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Spread bancário cresce mas não deve ser considerado vilão

Pesquisa da Fipecafi e da Federação Brasileira de Bancos tenta mostrar que o lucro dos bancos com crédito é menor do que diz o mercado

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

spread bancário cresceu em 2005 segundo uma pesquisa desenvolvida a pedido dos próprios bancos. De acordo com o Estudo sobre a operação do spread da indústria bancária, o spread médio foi de 8,1% no primeiro semestre de 2005 - porcentagem que garantiu um lucro de 3,088 milhões aos bancos no período.  pesquisa apurou as taxas cobradas por 11 bancos, entre públicos e privados, nacionais e estrangeiros, que representam 75,8% do ativo total das instituições do Sistema Financeiro Nacional (SFN).  Na edição anterior do estudo, desenvolvido pela Fipecafi em 2003, o spread médio ficou em 6,79%. A edição anterior envolveu bancos com 58,82% de representatividade do SFN

Mais caro para empresas

A comparação   dos dados  de 2003 e de 2005    mostra que a maior alta se deu no spread dos juros destinados à pessoa jurídica, que saltaram de 1,84%, em média, em 2003, para 5,3% no primeiro semestre de 2005. Já no crédito oferecido à pessoa física, nota-se uma queda do spread de 11,22% para 10%.

De acordo com a pesquisa da Fipecafi, as operações de crédito contribuíram com 42% do total do lucro líquido dos bancos no primeiro semestre de 2005, o que representou 5,5 bilhões de reais.

Presente na apresentação do trabalho a analistas, economistas e jornalistas, o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban),  Roberto Luís Troster, respondeu aos questionamentos sobre os altos juros e spreads citando elementos que encarecem o crédito. "A taxa básica no Brasil é a mais alta do mundo. Traz volatilidade econômica, incerteza, risco muito alto. Em segundo lugar, temos a tributação, que chega a cerca de 29% ao ano", diz.

Desmistificação

O estudo desenvolvido por Alexandre Assaf Neto e Nelson Carvalho, professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pesquisadores da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), teve como intuito desmistificar o spread bancário.

Apesar de não ser conhecido popularmente, o termo  spread bancário  traz uma carga negativa e, na avaliação de banqueiros, uma conotação equivocada. Com o estudo, eles tentam mostrar que spread não é o lucro do banco - uma confusão que pode ser feita a partir da definicação do glossário do Banco Central (BC). Em seu site, o BC explica que spread significa "a diferença entre as taxas de juros de aplicação" (as que são oferecidas ao tomador de um empréstimo) "e as de captação" (as que o banco paga para tomar dinheiro), "compreendendo o lucro e o risco relativos às operações de crédito". Ou seja, entende-se que é a fatia que o banco toma para si pelo serviço de facilitador, colocando na conta o perigo de tomar um calote e o lucro desejado.

Juros altos, spread baixo

Na apresentação do estudo, os autores Assaf e Carvalho destacaram: o spread não deve ser superestimado, e a máscara de vilão que ele carrega deve ser tirada. "Os juros são bastante altos, isso ninguém nega, porém o spread não acompanha", diz Assaf. Ele chegou à conclusão por meio do cálculo do lucro proposto pela pesquisa, que divide o spread em três subprodutos: bruto, direto e líquido.

O bruto corresponderia efetivamente ao resultado da subtração entre juros oferecidos ao tomador de empréstimo e aqueles pagos pelo banco. Do resultado, devem ser retiradas as despesas diretas (impostos diretos, o cálculo do risco de inadimplência e o valor do Fundo Garantidor de Crédito) para se chegar ao spread direto. O desconto de despesas operacionais (como, por exemplo, salários e conta de telefone), imposto de renda e contribuições leva, enfim, ao spread líquido. É o spread líquido, e não o bruto, que deve ser considerado o lucro dos bancos nas operações de crédito, já que está despido de toda e qualquer despesa.

A divisão tríplice é um contraponto ao Banco Central que, mensalmente, apura as taxas de spread em valores que seriam, de acordo com a classificação do estudo da Fipecafi, o spread bruto e não  efetivo lucro  do banco  com as operações - conotação equivocada que os consumidores acabam absorvendo. Em julho de 2005, por exemplo, o BC informa que o spread era de 28,24 pontos percentuais, resultado da subtração entre 47,22% da taxa cobrada  e 18,98% dos juros pagos pelos bancos. Em porcentagem, o spread seria de 59,8%, próximo ao que o estudo de Assaf e Carvalho indica para o resultado bruto, de 62%. Os autores dizem desconhecer a metodologia de cálculo do BC, mas garantem que as conclusões de seu estudo são confiáveis e decisivas para retirar de vez a máscara de vilão do spread.

 

Cálculo do spread líquido
A) Receitas de operação de crédito - Despesa total de captação = Spread bruto
B) Spread bruto - Despesas diretas (impostos diretos,provisões para inadimplência e despesas com o Fundo Garantidor de Crédito) = Spread direto
C) Spread direto - Despesas operacionais (despesa de pessoal e outras despesas operacionais) - Imposto de renda - Constribuições social = Spread líquido
fonte: Fipecafi/Febraban
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