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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O banco Itaú e o Grupo Pão de Açúcar anunciaram hoje (27/7) a criação de um banco para financiar o crédito ao consumidor da maior rede de supermercados brasileira. O novo banco, cujo nome ainda não foi divulgado, terá um patrimônio de 150 milhões de reais, 50% de cada um dos dois parceiros.
Os números são significativos. Juntos, Itaú e Pão de Açúcar têm quase 9 milhões de cartões de crédito e "private label", que são os cartões pertencentes exclusivamente a uma rede de varejo. O Pão de Açúcar possui um total de 555 lojas e supermercados, que podem representar um acréscimo de 18% à rede de 3 146 agências do Itaú. Os investimentos totais são de 455 milhões de reais.
A parceria entre o maior varejista brasileiro e o segundo maior banco privado representa mais um passo na tendência de as redes de varejo se associarem a instituições financeiras para amplificar suas vendas e fortalecer sua musculatura econômica. No caso do Itaú, a associação é significativa: o Pão de Açúcar realizou 440 milhões de transações em 2003, com vendas brutas totais de 12,8 bilhões de reais.
No primeiro trimestre do ano, as vendas do Pão de Açúcar foram de 3,4 bilhões de reais. A maioria dessas transações, 53%, foi paga à vista e outros 36% foram pagos com cartões de crédito. Apenas 4,6% das transações foram financiadas, o que mostra o grande espaço para o aumento das vendas a prazo do Pão de Açúcar. Além disso, os milhares de clientes que todos os dias fazem suas compras no Pão de Açúcar passam agora a ser candidatos naturais a tornarem-se clientes do Itaú. Além disso, eles serão alvo de maciças campanhas de vendas de seguros e cartões, áreas em que o Itaú vem mostrando um desempenho menos expressivo que a concorrência.
A associação com o Pão de Açúcar permite ao banco das famílias Villella e Setubal queimar etapas na área em que está mais atrasado em relação a seus concorrentes privados de varejo nacional, o crédito direto ao consumidor. A tendência recente dos bancos é adquirir operações de crédito de massa já em funcionamento, comprando conhecimento técnico e enormes cadastros de clientes. Os maiores exemplos foram do Unibanco, que fechou parcerias com a Hipercard, empresa de cartões da rede de supermercados nordestina BomPreço, do Bradesco, que adquiriu a financeira Zogbi, e, mais recentemente, do banco HSBC, que associou-se à rede de distribuição de derivados de petróleo BR Distribuidora, gerindo 1,5 milhão de cartões. O Itaú é considerado pelo mercado como tendo operações de cartões de crédito e de seguros aquém de sua capacidade bancária. A associação pode vir a ser uma maneira de superar essa deficiência.
Troca de banqueiro
Para o Pão de Açúcar, a transação representa não apenas uma associação no varejo, mas a decisão de trocar de banqueiro. Historicamente, desde que o empresário Abílio Diniz passou por dificuldades no início dos anos 80, seu principal parceiro bancário era o Unibanco, que o auxiliou a superar seus problemas financeiros. A partir da negociação fracassada do Pão de Açúcar para comprar a Bompreço (em que foi assessorado pelo Banco BBA), estabeleceu-se uma relação mais próxima entre a rede de supermercados e os executivos do BBA. O banco de Fernão Brache foi absorvido pelo Itaú em 2002, trazendo consigo a boa relação com o Pão de Açúcar.
Para o Unibanco, a decisão de Diniz representa a perda de um importante cliente. No entanto, quem conhece os meandros do prédio negro à beira do Rio Pinheiros, na capital paulista, sabe que essa decisão era apenas questão de tempo. Quando fecharam negócio com os americanos da Wal-Mart para crescer no Nordeste pela associação com o Hipercard, os executivos do Unibanco sabiam que estavam colocando em risco sua associação com a empresa de Abílio Diniz.