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Como planejar as finanças para tirar um sabático

Quanto custa e como deve ser feito o planejamento financeiro para quem quer tirar um período para crescer pessoal e profissionalmente

Um sabático de um ano pela região da Toscana pode custar um total de 50.000 euros (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2012 às 08h15.

São Paulo - Popularizado com o filme "Comer, Rezar, Amar", o período sabático é uma prática já realizada há alguns anos por profissionais do mundo todo que decidem interromper a carreira por algum tempo em busca de novas inspirações, conhecimentos e um novo rumo para a vida no geral. Durante o sabático, alguns escolhem fazer cursos, trabalhos voluntários e outros preferem simplesmente viajar para conhecer novas culturas. Mesmo com diferentes objetivos, destinos e formas, existe um ponto em comum: o planejamento para o período, tanto financeiro, profissional, quanto pessoal, que permite que a experiência seja aproveitada em sua plenitude.

A prática inspirada no shabbath judaico (dia de descanso semanal no judaísmo, que simboliza o sétimo dia no livro do Gênesis) ganhou seu sentido moderno em 1880, depois que a Universidade de Harvard concedeu ao filósofo Charles Lanman o direito de passar um ano de descanso remunerado a cada seis anos de trabalho, contanto que ele permanecesse no quadro de docentes. Desde então, o sabático só tem se difundido cada vez mais e nas últimas décadas, a temporada sabática já praticamente se institucionalizou entre jovens recém-formados nos EUA, Canadá e Europa.

Apesar de no Brasil nem todas as empresas aceitarem congelar a vaga de um profissional que passa pela experiência, muitas já estão olhando o sabático com bons olhos. “Há dez anos atrás era diferente, mas como estamos em um apagão de mão de obra, está havendo uma mudança no mercado e as empresas preferem perder o funcionário para um curso de dois anos e depois tê-lo de volta do que perdê-lo para sempre”, afirma Eliana Dutra, coach e diretora-executiva da Pro-Fit RH.

Planejamento profissional

Comunicar à empresa sobre o sabático de forma adequada pode beneficiar bastante o planejamento da viagem. O publicitário Vinicius Romolo, avisou seu chefe sobre o sabático com quatro meses de antecedência e pediu que a empresa o demitisse para conseguir mais benefícios com a rescisão. “O meu chefe conversou com a diretoria e eles aceitaram. A diretora gostou muito da ideia e me incentivou até”. Com os benefícios, ele pagou parte dos gastos do sabático pela Austrália, Indonésia, Tailândia, Laos, Camboja e Malásia, que custou 20.000 dólares no total.

D.L.C., analista sênior de uma empresa de coaching, ficará sete meses em Oxford e anunciou a viagem também com quatro meses de antecedência. “Eu joguei limpo, falei que eu queria mudar de área e desenvolver meu inglês. Eu disse que poderia ficar na empresa até a data da viagem para treinar outras pessoas”, diz. Depois de um mês, D.L.C recebeu um aumento salarial de 50% como resultado do compromisso com os treinamentos de novos funcionários. Seus chefes disseram inclusive que se ela tivesse interesse, eles conseguiriam uma vaga na filial da empresa em Londres e que as portas estariam sempre abertas.


Eliana Dutra explica que é essencial que a intenção de fazer o sabático seja exposta o quanto antes para que a empresa seja uma aliada do profissional durante o processo. “É diferente de falar: eu vou me divorciar de você, é mais como um: quero melhorar o casamento”. Mesmo que os chefes garantam a vaga, deve-se contemplar a hipótese de haver algumas mudanças durante o período. “O profissional deve criar uma rede de segurança. O chefe pode dizer que o emprego vai continuar lá e ele pode sair da empresa durante a viagem”, diz.

Por isso, Eliana destaca a importância de conversar com todos os stakeholders do processo: a empresa, a esposa, a família e os amigos. Como toda mudança envolve riscos, é importante que eles estejam dispostos a compartilhar alguns destes riscos também.

Planejamento financeiro

O planejamento financeiro começa somente depois que o objetivo for definido. Normalmente, o período sabático não envolve a obtenção de algum tipo de renda durante a viagem, por isso é essencial saber a duração, o custo de vida do(s) destino(s), o tipo de estadia que se pretende e se existe um curso em mente, para que os gastos sejam previstos quase com exatidão e a concentração durante o sabático não tenha que se desviar em momento algum para problemas com dinheiro.

Conrado Navarro, fundador da consultoria Dinheirama e consultor financeiro passou por um período sabático de dois anos para fazer um mestrado em Itajubá, no interior de Minas Gerais. Ele explica que pesquisou muito antes de verificar quanto reservaria por mês para o projeto. “Não adianta fazer um planejamento capenga porque você pode ter sustos nesse período, tem que tentar entender a vida que você vai levar para não ter estresse e para que seja feito exatamente o que se foi proposto”, diz.

Durante três anos, Navarro reservou por volta de 40% da sua receita para o projeto. Ele cortou gastos principalmente com lazer e com manutenção do carro - que foi trocado por um modelo mais econômico -, e também da casa. Ele se mudou de um de seus dois apartamentos, que era mais caro, para o outro, que fica em uma região menos valorizada, para reduzir o custo de vida. Durante o sabático, ele alugou os dois apartamentos para manter também uma renda durante a viagem. O custo total de seu sabático foi de 48.000 reais.

Ele orienta que o dinheiro reservado seja colocado em uma aplicação. Como o objetivo é bancar a viagem e não obter altos rendimentos, não é indicado que os valores sejam aplicados em renda variável para que não se corra o risco de sofrer prejuízos e comprometer o objetivo. Restando a renda fixa, portanto, deve-se avaliar o período disponível para o investimento. No curto prazo, até um ano, a poupança pode ser a melhor opção, e acima de um ano são mais vantajosos investimentos em Tesouro Direto, CDBs e fundos DI.


Luiz Jurandir Simões, professor de finanças da FEA-USP e sócio-diretor da QTK, passou por um sabático de sete meses em New Jersey, nos Estados Unidos. Ele orienta que, para destinos internacionais, o ideal é que o investimento seja feito em instrumentos cambiais, para que os rendimentos variem de acordo com o câmbio e não minguem no caso de uma desvalorização do real. A aplicação em um fundo cambial pode ser ideal neste caso, uma vez que os aportes feitos podem render de acordo com a variação do dólar e do euro. Veja como aplicar em um fundo cambial.

Simões conta que cerca de 45% do seu orçamento passou a ser destinado aos investimentos para o sabático, que começou a ser planejado com dois anos de antecedência. O custo total foi de 29.000 dólares. Ele conseguiu fazer a economia principalmente cortando gastos com lazer. O montante economizado previa arcar com gastos de transporte, estadia, alimentação, lazer e também com o plano de saúde. Ele utilizou o mesmo plano de saúde do Brasil, que cobria qualquer problema de saúde emergencial fora do país. Ele também já saiu do Brasil com a estadia definida e ressalta que este é um dos pontos prioritários para definição do orçamento.

Antes de partir, ele vendeu o carro, mas não usou o valor da venda no sabático. “Eu vendi meu carro e deixei o valor investido para comprar outro carro quando voltasse. Vale a pena vender porque o carro deprecia e você tem que pagar seguro”, explica. Justamente por conta da depreciação, vender o carro para investir na viagem tem sido uma alternativa muito usada para ajudar a pagá-la.

Como eram sete meses, o professor não alugou o apartamento em que morava, apenas o emprestou para uma prima que cobriu durante o período as despesas com condomínio e outras contas. “Além de ser difícil alugar em poucos meses, com o aluguel você obtém uma renda, mas depois tem que repor a depredação do apartamento se o cede para alguém desconhecido”, diz.

O professor recomenda que não sejam usados os investimentos reservados para a aposentadoria no sabático e que se for preciso utilizar os recursos de outros investimentos que já existiam, ele orienta que sempre seja mantida uma parte dos investimentos como um colchão de liquidez, ou seja, uma reserva de valor para o caso de ocorrer algum tipo de emergência.

Existem ainda outras formas de viabilizar a experiência. Herbert Steinberg, autor do livro Sabático - Um Tempo Para Crescer, trilhou o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha - além de visitar mais algumas cidades - durante três meses sem tirar um centavo do bolso. Ele apresentou o projeto do livro para algumas empresas e conseguiu um patrocínio para o sabático, além de angariar doações para entidades sociais. “Muita gente não faz o sabático por falta de tempo e dinheiro, mas quando você mostra que o projeto é sério, que não é uma crise existencial, com uma boa ideia você pode conseguir patrocínios e também incentivos da sua própria empresa”, afirma.

EXAME.com ouviu as histórias de seis pessoas que tiraram um período sabático, e os valores variaram de 3.000 reais (um mês na Chpada Diamantina, Bahia) a 50.000 euros, o equivalente hoje a quase 130.000 reais (um ano na região da Toscana, na Itália). Veja aqui as histórias e os detalhes sobre os custos dessas seis diferentes viagens.

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São Paulo - Popularizado com o filme "Comer, Rezar, Amar", o período sabático é uma prática já realizada há alguns anos por profissionais do mundo todo que decidem interromper a carreira por algum tempo em busca de novas inspirações, conhecimentos e um novo rumo para a vida no geral. Durante o sabático, alguns escolhem fazer cursos, trabalhos voluntários e outros preferem simplesmente viajar para conhecer novas culturas. Mesmo com diferentes objetivos, destinos e formas, existe um ponto em comum: o planejamento para o período, tanto financeiro, profissional, quanto pessoal, que permite que a experiência seja aproveitada em sua plenitude.

A prática inspirada no shabbath judaico (dia de descanso semanal no judaísmo, que simboliza o sétimo dia no livro do Gênesis) ganhou seu sentido moderno em 1880, depois que a Universidade de Harvard concedeu ao filósofo Charles Lanman o direito de passar um ano de descanso remunerado a cada seis anos de trabalho, contanto que ele permanecesse no quadro de docentes. Desde então, o sabático só tem se difundido cada vez mais e nas últimas décadas, a temporada sabática já praticamente se institucionalizou entre jovens recém-formados nos EUA, Canadá e Europa.

Apesar de no Brasil nem todas as empresas aceitarem congelar a vaga de um profissional que passa pela experiência, muitas já estão olhando o sabático com bons olhos. “Há dez anos atrás era diferente, mas como estamos em um apagão de mão de obra, está havendo uma mudança no mercado e as empresas preferem perder o funcionário para um curso de dois anos e depois tê-lo de volta do que perdê-lo para sempre”, afirma Eliana Dutra, coach e diretora-executiva da Pro-Fit RH.

Planejamento profissional

Comunicar à empresa sobre o sabático de forma adequada pode beneficiar bastante o planejamento da viagem. O publicitário Vinicius Romolo, avisou seu chefe sobre o sabático com quatro meses de antecedência e pediu que a empresa o demitisse para conseguir mais benefícios com a rescisão. “O meu chefe conversou com a diretoria e eles aceitaram. A diretora gostou muito da ideia e me incentivou até”. Com os benefícios, ele pagou parte dos gastos do sabático pela Austrália, Indonésia, Tailândia, Laos, Camboja e Malásia, que custou 20.000 dólares no total.

D.L.C., analista sênior de uma empresa de coaching, ficará sete meses em Oxford e anunciou a viagem também com quatro meses de antecedência. “Eu joguei limpo, falei que eu queria mudar de área e desenvolver meu inglês. Eu disse que poderia ficar na empresa até a data da viagem para treinar outras pessoas”, diz. Depois de um mês, D.L.C recebeu um aumento salarial de 50% como resultado do compromisso com os treinamentos de novos funcionários. Seus chefes disseram inclusive que se ela tivesse interesse, eles conseguiriam uma vaga na filial da empresa em Londres e que as portas estariam sempre abertas.


Eliana Dutra explica que é essencial que a intenção de fazer o sabático seja exposta o quanto antes para que a empresa seja uma aliada do profissional durante o processo. “É diferente de falar: eu vou me divorciar de você, é mais como um: quero melhorar o casamento”. Mesmo que os chefes garantam a vaga, deve-se contemplar a hipótese de haver algumas mudanças durante o período. “O profissional deve criar uma rede de segurança. O chefe pode dizer que o emprego vai continuar lá e ele pode sair da empresa durante a viagem”, diz.

Por isso, Eliana destaca a importância de conversar com todos os stakeholders do processo: a empresa, a esposa, a família e os amigos. Como toda mudança envolve riscos, é importante que eles estejam dispostos a compartilhar alguns destes riscos também.

Planejamento financeiro

O planejamento financeiro começa somente depois que o objetivo for definido. Normalmente, o período sabático não envolve a obtenção de algum tipo de renda durante a viagem, por isso é essencial saber a duração, o custo de vida do(s) destino(s), o tipo de estadia que se pretende e se existe um curso em mente, para que os gastos sejam previstos quase com exatidão e a concentração durante o sabático não tenha que se desviar em momento algum para problemas com dinheiro.

Conrado Navarro, fundador da consultoria Dinheirama e consultor financeiro passou por um período sabático de dois anos para fazer um mestrado em Itajubá, no interior de Minas Gerais. Ele explica que pesquisou muito antes de verificar quanto reservaria por mês para o projeto. “Não adianta fazer um planejamento capenga porque você pode ter sustos nesse período, tem que tentar entender a vida que você vai levar para não ter estresse e para que seja feito exatamente o que se foi proposto”, diz.

Durante três anos, Navarro reservou por volta de 40% da sua receita para o projeto. Ele cortou gastos principalmente com lazer e com manutenção do carro - que foi trocado por um modelo mais econômico -, e também da casa. Ele se mudou de um de seus dois apartamentos, que era mais caro, para o outro, que fica em uma região menos valorizada, para reduzir o custo de vida. Durante o sabático, ele alugou os dois apartamentos para manter também uma renda durante a viagem. O custo total de seu sabático foi de 48.000 reais.

Ele orienta que o dinheiro reservado seja colocado em uma aplicação. Como o objetivo é bancar a viagem e não obter altos rendimentos, não é indicado que os valores sejam aplicados em renda variável para que não se corra o risco de sofrer prejuízos e comprometer o objetivo. Restando a renda fixa, portanto, deve-se avaliar o período disponível para o investimento. No curto prazo, até um ano, a poupança pode ser a melhor opção, e acima de um ano são mais vantajosos investimentos em Tesouro Direto, CDBs e fundos DI.


Luiz Jurandir Simões, professor de finanças da FEA-USP e sócio-diretor da QTK, passou por um sabático de sete meses em New Jersey, nos Estados Unidos. Ele orienta que, para destinos internacionais, o ideal é que o investimento seja feito em instrumentos cambiais, para que os rendimentos variem de acordo com o câmbio e não minguem no caso de uma desvalorização do real. A aplicação em um fundo cambial pode ser ideal neste caso, uma vez que os aportes feitos podem render de acordo com a variação do dólar e do euro. Veja como aplicar em um fundo cambial.

Simões conta que cerca de 45% do seu orçamento passou a ser destinado aos investimentos para o sabático, que começou a ser planejado com dois anos de antecedência. O custo total foi de 29.000 dólares. Ele conseguiu fazer a economia principalmente cortando gastos com lazer. O montante economizado previa arcar com gastos de transporte, estadia, alimentação, lazer e também com o plano de saúde. Ele utilizou o mesmo plano de saúde do Brasil, que cobria qualquer problema de saúde emergencial fora do país. Ele também já saiu do Brasil com a estadia definida e ressalta que este é um dos pontos prioritários para definição do orçamento.

Antes de partir, ele vendeu o carro, mas não usou o valor da venda no sabático. “Eu vendi meu carro e deixei o valor investido para comprar outro carro quando voltasse. Vale a pena vender porque o carro deprecia e você tem que pagar seguro”, explica. Justamente por conta da depreciação, vender o carro para investir na viagem tem sido uma alternativa muito usada para ajudar a pagá-la.

Como eram sete meses, o professor não alugou o apartamento em que morava, apenas o emprestou para uma prima que cobriu durante o período as despesas com condomínio e outras contas. “Além de ser difícil alugar em poucos meses, com o aluguel você obtém uma renda, mas depois tem que repor a depredação do apartamento se o cede para alguém desconhecido”, diz.

O professor recomenda que não sejam usados os investimentos reservados para a aposentadoria no sabático e que se for preciso utilizar os recursos de outros investimentos que já existiam, ele orienta que sempre seja mantida uma parte dos investimentos como um colchão de liquidez, ou seja, uma reserva de valor para o caso de ocorrer algum tipo de emergência.

Existem ainda outras formas de viabilizar a experiência. Herbert Steinberg, autor do livro Sabático - Um Tempo Para Crescer, trilhou o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha - além de visitar mais algumas cidades - durante três meses sem tirar um centavo do bolso. Ele apresentou o projeto do livro para algumas empresas e conseguiu um patrocínio para o sabático, além de angariar doações para entidades sociais. “Muita gente não faz o sabático por falta de tempo e dinheiro, mas quando você mostra que o projeto é sério, que não é uma crise existencial, com uma boa ideia você pode conseguir patrocínios e também incentivos da sua própria empresa”, afirma.

EXAME.com ouviu as histórias de seis pessoas que tiraram um período sabático, e os valores variaram de 3.000 reais (um mês na Chpada Diamantina, Bahia) a 50.000 euros, o equivalente hoje a quase 130.000 reais (um ano na região da Toscana, na Itália). Veja aqui as histórias e os detalhes sobre os custos dessas seis diferentes viagens.

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