É hora de investir na transição para carbono zero
Destinação de recursos para a transformação da economia mundial precisa acelerar para que as emissões líquidas sejam zeradas até 2050. Investidores têm que estar atentos para não perder oportunidades.
Karla Mamona
Publicado em 4 de julho de 2022 às 13h32.
*Karina Saade
A corrida para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 vai demandar US$ 125 trilhões em investimentos, principalmente em infraestrutura e tecnologia, segundo a iniciativa Glasgow Financial Alliance for Net Zero. É o montante necessário para financiar a transição de um modelo econômico baseado em combustíveis fósseis para uma economia “verde”, e tentar limitar o aquecimento global a 1,5oC acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
A destinação de recursos para a transformação precisa acelerar dos atuais US$ 1 trilhão por ano para mais de US$ 4 trilhões anuais para que o total previsto seja atingido. Isto significa que cada vez mais investidores vão tirar dinheiro de negócios tradicionais, intensivos em carbono, para colocar em empresas sustentáveis e que tenham metas ambiciosas de redução de emissões.
Todos os setores da economia global serão afetados pela transição, não apenas os baseados em combustíveis fósseis. É um movimento que gera enormes oportunidades. O investidor não pode ignorá-lo se quiser mitigar riscos ao seu portfólio e potencializar ganhos no longo prazo. Como costumamos dizer aqui na BlackRock: o risco climático é risco de investimento.
Novas tecnologias terão que ser desenvolvidas para que as emissões líquidas sejam zeradas em escala mundial. Isso inclui fontes renováveis de energia, materiais menos poluentes, processos de produção mais eficientes, otimização do uso de matérias primas, reciclagem, reaproveitamento de resíduos e agricultura de precisão.
Os mercados já identificam as companhias mais sustentáveis e as recompensam com menor custo de capital. Ao mesmo tempo, estas empresas entregam resultados melhores. Nunca houve tanto dinheiro disponível no mundo para transformar novas ideias em realidade, e negócios nascentes jamais tiveram acesso tão fácil a recursos financeiros.
Segundo o presidente e CEO da BlackRock, Larry Fink, em sua Carta aos CEOs de janeiro de 2022, os próximos mil unicórnios – startups que valem mais de US$ 1 bilhão – não serão mecanismos de busca ou redes sociais, mas empresas inovadoras que ajudem na descarbonização e tornem a transição energética acessível a todos os consumidores.
Há diferentes graus de engajamento possíveis nas mudanças. O investidor deve no mínimo entendê-las para navegá-las de forma consciente. Pode também direcionar recursos para incentivar a transição, investindo não só em negócios sustentáveis, mas em empresas com planos concretos para reduzir emissões. Existe ainda a opção de participar do desenvolvimento tecnológico com aportes financeiros em empreendimentos inovadores em formação.
Alguns canais estão disponíveis para investimentos na transição, mas os mais relevantes são os chamados “mercados privados”, como “hedge funds”, “private equities” e crédito privado. Por meio deles é possível aproveitar novas oportunidades logo no início. Outras opções são ações de companhias com compromissos firmes em sustentabilidade e fundos que seguem índices ESG, sigla em inglês para responsabilidade ambiental, social e de governança.
O leitor pode perguntar se a invasão da Ucrânia não esfriou o ritmo da transição, ao expor a dependência que a economia mundial ainda tem dos combustíveis fósseis. Em uma perspectiva de curto prazo, sim. Mas, ao mesmo tempo, a guerra mostra como tal dependência nos deixa vulneráveis, e o petróleo nas alturas torna as fontes alternativas mais atraentes. São fatores que tendem a acelerar as transformações ao longo do tempo.
*Head da BlackRock no Brasil