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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
Susto que pegou desprevenidos gestores de fundos de todo o mundo, a queda histórica da bolsa chinesa nesta terça-feira (27/2) causou ainda mais impacto em que quem só conta com o próprio faro na hora de gerenciar as aplicações: os investidores individuais. A desvalorização de 8,8% no mercado da China, motivada por um temor de que o governo do país vá refrear a economia, teve reflexos no Brasil e fez o Ibovespa despencar 6,6% nos negócios de ontem - uma baixa que mexeu com a estratégia de quem é pequeno no jogo da bolsa.
No caso do publicitário e empresário Marcelo Guerreiro, um dos 88 000 investidores que compram e vendem ações de companhias brasileiras via internet pelo sistema home broker, o estrago foi uma perda de 6 000 reais na sua carteira de investimento. Há três anos no mercado financeiro, Guerreiro assistiu ontem à desvalorização dos papéis que possui em setores como construção, petroquímica e metalurgia. Segundo o empresário, a experiência nos pregões foi o que fez evitar decisões apressadas. " Não é a primeira crise que pego. Foi a pior que passei em um dia, mas tenho minhas teorias e não entro no efeito desespero", diz.
Apesar de acostumado aos altos e baixos da bolsa, Guerreiro teve a ordem de venda como primeira reação ao ver o movimento dos mercados: ainda pela manhã livrou-se de algumas ações da Companhia Vale do Rio Doce, quando caíam cerca de 4%. No fim da tarde, a alta se aprofundou e o empresário decidiu recomprar os papéis. "Vendi cada ação a 62,60 reais e comprei por 59,50 reais. Consegui reduzir o prejuízo do dia em 1 000 reais."
Segundo Felipe Rodrigues, da área de home broker da corretora Spinelli, a decisão de Guerreiro foi a mesma tomada por muitos outros investidores individuais: "O movimento de venda ficou acima do normal. Mas teve muitos que aproveitaram para comprar no fim da tarde, porque acreditaram que mais para frente viria uma correção dos negócios". Um dos responsáveis por dirimir as dúvidas dos 2.500 investidores individuais que operam na bolsa com a Spinelli, Rodrigues diz que é mesmo a pessoa física quem sofre mais em horas de aperto no pregão, por contar com menos recursos para se informar. A queda aguda nos negócios da Bovespa fez com que o volume de consultas aos analistas da corretora aumentasse em 50% nesta terça-feira. "O investidor de home broker é o mais vulnerável. Acredito que tenha sido o mais atingido", afirma.
A vulnerabilidade é ainda maior quando o investidor é novato. Animado pela sucessão de recordes da Bovespa, o empresário Marcelo Turri decidiu apostar seus recursos no mercado em janeiro de 2007. O primeiro mês de negociação trouxe um ganho de 13%, o que o motivou a continuar as compras. Nesta terça-feira o clima de euforia deu lugar ao espanto: "Chequei o mercado na abertura e vi que a bolsa estava caindo. Fiquei olhando para a tela do computador sem me mexer, depois confirmei pelo noticiário da televisão". Controlado o primeiro impulso de vender, Turri continuou monitorando o andamento dos negócios durante a tarde. Conversou com amigos, leu sobre a posição das bolsas do exterior e decidiu que aquela era uma boa oportunidade de compra. Acabou praticamente dobrando o capital que tinha investido. "Recorri a ações de empresas seguras. Escolhi Petrobras, TAM, Gafisa", diz.
O susto virou chance de lucro principalmente para os investidores de perfil agressivo e para quem conhece o funcionamento do mercado. O dentista Alexandre Ricci coloca dinheiro na bolsa há um ano e partiu para a especulação ao ver o tamanho do tombo da Bovespa. "Troquei ações do Banestes [Banco do Estado do Espírito Santo] por papéis da Cosan, porque acho que a Cosan vai subir mais no curtíssimo prazo. Assim que o mercado estabilizar, volto para o Banestes, que considero uma empresa sólida". No caso do economista Sérgio Augusto Braga, a desvalorização dos papéis das companhias brasileiras pode fazê-lo voltar aos negócios. Investidor de home broker que fecha cerca de 5 operações por mês, ele havia se retirado dos pregões por achar que os ativos estavam caros demais. "Agora me deu vontade de comprar de novo", diz.