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Crise do crédito afeta agronegócio no Brasil, diz corretora

Fator avalia impacto nas ações do BB, Sadia, Perdigão, Fosfertil, ALL e outras

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A crise global nos mercados financeiros irá afetar o agronegócio no Brasil e pode comprometer os resultados da safra 2008/2009, segundo avaliação da Fator Corretora. A escassez de crédito para o plantio é especialmente séria, tendo em vista que os produtores rurais têm um curto período para comprar suplementos agrícolas, preparar o solo e semear suas terras, já que, tradicionalmente, o período para plantio da safra de verão vai de agosto (na região Sul) a novembro (no Nordeste).

Além disso, o cenário irá piorar se o clima não cooperar. Apesar da chuva dos últimos dias, os produtores estão preocupados com a seca registrada entre julho e agosto e a incomuns baixas temperaturas anotadas na atual época do ano. Vale lembrar que a seca já está afetando o resultado de algumas culturas no Sul do país. Na região central do Paraná, por exemplo, choveu apenas 20 milímetros no mês de agosto, 70 milímetros menos que a média registrada para o período.

A escassez de crédito irá afetar os produtores de todo o país, independente de seu tamanho. Há relatos de bancos internacionais que cancelaram créditos já aprovados para grandes produtores e exportadores. Também foi reduzido o crédito para as tradings, que tradicionalmente financiam a atividade agrícola, em razão da volatilidade dos preços de grãos nos mercados futuros.

Desta forma, os produtores são forçados a recorrer aos empréstimos dos bancos brasileiros, enquanto os preços de suplementos agrícolas estão substancialmente altos. Outro fator a ser levado em consideração é a recente queda nos preços das commodities agrícolas, mesmo com os valores sendo mantidos em níveis ainda elevados na comparação com a média histórica.

Preocupado com o risco de que a escassez de crédito internacional venha a comprometer a safra agrícola, o governo federal está adotando medidas preventivas, como o já anunciado reforço de 5 bilhões de reais nas linhas de crédito para a agricultura e a antecipação do crédito agrícola previsto pelo Banco do Brasil. No entanto, o acesso a tais linhas pode ficar restrito em muitos casos, principalmente em razão de acordos de renegociação de débitos referentes às safras de 2003/2004 e de 2005/2006 feitos por produtores.

Outras medidas governamentais que podem estar em estudo são: redução de 9,25% para 4,75% na alíquota de PIS e COFINS que incide sobre a cadeia produtiva da carne; liberação de recursos dos depósitos compulsórios dos bancos; aumento da vinculação de recursos para crédito ao setor agrícola; e liberação de recursos para as tradings.

Desta forma, a Fator Corretora prevê que diversos setores e empresas incluídas em sua área de pesquisa poderão ser afetados por uma conjunção fatores, como a restrições ao crédito, pressões em razão dos custos e problemas climáticos, que podem mexer com o setor de agronegócios. Abaixo, segue análise relacionada a alguns setores e empresas:

Açúcar e Álcool

O crédito escasso é um fator negativo e deve afetar as estimativas de produção para a próxima safra, já que a produção de cana-de-açúcar exige consideráveis recursos a serem investidos em trabalho intensivo no início do ciclo, principalmente no financiamento de suplementos e mão-de-obra.

Também pode haver redução dos investimentos das usinas, especialmente em equipamentos e ampliação da capacidade produtiva. Por outro lado, a desvalorização do real ante o dólar pode compensar parte das perdas. A Fator tem recomendação de “manter” para as ações da São Martinho e preço-alvo de 25 reais. Já a avaliação da Cosan estão em revisão.

Instituições financeiras

Entre os bancos brasileiros, o Banco do Brasil (com ações ON a R$ 14 no encerramento de sexta, baixa de 4,44%), por ser o principal agente financiador do agronegócio, pode ser o mais afetado pela perspectiva de uma ocasional redução nas estimativas de safra agrícola e/ou o aumento nos preços de suplementos agrícolas.

Para justificar essa perspectiva, a Fator Corretora recorre a uma análise que vincula efeitos negativos sobre os resultados do Banco do Brasil (especialmente por ter promovido o refinanciamento de débitos de produtores) em razão de recentes crises no setor de agronegócios brasileiro: ao final de 2004, diante de problemas climáticos em São Paulo e Mato Grosso do Sul; e em 2005, em razão do embargo russo à carne brasileira, aumento da competição internacional por preços e outros fatores.

Fertilizantes

Diante de um cenário positivo, estimulado por demanda em alta, elevados preços de commodities e grande consumo de etanol no Brasil, a indústria de fertilizantes Fosfertil (cujas ações PN encerraram a R$ 12,00 na sexta-feira, alta de 0,93%), assim como produtores e toda a cadeia vinculada ao mercado agrícola, registrou forte aceleração no primeiro semestre de 2008. No entanto, o setor de fertilizantes pode vir a sofrer um impacto negativo em razão de eventuais dificuldades que os produtores agrícolas venham a ter para obter financiamento produtivo.

Em compensação, a desvalorização do real frente ao dólar não deve pressionar as margens de lucro da empresa, tendo em vista que os preços do produto são firmados pelo mercado internacional e repassados aos consumidores locais.

Vale atentar para o fato de que, justamente em razão de uma eventual alta de preços, conjugada a uma desvalorização cambial e à retração do crédito rural, pode haver redução no volume de venda de fertilizantes. Em razão disso, haveria menor uso do produto e, conseqüentemente, perdas de produtividade agrícola.

A Fator avalia, porém, que a Fosfertil encontra-se em uma situação positiva diante dos recentes problemas na economia global, pois a empresa dispõe de uma boa posição de recursos em caixa e reduzido endividamento.

Setor de autopeças

As empresas de autopeças que podem ser moderadamente afetadas pela crise das commodities agrícolas são a Randon e Iochpe-Maxion. A Randon (indústria de autopeças, veículos e implementos, com ações PN a R$ 7,64, queda de 12,18% na sexta) tem apenas 7% de seus rendimentos relacionados ao segmento de transporte de grãos. Assim, de acordo com a análise da corretora, em uma eventual quebra da safra 2008/2009, as vendas da empresa não devem sofrer impacto muito significativo.

Já o grupo Iochpe-Maxion (fabricante de rodas e chassis para veículos comerciais e de vagões de carga e fundidos ferroviários, cujos papéis ON encerraram a R$ 13,60 na sexta, queda de 8,72%) registra 27% de suas vendas consolidadas originárias da divisão Amsted-Maxion. Apenas 2% dos clientes desta divisão estão relacionados ao transporte de grãos. Desta forma, estima-se que problemas eventuais com a atual safra de grãos não terão impacto muito notável sobre as vendas da Amsted-Maxion.

Produtos alimentícios

A redução na oferta de grãos deve ser diretamente relacionada à estrutura de custos e ao faturamento de cada empresa do setor alimentício. Quanto maior a exposição aos preços dos grãos, maior será o impacto no custo consolidado das companhias.

No caso de uma queda no preço dos grãos, a avaliação é de que a M. Dias Branco (que atua na fabricação e venda de biscoitos e massas alimentícias, na moagem de trigo, refino de óleo, etc., com ações ON cotadas a R$ 16,00, baixa de 5,33% na sexta) seria a empresa que pode receber o impacto mais positivo, já que 50% de seus custos estão vinculados à compra de trigo.

Já em relação à indústria de alimentos Sadia (papéis PN fechados a R$ 4,40 na sexta, baixa de 3,08%), a análise estima que seus principais custos estão atualmente em 10% na embalagem; 29% com milho e soja; 7% com óleo de soja e 12% com farinha de trigo e queijo. A previsão é de que eventuais aumentos de preços nos grãos sejam imediatamente repassados ao consumidor.

Em relação às ações da indústria alimentícia Perdigão (das quais as ações ON caíram 6,85% na sexta, a R$ 27,20), como os segmentos de leite e laticínios representam 24% do faturamento consolidado no segundo trimestre de 2008, a influência da variação do preço dos grãos é menos relevante do que no caso da Sadia.

Infra-estrutura

Entre as empresas de infra-estrutura que podem ser afetadas pela crise nas commodities agrícolas, a análise da Fator destaca a ALL (América Latina Logística, com Units negociadas a R$ 10,95 na sexta, avanço de 0,37%). Cerca de 70% de seu faturamento vem do transporte de produtos agrícolas. Em um cenário de queda persistente de preços agrícolas, a empresa tende a perder tanto em preço como em volume. Além disso, a companhia está exposta ao risco de eventuais secas regionais.

O que contribui para mitigar os riscos de redução de margens de lucro da ALL no curto prazo são os cerca de 70% de contratos da empresa firmados na modalidade take-or-pay (em que as empresas são obrigadas por contrato a assumir os custos de transporte mesmo sem realizá-lo).

Caso a crise termine no curto prazo, o impacto sobre a ALL será pequeno. Por outro lado, se a crise se prolongar, a empresa será mais significativamente afetada, diante da necessidade de rever seus contratos sob menos atraentes condições.

Log-In (empresa de logística intermodal - com papéis ON a R$ 4,95, baixa de -8,16% na sexta), Santos Brasil (terminal de contêineres - Units a R$ 10,40, queda de 7,56%) e as administradoras de concessões de rodovias CCR (papéis ON em baixa de 4,53%, a R$ 20,00) e OHL (ações ordinárias a R$ 10,63, queda de 2,48%) podem ser negativamente afetadas, porém em menor extensão.

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