Minhas Finanças

Os investidores que perderam mais dinheiro com o Panamericano

Silvio Santos e os demais acionistas já estão mais pobres; compradores de CDB, FIDC, títulos externos e debêntures correm risco

Agência do Banco PanAmericano (EXAME/EXAME.com)

Agência do Banco PanAmericano (EXAME/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2010 às 16h21.

Ninguém perdeu mais que o apresentador Silvio Santos com a descoberta de "inconsistências contábeis" no balanço do banco PanAmericano. O apresentador teve que dar como garantia empresas do grupo - como o SBT, a fabricante de cosméticos Jequiti e o hotel Jequitimar, no Guarujá - para tomar um empréstimo de 2,5 bilhões de reais e cobrir o rombo. Para quitar o financiamento, não resta dúvida que o apresentador terá de vender parte das companhias e ficará mais pobre. Mas Silvio Santos está longe de ser o único perdedor da história. O banco PanAmericano possui ações listadas em bolsa e milhares de sócios minoritários. Além disso, captava recursos no mercado para oferecer empréstimos aos clientes. Quem ajudou a financiar as operações do PanAmericano - seja por meio da compra de CDBs, FIDCs, títulos externos ou debêntures - tem em mãos papéis que valem menos ou que oferecem mais risco do que na semana passada.

O impacto do rombo já pôde ser sentido no mercado. Controlado por Silvio Santos e pela Caixa Econômica Federal, a instituição tinha como principais acionistas minoritários o Banco Privada D'Andorra e fundos como Legg Mason, Capital Research and Management Company e Polo Capital. Todos esses investidores detinham participações superiores a 5% do total de ações preferenciais (BPNM4). Segundo a Economática, outros grandes investidores do banco eram Geração Futuro (somente um fundo exclusivo), J. Safra e Credit Suisse Hedging-Griffo. Após a queda de mais de 6% na terça, esses papéis registravam, às 14h51, nova baixa, de 29,84%.

Um dos que tiveram prejuízo, Claudio Andrade, sócio da Polo Capital, atribuiu a queda à falta de informações e à perda de confiança no PanAmericano. Ele não acredita, entretanto, que o processo possa ser tão traumático quanto foi a quebra do banco Santos, em 2004. Ao injetar 2,5 bilhões de reais no PanAmericano, o apresentador Silvio Santos aceitou pagar a maior parte da conta. O valor das ações caiu, mas os acionistas minoritários não tiverm suas participações acionárias diluídas. Se a nova administração do banco conseguir reestruturá-lo, no longo prazo os papéis tendem a se recuperar.

Mas não foram apenas os sócios de Silvio Santos que perderam dinheiro. Ações de outros bancos médios também sofreram. Às 14h51, registravam fortes perdas as ações do Pine (-3,68%), Sofisa (-4,42%), Paraná (-7,78%), Daycoval (-4,76%) e Cruzeiro do Sul (-2,05). "Pode haver um travamento do crédito para os bancos médios no curto prazo, com o mercado mais desconfiado em relação a seus balanços", diz um analista que não quis se identificar.


Agrava o problema o fato de que o banco Fibra anunciou há algumas semanas que seu controlador, o grupo Vicunha, da famíila Steinbruch, teve que injetar 92 milhões de reais também para cobrir erros contábeis no balanço da instituição. Mesmo com esses dois eventos em menos de um mês, analistas não acham que há motivo para desconfiar de todos os bancos médios. "Balanço de banco não é poesia. A CVM e o Banco Central olham esses números com lupa", diz um investidor.

CDBs

Quem ajudou a financiar o banco PanAmericano com a compra de CDBs (Certificados de Depósito Bancário) não perdeu dinheiro até agora, mas o risco do investimento ficou mais alto. Em seu último balanço, o PanAmericano informou ter captado 5,1 bilhões de reais com depósitos a prazo. Apenas 14% desses CDBs estavam em mãos de pessoas físicas em junho. A maior parte dos recursos era de fundos de investimento. Segundo a Economática, os maiores detentores de CDBs do Panamericano são a BB DTVM (a gestora de recursos do Banco do Brasil, com 478 milhões de reais), a BRAM (do Bradesco, com 467 milhões) e o BTG Pactual (com 214 milhões).

Caso o banco venha a quebrar, os investidores pessoa física só teriam a garantia de receber 60.000 reais do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Devido a uma norma editada pelo Banco Central há quase dois anos, alguns grandes investidores teriam a receber até 20 milhões de reais do FGC porque compraram uma CDB com uma espécie de seguro, conhecido como DPGE. Mas o cenário de quebra do banco parece pouco provável neste momento. "Silvio Santos fez a injeção de 2,5 bilhões de reais e uma nova diretoria foi nomeada para limpar o balanço. Acredito que o banco está melhor hoje do que estavam ontem e que poderá ser vendido depois que todos os problemas forem resolvidos", disse um investidor que pediu para não ser identificado.

Quem investiu em CDBs, portanto, não tem motivo para resgatar o dinheiro o mais rápido possível. Vale lembrar que não houve socorro do governo. Ao liberar um empréstimo de 2,5 bilhoes de reais para Silvo Santos, o FGC, um fundo constituído pelos próprios bancos brasileiros, mostrou que estava confortável em financiar a recuperação do banco ao invés de ter de arcar com o ônus de garantir o ressarcimento parcial do investimento se o banco perdesse a capacidade de cumprir as obrigações. Ao mesmo tempo, o FGC deu um sinal de que Silvio Santos tem patrimônio e liquidez suficientes para pagar o empréstimo tomado dentro de um prazo de dez anos. "Foi uma solução inédita e bem desenhada", disse um gestor.

Fundos

Em junho, centenas de investidores também detinham cerca de 1,76 bilhão de reais em dois FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) emitidos pelo banco PanAmericano. Quem possui esse tipo de papel compra o direito de receber os créditos devidos ao PanAmericano por clientes que tomaram empréstimos para financiar a compra de automóveis. O investidor, portanto, corre muito mais o risco de crédito desses clientes do PanAmericano do que do próprio banco. Afinal, se os clientes continuarem a pagar os empréstimos, não há prejuízo para ninguém.


Mesmo assim, o risco de que o investidor não receba seu dinheiro de volta aumentou. O PanAmericano mantinha a prática de retirar da carteira dos dois FIDCs os créditos inadimplentes para limitá-los a até 3% do total. Dessa forma, a rentabilidade prometida aos investidores (ao menos 108% do CDI) era sempre atingida. Como o regulamento do fundo não obriga o banco a continuar a fazer isso, há o risco de que a política seja alterada. Como emissor, o banco ainda estará obrigado a assumir a maior parte das perdas - mas não todas.

Se decidir vender as quotas agora, o investidor provavelmente terá de esperar. Dificilmente o administrador do FIDC terá caixa para arcar com suas obrigações caso todos os investidores peçam o resgate. Por outro lado, a Comissão de Valores Mobiliários obriga que o fundo use toda a sua liquidez atual e futura para permitir a saída dos investidores. "Talvez eles tenham que esperar, mas terão o dinheiro rentabilizado", diz uma fonte.

Vale lembrar que a CVM não permite que investidores de varejo apliquem dinheiro em FIDCs. Apenas quem possui mais de 300.000 reais em aplicações financeiras e é considerado investidor qualificado pelo órgão pode ter acesso a esse tipo de investimento. No final do ano passado, um dos FIDCs do PanAmericano tinha 151 cotistas e, o outro, 321.

Títulos de renda fixa

O Panamericano possui ainda 1,5 bilhão de reais em títulos de dívida negociados no exterior. O banco fez duas grandes emissões externas neste ano, uma de 500 milhões de dólares em abril e outra de 300 milhões de dólares em julho. Ambas tiveram demanda bem maior que a oferta. A maior parte dos papéis ficou com investidores americanos e europeus, que vão registrar perdas se quiserem vendê-los agora. No início desta manhã, os juros pagos pelos bônus haviam subido de 8% para 13%. Isso signifca que os investidores estão cobrando um prêmio maior porque avaliam que o risco da aplicação aumentou.

Por último, o banco emitiu 275 milhões de reais em debêntures, que são títulos de renda fixa vendidos a investidores no Brasil. Segundo levantamento da Economática, o único fundo de investimentos que havia comprado os papéis era o Mercatto Acaju FI Multimercado Previdenciário. A posição de 1 milhão de reais, no entanto, foi vendida em outubro. Para especialistas, o melhor momento de vender os papéis do banco PanAmericano ficou mesmo para trás. Agora, o melhor a fazer é manter a calma e esperar a divulgação de mais informações sobre o rombo no banco de Silvio Santos.

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