Mulher olhando o celular no carro: apps são "Big Brother" da vida do motorista. (Wavebreakmedia Ltd/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 23 de outubro de 2017 às 05h00.
Última atualização em 20 de novembro de 2018 às 15h06.
São Paulo - Postou foto na balada tomando um drink e dirige com frequência de madrugada? Você tem menos possibilidades de ter um seguro de carro mais barato. Parece mentira, mas isso realmente pode acontecer se você optar por usar aplicativos lançados por startups e seguradoras.
Uma delas é a Thinkseg, cujo app está disponível para smartphones com sistema Android e iOs. Já o Direção em Conta, da seguradora Liberty, também está disponível para aparelhos com sistema Android e iOs. Essas novas ferramentas prometem monitorar tudo o que você faz ao dirigir e também nas redes sociais. O intuito é avaliar se o preço que você paga pelo seguro é justo.
A equação é simples: a tecnologia de monitoramento, que utiliza o GPS e sensores do celular, e a inteligência artificial de softwares das empresas conseguem reunir mais elementos do que a equação simplista tradicionalmente usada pelas seguradoras: idade e endereço. "Sabemos que todos os jovens de 20 anos não dirigem da mesma forma", diz Patricia Chacon, diretora de marketing e estratégias da seguradora Liberty.
Coletando mais informações sobre o comportamento de cada motorista, é possível premiar os que dirigem melhor com descontos. É como se fosse um "cadastro positivo" do seguro auto.
Para avaliar se um motorista dirige bem, os aplicativos conseguem registrar aceleradas e freadas bruscas, curvas acentuadas e ultrapassagem de limites de velocidade, por exemplo. A cada ocorrência, o score do motorista fica mais baixo.
No campo do comportamento fora da direção, os apps também podem analisar classe social, hábitos (como dirigir em lugares ou horários mais perigosos), educação e até hábitos alimentares e esportivos.
Os apps também conseguem verificar, por exemplo, se o motorista dirige mais em rodovias ou estradas de terra, entre outras variáveis.
O monitoramento é automático: não é necessário que o motorista fique abrindo e fechando o app para que ele contabilize as viagens feitas, a não ser que faça esta opção, em alguns casos.
Não é necessário ter um seguro para usar os apps: a ideia é tanto atrair novos clientes como dar condições melhores para quem já contratou a proteção. As empresas buscaram criar ferramentas que não gastem muita bateria e não consumam o plano de dados dos usuários.
A Thinkseg é uma plataforma que busca reunir, com um app próprio que analisa a direção de usuários, seguradoras e clientes, diz o CEO Andre Gregori. A plataforma já tem nove parceiros, dentre eles as seguradoras Bradesco Seguros, QBE, Sancor e Sura. "Queremos que os bons motoristas deixem de pagar pelos maus. Nossa vantagem é que uma seguradora pode não querer ou valorizar um determinado perfil de cliente, mas a outra quer. O usuário tem mais opções e pode encontrar um preço mais adequado por conta disso", afirma o executivo.
Quem começa a usar o app da Thinkseg terá descontos ou não após um ano. A ideia é, no futuro, ir reduzindo esse tempo até que ele seja equivalente a um mês, mas enquanto isso a plataforma busca incentivar o uso com benefícios, em um sistema de pontos semelhante ao de programas de fidelidade.
O app da Liberty, lançado em junho, já reúne 9 mil usuários. Do total, 2.500 já completaram o programa de monitoramento, que dura dois meses. "A maioria recebeu descontos", diz Patricia. Para completar o programa, é necessário fazer, ao menos, 20 viagens neste período. O desconto concedido ao final do programa vale por tempo indeterminado.
Contudo, a média de descontos obtidos pelos usuários do app da Liberty foi de, em média, 10%. "É difícil atingir o desconto máximo que oferecemos, de 30%", diz Patricia. A ferramenta, assim como a da Thinkseg, verifica até quantas vezes o motorista mexe no celular durante as viagens. "Entendemos que dessa forma ele se distrai e isso pode causar acidentes".
Até que o app saiba automaticamente qual o estilo de direção do motorista, ele pode contabilizar viagens de táxi e até de bicicleta, explica Patrícia, da Liberty. "Por conta disso, ao final de cada viagem damos ao motorista a opção de dizer se naquela viagem ele foi o condutor e se ela foi feita em um carro".
Outras seguradoras, como a Youse e a Bradesco Seguros, ainda não concedem descontos, mas já entraram na onda dos apps que avaliam a direção de quem tem ou pretende ter um seguro para o carro.
A Youse lançou, no final de setembro, o Youse Trips, disponível para aparelhos com sistema Android e iOs e que já tem 1,500 usuários cadastrados. A ideia, diz o diretor de tecnologia, Alvaro Anton, é começar a reunir informações para dar descontos mais eficientes no futuro. "Hoje quem usa o carro apenas nos finais de semana paga o mesmo valor pelo seguro de quem usa o carro a semana toda. Não deveria", exemplifica o executivo. A plataforma da Caixa já deu um primeiro passo para premiar bons motoristas ao devolver até 50% do valor do seguro para quem não bater o carro.
Já a Bradesco Seguros lançou o Dirija Bem, que pode ser baixado em smartphones com sistema Android e iOs. Por enquanto o app, que permite ao motorista acompanhar pelo seu celular todas as suas viagens, além de avaliar o seu comportamento ao volante, não rende descontos. Mas a ideia é reunir informações para passar a oferecer preços mais baixos pela proteção no início do ano que vem.
Para incentivar o uso dos apps, ambas as seguradoras concedem benefícios para usuários, assim como a Thinkseg e a Liberty. A Youse Trip aposta na gamificação: a cada desafio completado, que pode ser realizar 20 viagens pelo app, por exemplo, os usuários concorrem a prêmios. São desde aparelhos eletrônicos, como Kindles, a serviços gratuito, como lavagem do carro.