Pensamento crítico: terceirização mental ameaça a liberdade e a individualidade. (Carol Yepes/Getty Images)
Colunista
Publicado em 26 de dezembro de 2025 às 09h00.
Esta semana, uma única frase que compartilhei gerou um engajamento enorme. Sugeri que vivemos um tempo estranho em que terceirizamos a maior parte de nossas ações. Todo mundo tem opinião sobre tudo, mas quase ninguém pensa de verdade. Os algoritmos escolhem o que a gente vê, os influenciadores dizem o que devemos sentir, e as manchetes decidem o que deve nos indignar. É cômodo. É rápido. E é perigoso. Pensar virou quase um ato de rebeldia.
Não o pensar óbvio, aquele que repete, mas o pensar próprio. Aquele que nasce do alinhamento interno, da dúvida, da coragem de discordar até de quem a gente admira. Tem algo bonito nisso: o risco de estar errado, mas saber que o erro foi seu. A gente terceirizou quase tudo: o trabalho, o desejo, a memória, o amor.
Agora, estamos terceirizando também o pensamento. E quando isso acontece, a gente se dissolve. Perde aquilo que temos de mais precioso, que é nossa essência. Vira eco. Vira cópia. Vira uma coleção de frases de terceiros. Não é a inteligência artificial que ameaça o humano, é a preguiça mental que ela escancara. Eu, como todo mundo, afino minhas ideias usando a IA, mas procuro me policiar para manter a base delas intacta. Com todas as suas imperfeições, porque é nessa imperfeição que mora a consciência.
Líderes que pensam com a própria cabeça constroem futuro. Os que não pensam, apenas gerenciam o passado. No fim das contas, pensar é a última forma de liberdade. E liberdade, essa sim, anda cada vez mais rara.