Louis Vuitton: marca estrangeira que mais se destaca no Brasil (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2011 às 16h54.
Rio de Janeiro - O Brasil é o país do luxo. Pelo menos é o que aponta um estudo da GfK em parceria com a MCF Consultoria e Conhecimento, que mapeou o desempenho do segmento nos últimos cinco anos.
Segundo o levantamento, o mercado brasileiro de luxo faturou US$ 8,9 bilhões em 2010, o equivalente a cerca de R$ 15,7 bilhões.
Em 2006, o setor movimentava apenas US$ 3,9 bilhões, um crescimento de 129% no período, se considerados os valores em dólar.
Para 2011, a projeção é de que as vendas de produtos e serviços de luxo cheguem a US$ 11,9 bilhões por aqui, o que representaria uma expansão de 33% comparado a 2010.
Acompanhando a expansão do faturamento, a média salarial do setor no Brasil também aumentou, passando de R$ 2.667,00 em 2008, para R$ 4.080,00 em 2010.
Os números são acompanhados pelo otimismo dos executivos do setor. Apenas 17% afirmaram que os resultados do ano passado ficaram abaixo do previsto.
Para 46%, o desempenho foi melhor do que o planejado e para 37% se manteve igual. Ou seja, 86% das empresas tiveram resultados pelo menos iguais ao planejado para 2010, diz Paulo Carramenha, diretor-presidente da GfK, durante palestra no Atualuxo 2011.
Luxo democrático é tendência
Em relação às tendências, o destaque é a ideia de democratização do acesso ao luxo no Brasil, defendida por 71% das empresas. No mesmo sentido, 70% discordam que uma marca só será de luxo se for exclusiva, de difícil acesso e restrita.
Quando o assunto é tornar o luxo acessível às classes aspiracionais para que o setor se expanda no país, porém, os resultados são equilibrados: 46% concordam, 53% discordam e apenas 1% não sabe.
Hoje, a penetração de produtos e serviços de luxo no Brasil é estimada em apenas 2,5% da população, o que se restringe às camadas mais altas da população, predominantemente Classe A1 e parte da A2.
Para expandir o setor, as estratégias das empresas devem considerar o aumento da presença das marcas em camadas mais baixas, sem perder o apelo aspiracional.
Conquistar os clientes da faixa A2 que ainda não consomem luxo e considerar a classe B1 significaria cerca de 26,3 milhões de novos consumidores.
Sobre o perfil dos clientes, a maioria é composta por homens, mas as mulheres têm conquistado espaço, passando de 46% para 49%, entre 2009 e 2010.
No último ano, a maior parte dos consumidores (34%) se concentrou na faixa de 35 a 45 anos. É importante, porém, estar atento aos jovens. Os clientes até 35 anos já representam 25% do faturamento das companhias.
Glamour e tradição
Para 39% dos entrevistados, o glamour e a tradição da marca são o principal motivo de atração. Aparecem ainda exclusividade (33%), atendimento personalizado (15%), variedade (7%), localização (3%) e preço (3%).
Quando o assunto são as marcas benchmark, a H.Stern é a mais citada entre as brasileiras, com 18%, enquanto a Louis Vuitton é a estrangeira que mais se destaca, com 14%. A empresa francesa, no entanto, registrou queda, comparado aos 18% registrados em 2009. Já a Giorgio Armani saiu de 5% para 8%.
Além de H.Stern, foram lembradas também as nacionais Fasano (10%), Osklen (8%) e Daslu (3%). Porém, todas apresentaram queda, tendo alcançado 14%, 13% e 5%, respectivamente, no ano anterior.
Para 14% das empresas entrevistadas, o Brasil não conta com marcas que sejam exemplos para o segmento de luxo.
Internet na estratégia do luxo
O levantamento da GfK realizou entrevistas pela internet com 79 empresas nacionais e internacionais, entre abril e maio de 2011. De acordo com os entrevistados, os investimentos no luxo no Brasil em 2010 ficaram em torno de US$ 1,89 bilhão, ou 21,1% do faturamento do setor. Para este ano, a expectativa é que sejam investidos US$ 2,57 bilhões.
Um dos principais focos em investimento são os eventos. O mercado de luxo é o que mais lança mão deste tipo de ação. Mas a surpresa é a importância crescente da internet na estratégia de marketing das empresas.
Das companhias pesquisadas, 61% fizerem uso de redes sociais para divulgação no último ano. A maioria esmagadora (98%) das ações foi realizada no Facebook. Em seguida aparecem o Twitter, com 71%, e o Orkut, com 13%.
A Louis Vuitton tem mais de dois milhões de fãs no Facebook, por exemplo. O desafio é alinhar todas as estratégias dos canais. É importante coerência nas ações. A internet tem custos mais baixos e é mais ágil, às vezes, podendo levar a atitudes que não estão alinhadas com o propósito da marca, orienta Carramenha.
Belo Horizonte é destaque
Outro cuidado que deve ser tomado na web é a presença em sites multimarcas de e-commerce, que podem não entregar a experiência da marca, colocando em jogo sua essência. Quando o assunto são as lojas físicas, há também novidades.
Aos poucos, o foco sai do eixo-tradicional. Em 2010, 71% acreditavam que a capital paulista era a principal cidade para expansão da marca. Este ano, o número caiu para 66%.
Já Belo Horizonte passou de 29% para 34% no período. O cenário promissor não é exclusividade da capital mineira. Curitiba também tem atraído o olhar das empresas de Luxo. Em 2010, a cidade não era destaque para as companhias, com 8% de intenção de expansão. Em 2011, o índice passou para 22%.
São Paulo, no entanto, ainda é o principal mercado-alvo. Segundo a Revista Forbes, a cidade é a sexta do mundo a reunir mais bilionários, são 21, que somam um patrimônio de US$ 85 bilhões. O Rio de Janeiro aparece em seguida, com três bilionários, incluindo o mais importante entre os brasileiros, Eike Baptista.
Tributação ainda é principal obstáculo
No quesito cidades mais promissoras do Brasil, excluindo São Paulo e Rio de Janeiro, o destaque é Brasília, com 42% em 2010, mas uma leve redução, já que apresentou 53% em 2009. Belo Horizonte aparece mais uma vez, saindo de 4% para 19%. Boa parte das companhias (70%), entretanto, ainda não se mostra confiante sobre o fim da crise financeira no país.
O principal obstáculo para o desenvolvimento das empresas no Brasil ainda é a tributação elevada, item citado por 67% em 2011. Destes 73% são compostos por multinacionais.
Os clientes compram produtos fora do país por questão de preço. Se houvesse um ajuste na questão tributária, mais dinheiro ficaria aqui, acredita o Diretor-Presidente da GfK, destacando que, de acordo com a pesquisa, se os consumidores passassem a comprar produtos e serviços das marcas apenas no Brasil, o faturamento teria um incremento de 39%.
Levando em consideração o ticket médio mensal, que passou de R$ 2.726,00 em 2009 para R$ 4.710,00 em 2010, o aumento seria considerável. O valor representa o que as companhias têm para buscar no consumidor, o chamado share of pocket, ressalta Carramenha.