2,55 trilhões de reais e está agora acima dos 3 trilhões de reais. Nos últimos dias, houve sinais de fluxo positivo de investidores estrangeiros na bolsa e o setor de construção esteve entre os eleitos.
Se o mercado de ofertas reaquecer, será preciso testar o espaço para o setor de construção e se a Kallas vai se apropriar de seu quinhão. O segmento era um dos mais agitados para IPO neste ano, que prometia bater todos os recordes de operações. Da lista de processos de abertura de capital em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com 18 empresas, sete são do setor de incorporação e construção imobiliária e a Kallas ainda não estava entre elas.
O Grupo Kallas Incorporações e Construções abriga hoje quatro frentes de negócios, construção e incorporação para baixa renda e para média e alta, construção para terceiros, loteamento e vendas. “Eu vou listar a holding. Assim evita qualquer risco de conflito entre as empresas e o investidor fica do meu lado na estrutura.”
A pandemia não afetou apenas o plano do IPO, mas as vendas também. Os lançamentos programados pela Kallas nesse ano totalizavam um valor geral de vendas (VGV) de 2,6 bilhões de reais – sendo 1,5 bilhão de reais dos produtos para baixa renda e quase 1,1 bilhão de reais para mercado de média e alta renda. Contudo, as estimativas foram reduzidas para um total de 1,75 bilhão de reais – 1 bilhão na baixa renda e 750 milhões de médio e alto padrão.
“Vamos acompanhar o cenário para ver se será necessário um novo corte de expectativa”, afirmou Kallas, que é também presidente da holding. Mas, dentro do otimismo possível, o fundador acredita em uma retomada a partir do começo do segundo semestre. “Estamos seguindo com as obras. Também já estou deixando prontos os estandes de lançamento, para quando tudo estiver funcionando de um jeito mais normal”, contou ele.
Kallas, que é vice-presidente do sindicato da habitação de São Paulo (Secovi), contou que no mês de março a pandemia comeu apenas um pedaço das vendas: deu para fazer 75% do esperado. Em abril, esse percentual caiu para um intervalo entre 20% e 30% do projetado para o ano. Em maio, os números já começavam a mostrar uma suave recuperação, mais perto de 25% a 30% — ainda que tímida.
Para o Grupo Kallas, se o Doutor Emílio conseguir fazer a meta ajustada pela Covid-19, de 1,75 bilhão de lançamentos, já será um crescimento e tanto: mais do que o dobro dos 800 milhões do ano passado, que ainda foi um período mais conservador das construtoras e incorporadoras. As companhias estavam preparadas para um ano como há muitos não se via, inclusive a Kallas. Ele conta que foi na crise das construtoras — depois do afã das aberturas de capital de 2007 e 2008 no setor — que o grupo cresceu. “Eu fui comprando terreno devagar, quando todo mundo estava em uma situação mais delicada. Muita empresa sofreu porque não estava preparada para ir à bolsa.”
Resultado? Tem hoje um banco de 50 terrenos. Os recursos do IPO pretendido vão acelerar a capacidade da companhia de desenvolver, construir e incorporar nesses espaços. Hoje, tem já desenvolvidos projetos que totalizam 5 bilhões de reais, que poderão ser lançados neste ano e nos próximos dois.
Nas obras novas, já haverá traços deixados pelas mudanças de comportamento pós-covid-19. “Os projetos vão incorporar um espaço para home-office nos projetos de médio e alto padrão. Antes, o escritório era o cantinho que sobrava na casa. Não vai mais ser assim. Também vai ter aérea para entregas de encomendas e compras de mercado”, comentou. Nos empreendimentos menores, haverá espaço coletivo para trabalho.
Aos 69 anos, Kallas gosta de dizer que além de tudo pronto, da lista que os investidores gostam de checar para um IPO, também vem com plano de sucessão. Os dois filhos são engenheiros de formação, com cursos internacionais no currículo, e cada qual toca um segmento: baixa renda e o outro, média e alta renda.