Herbalife, investigada nos EUA, patrocina o Flamengo
Empresa nega acusações e estampará uniformes do clube carioca pelos próximos 12 meses
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2014 às 12h06.
São Paulo - A Herbalife, empresa investigada por suspeita de esquema de pirâmide financeira, anunciou patrocínio para o time do Flamengo em 2014.
O valor do contrato, com duração prevista de 12 meses, não foi divulgado.
Nos Estados Unidos, a Herbalife está sendo investigada pela Comissão de Comércio Federal dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) e pelo FBI.
As entidades acusam a companhia de esconder um sistema ilegal de pirâmide para seu financiamento.
Em posicionamento à EXAME.com, a Herbalife afirmou que "está aberta à investigação, considerando a enorme quantidade de desinformação no mercado, e está disposta a cooperar totalmente com a FTC". Já a respeito da investigação do FBI, a empresa afirma não ter sido notificada até o momento.
Com o patrocínio da Flamengo, a marca da empresa de nutrição estará presente nos uniformes de treino e de viagem do clube, e será exposta no centro de treinamento e em eventos oficiais. A Herbalife também cederá suplementos para os jogadores.
Após o anúncio, o time carioca comemorou o novo contrato. “É mais uma grande empresa de renome no mercado que associa sua marca ao Flamengo. Isso comprova a valorização do clube e a confiança dos grandes produtos em investir nas cores rubro-negras”, afirmou Fred Luz, diretor-geral do Flamengo, em comunicado.
Em janeiro deste ano, o Botafogo assinou contrato de patrocínio com a Telexfree, também acusada de operar sob crime de pirâmide financeira em investigação do Ministério Público do Acre (MP-AC).
O acerto com o time foi finalizado ainda enquanto as operações da empresa estavam bloqueadas judicialmente no país. Na última quarta-feira, o Ministério da Justiça multou a empresa em R$ 5,590 milhões por operar "esquema financeiro piramidal".
Quando o esquema entrou em colapso, descobriu-se que 160 milhões de cupons postais eram necessários para sustentar as margens que seduziam os investidores. Mas só existiam 27.000 no mercado. Condenado a anos de prisão, Ponzi posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro, onde morreu pobre em 1949. Seu nome carimbou o golpe de pirâmide, mundialmente conhecido como esquema de Ponzi.
Uma década se passou até que a empresa abrisse seu capital, exigência da CVM para que as atividades continuassem sendo exercidas. Ao longo desse tempo, multiplicaram-se os interessados no esquema. A Boi Gordo investiu inclusive em anúncios apresentados pelo ator Antônio Fagundes nos intervalos da novela “Rei do Gado”. Poucos anos depois a situação mudaria de figura: em 2001 a empresa não tinha mais dinheiro para honrar os resgates solicitados. A falência foi decretada em 2004, mas o processo ainda corre na justiça. Para indenizar os investidores, estuda-se a entrega das propriedades da Boi Gordo, transferindo-as para fundos em nome dos credores. Já o processo criminal instaurado contra o dono da empresa, Paulo Roberto de Andrade, foi cancelado pelo Superior Tribunal de Justiça em dezembro de 2009. Na CVM, a condenação sofrida por ele em 2003 combinou uma multa de mais de 20 milhões e a proibição de exercer o cargo de administrador de companhia aberta por 20 anos.
O canto da sereia era a proposta de rendimento de 1% ao mês. Com a fama consolidada, novos clientes nunca deixaram de lhe bater à porta. Parte do dinheiro recolhido nunca foi investida. A outra parte servia para remunerar os que solicitavam o resgate. Estima-se que os investidores tenham perdido entre 12 e 20 bilhões de dólares ao longo dos anos. Em 2009, Madoff foi condenado por 11 crimes, entre fraude contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e perjúrio.
Apostando antes na propaganda do que nas aves em si, o grupo conquistou 40.000 investidores no Brasil, 30.000 deles só no estado de Goiás. Para engordar a base da pirâmide, foram gastos 4 milhões de reais em publicidade em 2004 - e apenas 100.000 reais em ração para as avestruzes. Quando a pirâmide ruiu em 2005, a empresa fechou as portas e seus sócios fugiram para o Paraguai. Em 2010, a Justiça Federal condenou os dois filhos e o genro do dono da Avestruz Master a indenizar os investidores em 100 milhões de reais. Jerson Maciel, controlador do grupo, morrera dois anos antes da decisão. Os acusados também receberam penas de 12 a 13 anos de prisão. A execução da indenização, contudo, só irá acontecer quando todos os recursos judiciais tiverem se esgotado. Se executada, ela não será suficiente para cobrir o prejuízo total amargado pelos investidores, estimado em 1 bilhão de reais.
Como os demais golpes do tipo, o fundo prometia um retorno de 5% ao mês acrescido de um bônus semestral. Mas depois que um investidor solicitou o resgate de 3 milhões de reais em julho de 2010, a pirâmide não conseguiu se manter de pé. Maioline desapareceu por 140 dias, sendo preso em dezembro do ano passado. Seu julgamento começou no dia 22 de junho deste ano e ainda não foi concluído.
Embora a CVM tenha divulgado um alerta ao mercado sobre a irregularidade das operações, a empresa continuou funcionando até janeiro de 2009, quando sofreu intervenção do Banco Central. Estima-se que cerca de 3.000 investidores tenham perdido aproximadamente 100 milhões de reais.