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Quem pode se considerar rico no Brasil

Entenda os critérios usados pelos institutos de pesquisa para definir quem faz parte da classe A e saiba em qual estrato econômico você está inserido

Pesquisas de segmentação em classes econômicas revelam que não é preciso ter muito dinheiro para ser considerado rico no Brasil (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2012 às 08h26.

São Paulo – Poucas perguntas são tão difíceis de responder sobre qualquer pessoa quanto em qual classe econômica ela está inserida – com exceção dos muito ricos e muito pobres. Mesmo sendo padronizados, os critérios utilizados para segmentar a população por diversos institutos de pesquisa (como Nielsen, Ipsos, Ibope e Datafolha) são tão polêmicos que o próprio entrevistado quase nunca concorda com a própria classificação ao saber dos resultados.

Não há um padrão mundial de classificação, mas, no Brasil, coube à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) a missão de elaborar o Critério de Classificação Econômica Brasil. Esse padrão serve como base para a maioria dos questionários sobre o poder de consumo de cada família. A renda média dos brasileiros em cada uma das oito classes econômicas é explicada na tabela a seguir:

Classe econômicaRenda média familiar bruta mensal
A1R$ 12.926
A2R$ 8.418
B1R$ 4.418
B2R$ 2.565
C1R$ 1.541
C2R$ 1.024
DR$ 714
ER$ 477

Em relação à tabela, é preciso entender três detalhes importantes. O primeiro é que os valores informados para cada classe social são a renda média e que há uma grande dispersão dentro de cada grupo. Em relação às pessoas que fazem parte da classe A1, há desde famílias que ganham 10.000 reais ao mês até quem embolsa mais de 1 milhão de reais. O número de 12.926 reais é apenas a média.

O segundo fator é que o número da renda média familiar é considerado de baixa qualidade pelas próprias empresas que realizam as pesquisas. Muita gente não revela a renda verdadeira por questões de segurança ou até mesmo desconhecimento. Em algumas famílias, a renda mensal varia tanto que o próprio entrevistado é incapaz de informar a média.

Na verdade, os problemas de ordem prática quando os pesquisadores vão coletar as informações nos domicílios são inúmeros. “Muitas vezes quem vai responder as perguntas é o filho adolescente que não sabe com exatidão a renda dos pais”, diz Luis Pilli, diretor do comitê do Critério Brasil para a Abep.


O número da renda é tão poluído que levou a Abep a excluí-lo do critério de classificação econômica – e essa é a terceira ressalva importante. A tabela acima serve apenas como mera curiosidade. Os pesquisadores perguntam a renda, mas não utilizam o número para classificar os brasileiros. A pesquisa leva em consideração apenas a posse de bens e o grau de instrução do chefe de família. De acordo com o número de bens, as famílias recebem o seguinte número de pontos:

Posse de itens01234 ou +
Televisão em cores01234
Rádio (de qualquer tipo, mesmo que incorporado a outro equipamento de som ou televisor, com exceção do rádio do automóvel)01234
Banheiro (qualquer um que tenha vaso sanitário e faça parte do domicílio, incluindo lavabos e excluindo banheiros coletivos)04567
Automóvel (não considera veículos de uso profissional nem misto - por exemplo, um táxi usado para lazer aos finais de semana)04799
Empregado doméstico (qualquer empregado que trabalhe 5 vezes por semana no domicílio, incluindo babás, motoristas, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras e governantas)03444
Máquina de lavar (não inclui tanquinho)02222
Videocasete ou DVD02222
Geladeira04444
Freezer (eletrodoméstico independente ou parte de uma geladeira duplex com duas portas independentes)02222

Já o grau de instrução do chefe de família leva os pesquisadores a computar o número de pontos a seguir para cada domicílio:

Grau de instruçãoNúmero de pontos
Analfabeto à terceira série de ensino fundamental0
Quarta série do ensino fundamental1
Ensino fundamental completo2
Ensino médio completo4
Ensino superior completo8

Realizadas todas as perguntas, os pontos de cada família são somados. A classe econômica será determinada pelo total de pontos obtidos, de acordo com a tabela a seguir:

Classe econômicaPontos
A142 - 46
A235 - 41
B129 - 34
B223 - 28
C118 - 22
C214 - 17
D8 - 13
E0 - 7

Pilli, da Abep, explica que os ricos brasileiros estão concentrados na classe A1. A classe média-alta englobaria os grupos A2 e B1. Já da classe média fariam parte as pessoas classificadas como B2, C1 e C2. Nas classes D e E, estariam os brasileiros com baixo poder de consumo. Considerando apenas as nove maiores regiões metropolitanos do país, é possível concluir que a grande maioria dos brasileiros pode ser considerada de classe média, conforme a tabela a seguir:

Classe econômicaPercentual da população
A10,50%
A23,60%
B19,60%
B220,80%
C126,30%
C223,20%
D15,20%
E0,80%

Pilli diz que o critério de classificação econômica prioriza muito a posse de bens – e não o grau de instrução ou a renda total. “É fácil de contar os bens e dar uma resposta correta e objetiva”, afirma. Ele admite que algumas vezes a pesquisa erra. Pessoas solteiras que moram sozinhas em imóveis pequenos, por exemplo, tendem a ser rebaixadas na pesquisa porque não faz sentido ter uma quantidade grande do mesmo bem. “A redução do número de pessoas na mesma família é um fenômeno recente que aos poucos vai se incorporando à pesquisa. Estamos sempre atualizando os critérios”, diz.

Ainda que os resultados não sejam 100% corretos, ele diz que esse tipo de levantamento tem grande valor estatístico porque permite entender os hábitos de consumo de todos os segmentos. A classe alta, por exemplo, tem características que não são vistas em outras categorias. O estrato mais rico da população gasta mais com comida fora de casa, compra bens supérfluos, valoriza marcas e contrata mais serviços.

Já a classe média compra bens de primeira necessidade, mas costuma parcelar a aquisição de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. As pessoas classificadas dentro das classes D e E geralmente são desempregadas ou estão precariamente ocupadas, com uma renda baixíssima. “Muitas vezes alguém que mora em favela ou habitação precária é considerado de classe média porque tem salário e renda para consumir”, diz Pilli.

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São Paulo – Poucas perguntas são tão difíceis de responder sobre qualquer pessoa quanto em qual classe econômica ela está inserida – com exceção dos muito ricos e muito pobres. Mesmo sendo padronizados, os critérios utilizados para segmentar a população por diversos institutos de pesquisa (como Nielsen, Ipsos, Ibope e Datafolha) são tão polêmicos que o próprio entrevistado quase nunca concorda com a própria classificação ao saber dos resultados.

Não há um padrão mundial de classificação, mas, no Brasil, coube à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) a missão de elaborar o Critério de Classificação Econômica Brasil. Esse padrão serve como base para a maioria dos questionários sobre o poder de consumo de cada família. A renda média dos brasileiros em cada uma das oito classes econômicas é explicada na tabela a seguir:

Classe econômicaRenda média familiar bruta mensal
A1R$ 12.926
A2R$ 8.418
B1R$ 4.418
B2R$ 2.565
C1R$ 1.541
C2R$ 1.024
DR$ 714
ER$ 477

Em relação à tabela, é preciso entender três detalhes importantes. O primeiro é que os valores informados para cada classe social são a renda média e que há uma grande dispersão dentro de cada grupo. Em relação às pessoas que fazem parte da classe A1, há desde famílias que ganham 10.000 reais ao mês até quem embolsa mais de 1 milhão de reais. O número de 12.926 reais é apenas a média.

O segundo fator é que o número da renda média familiar é considerado de baixa qualidade pelas próprias empresas que realizam as pesquisas. Muita gente não revela a renda verdadeira por questões de segurança ou até mesmo desconhecimento. Em algumas famílias, a renda mensal varia tanto que o próprio entrevistado é incapaz de informar a média.

Na verdade, os problemas de ordem prática quando os pesquisadores vão coletar as informações nos domicílios são inúmeros. “Muitas vezes quem vai responder as perguntas é o filho adolescente que não sabe com exatidão a renda dos pais”, diz Luis Pilli, diretor do comitê do Critério Brasil para a Abep.


O número da renda é tão poluído que levou a Abep a excluí-lo do critério de classificação econômica – e essa é a terceira ressalva importante. A tabela acima serve apenas como mera curiosidade. Os pesquisadores perguntam a renda, mas não utilizam o número para classificar os brasileiros. A pesquisa leva em consideração apenas a posse de bens e o grau de instrução do chefe de família. De acordo com o número de bens, as famílias recebem o seguinte número de pontos:

Posse de itens01234 ou +
Televisão em cores01234
Rádio (de qualquer tipo, mesmo que incorporado a outro equipamento de som ou televisor, com exceção do rádio do automóvel)01234
Banheiro (qualquer um que tenha vaso sanitário e faça parte do domicílio, incluindo lavabos e excluindo banheiros coletivos)04567
Automóvel (não considera veículos de uso profissional nem misto - por exemplo, um táxi usado para lazer aos finais de semana)04799
Empregado doméstico (qualquer empregado que trabalhe 5 vezes por semana no domicílio, incluindo babás, motoristas, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras e governantas)03444
Máquina de lavar (não inclui tanquinho)02222
Videocasete ou DVD02222
Geladeira04444
Freezer (eletrodoméstico independente ou parte de uma geladeira duplex com duas portas independentes)02222

Já o grau de instrução do chefe de família leva os pesquisadores a computar o número de pontos a seguir para cada domicílio:

Grau de instruçãoNúmero de pontos
Analfabeto à terceira série de ensino fundamental0
Quarta série do ensino fundamental1
Ensino fundamental completo2
Ensino médio completo4
Ensino superior completo8

Realizadas todas as perguntas, os pontos de cada família são somados. A classe econômica será determinada pelo total de pontos obtidos, de acordo com a tabela a seguir:

Classe econômicaPontos
A142 - 46
A235 - 41
B129 - 34
B223 - 28
C118 - 22
C214 - 17
D8 - 13
E0 - 7

Pilli, da Abep, explica que os ricos brasileiros estão concentrados na classe A1. A classe média-alta englobaria os grupos A2 e B1. Já da classe média fariam parte as pessoas classificadas como B2, C1 e C2. Nas classes D e E, estariam os brasileiros com baixo poder de consumo. Considerando apenas as nove maiores regiões metropolitanos do país, é possível concluir que a grande maioria dos brasileiros pode ser considerada de classe média, conforme a tabela a seguir:

Classe econômicaPercentual da população
A10,50%
A23,60%
B19,60%
B220,80%
C126,30%
C223,20%
D15,20%
E0,80%

Pilli diz que o critério de classificação econômica prioriza muito a posse de bens – e não o grau de instrução ou a renda total. “É fácil de contar os bens e dar uma resposta correta e objetiva”, afirma. Ele admite que algumas vezes a pesquisa erra. Pessoas solteiras que moram sozinhas em imóveis pequenos, por exemplo, tendem a ser rebaixadas na pesquisa porque não faz sentido ter uma quantidade grande do mesmo bem. “A redução do número de pessoas na mesma família é um fenômeno recente que aos poucos vai se incorporando à pesquisa. Estamos sempre atualizando os critérios”, diz.

Ainda que os resultados não sejam 100% corretos, ele diz que esse tipo de levantamento tem grande valor estatístico porque permite entender os hábitos de consumo de todos os segmentos. A classe alta, por exemplo, tem características que não são vistas em outras categorias. O estrato mais rico da população gasta mais com comida fora de casa, compra bens supérfluos, valoriza marcas e contrata mais serviços.

Já a classe média compra bens de primeira necessidade, mas costuma parcelar a aquisição de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. As pessoas classificadas dentro das classes D e E geralmente são desempregadas ou estão precariamente ocupadas, com uma renda baixíssima. “Muitas vezes alguém que mora em favela ou habitação precária é considerado de classe média porque tem salário e renda para consumir”, diz Pilli.

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