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O micro que é o máximo

Como o microcrédito pode estimular o potencial empreendedor

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

Num país de 170 milhões de habitantes como o Brasil, o desenvolvimento econômico passa, necessariamente, pela criação de atividades geradoras de renda que sustentem o crescimento do mercado interno e proporcionem um ciclo econômico virtuoso. Entretanto, com uma população com renda média de 255 reais por mês (sem falar nos números de concentração e pobreza), o país está com esse ciclo completamente travado. É nesse contexto que o microcrédito surge como estratégia de desenvolvimento.

Não há economia que tenha aflorado sem crédito. A relação entre crédito e PIB no Brasil é de apenas 28%, enquanto nos países desenvolvidos aproxima-se de 70%. Para mudar essa situação, é preciso democratizar o acesso de populações desfavorecidas a produtos de crédito. Populações excluídas do sistema bancário tradicional ganhariam os meios financeiros para liberar seu potencial empreendedor e, assim, criar atividades geradoras de renda.

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Apesar das boas perspectivas para a atividade de microcrédito, as instituições de microfinanças (IMFs) têm enorme dificuldade para expandir suas carteiras e atingir economias de escala. E é no estado e no município de São Paulo que encontramos o melhor exemplo desse paradoxo: muitos microempreendedores sem acesso ao crédito, mas poucas IMFs e pouquíssimos clientes atendidos. Por quê?

Há um fator local: o papel negativo exercido pelo Banco do Povo do Estado de São Paulo. Ao propor taxas subsidiadas de 1% ao mês, o programa dificulta a entrada de outros atores mais eficazes no mercado do microcrédito e a conseqüente expansão dos serviços. Mas esse não é o único empecilho. Outros aspectos importantes são o desconhecimento dos clientes e a excessiva padronização dos produtos de crédito oferecidos (para capital de giro e, em alguns casos, ativo fixo). É preciso conhecer as características e necessidades da clientela de microcrédito. Há estudos que mostram a demanda potencial por serviços diferenciados, como o microsseguro, mas pouco foi efetivamente implementado nesse sentido. São Paulo poderia e deveria estar na vanguarda de novas experiências de microcrédito. Não só pelo seu mercado potencial mas também por concentrar recursos e expertise na área financeira.

É importante reafirmar que o crédito -- assim como educação, saúde e investimento em pesquisa e infra-estrutura --faz parte dos chamados fatores endógenos de crescimento e desenvolvimento econômico que são de responsabilidade dos setores públicos e também dos privados. Como o empresariado pode contribuir? Por exemplo, com programas de profissionalização e reforço das instituições de microcrédito. Essa profissionalização poderia ocorrer mediante a transferência de tecnologia do setor privado para IMFs a fim de realizar estudos de mercado, desenvolver novos produtos ou melhorar os métodos aplicados na gestão do risco de crédito. Outra idéia inovadora seria constituir fundos éticos de investimento destinados às microfinanças. Isso permitiria às IMFs diversificar suas fontes de refinanciamento, ampliando assim a perspectiva de crescimento.

Frederico A. Celentano prepara uma tese de doutorado no IEP de Paris sobre o tema O Microcrédito como Estratégia Internacional de Luta contra a Pobreza. É responsável no Brasil pelas atividades da ONG francesa PlaNet Finance. E-mail: fcelen@planetfinance.org

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