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O que esperar do mercado acionário nos próximos dez anos

Bob Doll, principal estrategista de ações da BlackRock, recomenda investimentos em países emergentes, nos EUA e em empresas de saúde, TI e energias renováveis

Construção na China: para Bob Doll, país deve continuar a ganhar poder (.)

Construção na China: para Bob Doll, país deve continuar a ganhar poder (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

SãoPaulo - Com mais de 3 trilhões de dólares sob administração, a americana BlackRock é a maior gestora de recursos de terceiros do mundo. E, dentro da BlackRock, ninguém entende mais de bolsa do que Robert Doll, vice-presidente e principal estrategista de ações da empresa. Por esse motivo, quando Doll manifesta suas opiniões sobre o mercado, muita gente para para ouvir. Nesta semana, Doll divulgou um relatório intitulado "Dez Previsões para os Próximos Dez Anos", em que diz o que espera do mercado acionário para esta década. Em resumo, Doll afirma que os anos 2010 não serão tão bons quanto as décadas de 1980 e 1990, mas a rentabilidade nas bolsas deve ser melhor que nos últimos dez anos. Entre os mercados desenvolvidos, ele aposta suas fichas nos Estados Unidos. Os emergentes, entretanto, devem continuar a ser os grandes destaques mundiais. Já em relação às empresas com futuro mais promissor, Doll aposta nos setores de saúde, tecnologia da informação e energias renováveis. Veja abaixo as dez previsões de Doll:

1 - O crescimento mundial será puxado pelos consumidores de países emergentes: Nas próximas décadas, os Estados Unidos devem manter sua posição de liderança econômica, mas não serão mais um "rei incontestável". A recuperação econômica global vista em 2009 foi puxada pelos emergentes e mostra como a correlação de forças mundial está em rotação. "O crescimento do consumo privado em mercados emergentes já é maior que nos mercados desenvolvidos, o aumento salarial ainda é alto e a população de mercados emergentes é relativamente jovem e aproveita de uma formação cada vez melhor", diz. De acordo com uma análise da PricewaterhouseCoopers, até 2050 as sete maiores economias emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia, México, Indonésia e Turquia) devem ser aproximadamente 50% maiores que o atual G7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá).

2 - O peso dos mercados emergentes deve aumentar: Ao mesmo tempo em que suas economias crescerão mais que o resto do mundo, os países em desenvolvimento passarão a ter um peso maior nos mercados. Em 1989, o índice de ações MSCI All Country World Índex tinha apenas oito países emergentes que representavam 2% da carteira. Hoje, são 22 países e 12% do portfólio. "Em dez anos, esse nível será notadamente maior", diz.

3 - A ascensão econômica e política da China continua: Em 2009, a China passou a Alemanha como maior exportador mundial, e deve passar o Japão e se tornar a segunda maior economia mundial no ano que vem. A China já é o líder em vendas de automóveis e produção de aço, é o maior comprador de títulos do governo norte-americano e possui as maiores reservas em moeda estrangeira. Ao mesmo tempo, a China está apenas no estágio inicial de industrialização. "A população chinesa continua crescendo rapidamente. O país conta com uma grande variedade de recursos naturais. O nível de consumo por pessoa é baixo e deve subir. E o governo chinês está ativamente promovendo políticas de urbanização", diz.


4 - Saúde, tecnologia da informação e fontes alternativas de energia são as principais áreas de crescimento nos EUA: Os setores de saúde, TI e fontes alternativas de energia devem passar por grandes inovações que deverão sustentar seu crescimento nos próximos anos. É praticamente certo que o nível de gastos com saúde deva aumentar com uma população que está envelhecendo. Avanços em biotecnologia e o crescimento de pesquisas baseadas no paciente são outras possíveis fontes de crescimento. O impacto da tecnologia da informação deve crescer com o crescimento de novos tipos de computadores e aparelhos de entretenimento, avanços na velocidade e capacidade dos microprocessadores, inovações como a computação em nuvem e a emergência de ferramentas de redes sociais como fontes de crescimento econômico. O desenvolvimento de fontes alternativas de energia deve receber o apoio de impostos sobre emissões de carbono cada vez maiores. "A inovação em energia depende das realidades de abastecimento - como a disponibilidade cada vez menor de carvão - e questões geopolíticas - uma grande parte do petróleo no mundo é controlada por governos não muito bem relacionados com os Estados Unidos", diz.

5 - As ações nos EUA devem registrar retorno de um dígito ao ano: O índice S&P 500 deve atingir o nível de 2.034 pontos até o final da década – no último dia 30 de julho, fechou em 1.102 pontos. Esse deve representar um ganho anual de preços da ordem de 6,2% e um rendimento de dividendos de 1,9%, com um retorno total estimado em 8,1%.

6 - As recessões devem ocorrer com mais frequência: Nos últimos 20 anos, a economia entrou em recessão uma vez a cada oito anos, comparado com um em cada 3,8 anos na média dos últimos cem anos. Na próxima década, a frequência das recessões deve se aproximar da média histórica. "O que os investidores passaram a aceitar - recessões infrequentes - é, na realidade, anormal", diz. As recessões devem ocorrer com mais frequência porque a atual recuperação global continua acompanhada de dívida e alavancagem. "O consumidor americano ainda sofre com muitas dívidas, o sistema bancário no mundo desenvolvido ainda enfrenta grandes problemas e a crise da dívida soberana na Europa mostra que o mundo ainda sofre de problemas na redução de alavancagem."

7 - O dólar continuará perdendo preeminência: A moeda americana perdeu valor nos últimos dez anos e essa tendência deve se manter, já que o endividamento dos Estados Unidos segue em crescimento. É importante notar que não há outra moeda que possa substituir o dólar como moeda usada em transações globais, já que o iene e o euro sofrem com a instabilidade econômica do Japão e da Europa. O dólar deve, na verdade, ganhar valor em relação a essas duas moedas, mas se desvalorizar ante moedas menos negociadas de mercados emergentes. Por ser a moeda mais líquida do mundo, o dólar também deve continuar a subir em momentos de estresse no mercado, pois os EUA serão o país buscado por investidores que quiserem segurança. Por ser outra alternativa em tempos de turbulência, o ouro deve continuar valorizado.


8 - As taxas de juros subirão de maneira irregular: As taxas de juros estão baixas ao redor do mundo, mas a reversão dessa tendência acontecerá. Nos Estados Unidos, o endividamento cresce rapidamente, e isso levará à necessidade de uma política monetária mais apertada. Hoje os juros estão baixos para estimular a economia. Nos próximos anos, a tendência é de que os países saiam de uma tendência deflacionária e voltem a sofrer pressões inflacionárias.

9 - O interesse de países em resolver seus próprios problemas deve criar mais conflitos políticos e comerciais: Nos últimos dois anos, a tendência mundial de redução de barreiras comerciais parece ter se revertido. A crise global resultou em um notável crescimento das políticas protecionistas - o mesmo fenômeno observado durante a década de 1970. Até os EUA chegaram a debater medidas para incentivar a compra de produtos americanos. Enquanto as taxas de desemprego estiverem altas, é provável que novas medidas protecionistas continuem a ser adotadas ao redor do mundo.

10 - Com uma população mais velha, a Europa passa a enfrentar alguns dos problemas do Japão: A Europa deve enfrentar grandes problemas econômicos estruturais e questões demográficas semelhantes aos problemas que assolaram a economia japonesa desde o início dos anos 90. "Os legisladores europeus foram muito lentos em sua reação à crise financeira. O Banco Central da Europa aumentou as taxas de juros em meados de 2008 enquanto a crise de crédito tomava forma e mesmo quando os preços dos ativos começavam a entrar em colapso", diz. "A Europa e o Japão dependem de exportações para garantir seu crescimento econômico. Por isso, estão mais suscetíveis a choques externos." Como no Japão, a força de trabalho europeia está encolhendo, e isso deve prejudicar a região.

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