Embora não haja receita de bolo, casar prazos dos títulos com seus objetivos é uma boa ideia (Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2013 às 17h01.
São Paulo – Investidores que se aventurem a ler um pouco mais sobre o Tesouro Direto podem ficar um pouco assustados como sobe-e-desce dos títulos públicos e os fatores econômicos que podem impactá-los. Embora desenhado para o pequeno investidor, a aplicação pode acabar parecendo complicada demais.
Mas se você só está preocupado em ganhar mais que a poupança com baixo risco, há algumas formas de investir no Tesouro sem precisar se preocupar muito com o noticiário econômico ou ficar acompanhando o desempenho dos títulos no dia a dia.
Veja o que você precisa saber para investir no Tesouro Direto com mais tranquilidade:
1. Conheça as características dos títulos
O Tesouro Direto é uma plataforma online do Tesouro Nacional para que o pequeno investidor possa comprar diretamente, via corretora, títulos públicos. Hoje, existem basicamente dois tipos de títulos: as letras, de prazos mais curtos, e as notas, de prazos mais longos.
Esses títulos se subdividem em:
- Pós-fixados: são as Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Sua remuneração é atrelada à taxa básica de juros (Selic), atualmente em 7,50% ao ano. Beneficia-se de um cenário de alta de juros, pois quando a Selic sobe, a remuneração sobe, e vice-versa.
- Prefixados: são as Letras do Tesouro Nacional (LTN) e Notas do Tesouro Nacional-série F (NTN-F), que pagam uma rentabilidade acordada no ato da compra. São bons para cenários de juros em queda, pois fixam a remuneração no ato da compra, protegendo o investidor de um corte futuro na Selic.
- Indexados à inflação: são as Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B), que pagam um juro prefixado (acordado no ato da compra) mais a inflação pelo IPCA, o índice oficial do governo. São bons para cenários de juros em queda, principalmente quando a inflação, ainda que controlada, esteja alta e ameace o poder de compra do investidor.
2. Fique com os títulos até o vencimento
Como são papéis de renda fixa, os títulos do Tesouro têm formas de remuneração predefinidas. Se você precisar resgatar o dinheiro, é possível vendê-los todas as quartas-feiras, o que garante a esses papéis alta liquidez.
Ocorre que o valor dos títulos também oscila no tempo. De acordo com as mudanças de cenário econômico e de previsões do mercado, os títulos podem se valorizar ou desvalorizar. Assim, se você os resgatar antes do vencimento, e seus títulos estiverem em um momento de baixa, é possível até perder dinheiro.
Ao montar uma carteira de títulos, o investidor consegue perceber as oscilações. Para não correr risco algum de ser afetado por elas, o melhor é se programar para efetuar os resgates apenas quando os títulos vencerem. Nesse caso, você garante a rentabilidade combinada no ato da compra.
Note ainda que você pode obter remunerações antes disso. As notas, que são títulos mais longos, pagam uma remuneração a cada seis meses, o chamado cupom. Ele cai na sua conta, e você pode reinvesti-lo ou não.
3. Defina objetivos e prazos
Investidores mais experientes podem se aproveitar das variações nos preços dos títulos para lucrar mais. No ano passado, por exemplo, quem comprou NTN-Bs de longo prazo no início do ano e as manteve na carteira apenas até o fim de 2012 chegou a ter rendimento de 50%.
Mas isso é especulação, e para fazê-lo é preciso ter mais conhecimento e acompanhar as perspectivas de mercado. Quem quiser apenas uma saída para ganhar mais que a poupança com pouco risco, basta definir prazos e objetivos.
Para não correr risco de perder dinheiro em hipótese alguma, o investidor deve tentar resgatar o dinheiro apenas no vencimento do título, ou perto dele. Assim, é importante tentar casar os prazos dos títulos com a data em que você vai precisar do dinheiro.
- Curto prazo (até dois anos): LFT. Esse é o título mais conservador e de maior liquidez. Por flutuar ao sabor da Selic, a remuneração costuma ser bem próxima à da taxa de juros, mesmo que os resgates ocorram antes do vencimento. Principalmente no caso das LFTs de prazo mais curto, que são menos sensíveis às flutuações de mercado.
- Médio e longo prazo: prefixados e NTN-B. Como esses papéis têm prazos de muitos anos e seus preços oscilam bastante, o ideal é resgatar o dinheiro apenas no vencimento ou perto dele, para não correr risco de perder dinheiro se o título estiver em baixa por algum motivo.
4. Separe a reserva de emergência do “resto”
O economista e consultor financeiro Beto Veiga orienta os investidores a separarem a reserva de emergência (dinheiro de curto prazo) do dinheiro voltado para objetivos de mais longo prazo.
Isso porque a reserva de emergência deve permanecer aplicada em um investimento seguro e de alta liquidez. Isto é, que possa ser resgatado com facilidade e rapidez, sem perdas. Nesse sentido, a LFT é mais indicada.
O dinheiro investido nos demais títulos deve ser o dinheiro de longo prazo, pois esta pode ser considerada como a “parcela de risco” da carteira de títulos.
“A LFT é o que tem mais liquidez de fato. Porque embora os outros títulos também possam ser resgatados toda quarta-feira, sua liquidez, na prática, fica reduzida. Não porque o investidor não vai poder sacar, mas sim porque ele pode preferir não resgatar devido a uma desvalorização dos títulos”, explica Veiga.
5. Para o longo prazo, prefira as NTN-B
Para o longo prazo, o consultor gosta mais da NTN-B, desde que o vencimento case com o prazo de uso do dinheiro. “É o melhor caminho para ter proteção em relação à inflação e uma taxa de juros fixa”, diz.
O professor de finanças da FGV, Samy Dana, também gosta bastante desse título. “Estamos em um momento muito incerto em relação à inflação. Na NTN-B, você não sabe quanto vai ganhar ao certo, mas sabe que vai ganhar mais que a inflação. É uma das poucas aplicações para o pequeno investidor hoje que oferecem essa proteção ao poder de compra”, explica.
Ele acrescenta ainda que o risco da inflação corroer o valor do dinheiro é mesmo maior no longo prazo. “A inflação até o fim do ano é mais fácil de prever. O problema é fazer esta estimativa para dois, três anos”, conclui.
6. Use os prefixados para pagamentos futuros
Por não oferecerem proteção contra a inflação, as LTN e NTN-F parecem não ter muito lugar na carteira do pequeno investidor. Comparados às NTN-B, esses títulos têm mais risco. Esse risco só fica reduzido porque eles costumam ter prazos mais curtos que as NTN-B.
“Na NTN-B, você já está protegido contra a inflação. Mas nos prefixados que não oferecem essa proteção, o investidor teria que estimar a taxa de juros e também a inflação futura”, explica Beto Veiga.
Mas mesmo para o investidor mais conservador, há espaço na carteira para esses títulos. Primeiro, como forma de diversificação. “Quando você investe em uma LTN, você está se protegendo caso o mercado cometa um erro na previsão das taxas de juros”, explica Veiga.
Mas há outro uso bem conservador para esses papéis. “Vamos supor que o investidor tenha um pagamento a ser feito em uma determinada data. Se houver títulos que casem com essa data, é possível saber quanto investir para obter o valor necessário naquela data. O investidor fica protegido de movimentos da Selic”, exemplifica o consultor.
7. Atenção aos custos
O investimento no Tesouro Direto só pode ser feito por meio de corretoras, e para facilitar a vida é tentador permanecer na corretora do seu próprio banco. Contudo, a maioria das corretoras cobra uma taxa de administração para essa operação, que se soma a uma taxa de custódia obrigatória de 0,3% ao ano, paga à Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).
Junto com o imposto de renda, essas cobranças afetam a rentabilidade dos títulos. Portanto, convém buscar a corretora mais econômica possível para não acabar se igualando ou até perdendo da caderneta de poupança. Ao menos no caso das LFT, que assim como a poupança, também têm a remuneração atrelada à Selic.
Além disso, quanto mais tempo o dinheiro permanecer investido, menor a alíquota de IR e maior a rentabilidade. Aplicações de até 180 dias pagam 22,5% de IR sobre a rentabilidade; de 181 a 360 dias, 20,0%; de 361 a 720 dias, 17,5%; e acima de 720 dias, 15,0%.
Há corretoras que não cobram taxa de administração, devendo o investidor pagar apenas a taxa de 0,3% ao ano de custódia à CBLC, além do IR. No cenário atual de juros, para que as LFT permaneçam mais vantajosas que a poupança em qualquer prazo, a corretora não deve cobrar taxa de administração de mais de 0,3% ao ano.
Os maiores bancos brasileiros, por exemplo, cobram mais que isso. Você pode conferir quanto cobra cada corretora no site do Tesouro Direto.
Outro fator a se prestar atenção é o custo de transferência. “As corretoras grandes, mesmo as independentes, têm conta em todos os bancos. A transferência de recursos ocorre sem que o investidor precise pagar por ela”, diz Samy Dana.
Se não for o caso, é bom também verificar se o seu pacote de serviços no banco lhe oferece transferências gratuitas via DOC ou TED todo mês, ou se é possível ao menos transferir o dinheiro da corretora para o banco sem custo. Há corretoras ainda que possibilitam o depósito via boleto bancário.
As tarifas de DOC/TED não são irrisórias, podendo variar de 6,50 a 14,40 reais nos grandes bancos. Se você transfere apenas uma pequena quantia todos os meses, essa cobrança pode ser pesada. Uma tarifa de apenas 6,50 reais para um investimento de 1.000 reais por mês já corresponde a uma “taxa” de 0,65% ao mês, apenas para o depósito na corretora.
Veja no vídeo como começar a investir no Tesouro Direto:
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