Exame Logo

Com Selic a 9%, poupança voltará a render mais que renda fixa

Se o juro cair para 9%, somente fundos com taxa de administração igual ou inferior a 1% ganharão da poupança em todos os prazos

Poupança: juros Selic mais baixos tornam a caderneta de poupança mais atraente (Getty Images/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de março de 2017 às 14h31.

Última atualização em 23 de março de 2017 às 14h35.

A previsão de juros básicos de 9% ao ano ou menos no fim deste ano pode ressuscitar as hoje desprezadas cadernetas de poupança .

Com a Selic hoje em 12,25% ao ano, as cadernetas ainda perdem para fundos conservadores, os antigos DI ou Curto Prazo, que tenham taxa de administração de até 3% para prazos mais longos, nos quais o imposto é menor, e de 2% para todos os prazos, estimando um retorno de 7,4% líquidos ao ano para as cadernetas.

Veja também

Já se o juro cair para 9%, como estimam diversos bancos e analistas, somente fundos com taxa de administração igual ou inferior a 1% ganharão da poupança em todos os prazos. Os com 1,5% de taxa conseguirão superar a poupança em prazos de mais de 2 anos apenas, nos quais o imposto é mais baixo.

Fundos com juros de 9%

Tx Adm (%)2,521,510,5
Imposto
15,00%5,40%5,80%6,30%6,70%7,20%
17,50%5,20%5,60%6,10%6,50%7,00%
20,00%5,00%5,50%5,90%6,30%6,80%
22,50%4,90%5,30%5,70%6,10%6,60%

O motivo é que quanto menor a taxa de juros, maior o impacto da taxa de administração sobre o rendimento do fundo. A taxa é cobrada pelo banco sobre o patrimônio total, não só sobre a rentabilidade.

Com isso, acaba tendo efeito mais forte quando a taxa de juros é menor. Com o juro de 9%, por exemplo, em um fundo que cobre 3% ao ano, o banco ficará com um terço do ganho da aplicação da carteira, deixando 6% ao ano para o investidor, que terá de pagar ainda imposto de renda sobre o rendimento.

E haverá casos de fundos em que o banco ganhará mais que o aplicador, como nas carteiras que cobram taxas de 4,5%, 5% ou até 5,5% ao ano (confira a tabela com os fundos DI, curto prazo e Renda Fixa abaixo).

O ganho do investidor em fundos também é reduzido pelo imposto de renda, que pode ir de 22,5% até seis meses, 20% de seis meses a um ano, 17,5% de um a dois anos e 15% acima de dois anos. Quanto menor o prazo, maior o imposto e menor o rendimento do fundo.

Já as cadernetas têm a vantagem do rendimento mínimo de 6,17% ao ano sem imposto de renda, mais a taxa referencial (TR).

Considerando uma aplicação que renda o CDI, com a Selic a 9%, uma aplicação de um ano que pagasse 100% do CDI, com imposto de 17,25%, renderia 7,42% líquidos.

Comparando com a caderneta, os juros da poupança, de 6,17% ao ano, equivaleriam a 83% do ganho líquido da Selic, de 7,42%. Isso para os felizardos que conseguissem 100% do CDI, o que não é para qualquer um.

O professor William Eid Junior, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, fez um cálculo do impacto da queda dos juros nos fundos de investimento.

Ele considerou um fundo com taxa de 1% ao ano e juros de 9% ao ano e imposto de renda pela alíquota mais baixa, de dois anos, ou 15%.

A cobrança da taxa de administração foi estimada pela média do patrimônio, que cresce com os juros, por isso ela é de mais de 1% (1,045%). O resultado final é 6,762% líquidos, pouco acima do juro da poupança, de 6,17%.

Quanto sobra
juros9%
taxa de administração1,045%
rendimento líquido de taxa7,955%
IR ( dois anos?)-1,193%
resultado líquido de IR6,762%

A situação muda se o juro básico cair para 8,75% ao ano. Nesse caso, deixa de valer o juro mínimo de 6,17% ao ano e entra em vigor o novo cálculo do rendimento da caderneta, que equivale a 70% da Selic.

É bem provável que o Banco Central (BC) leve em conta esse “desconforto” para os fundos de investimento com a queda da Selic e derrube a taxa de juros para os 8,75%, nível que aciona a mudança de cálculo das cadernetas. Mesmo assim, fundos com taxas acima de 2% continuarão empatando ou perdendo para a caderneta, dependendo do prazo.

Mais cuidado com a renda fixa

Mas não serão apenas os fundos e as cadernetas que sofrerão o impacto da queda do juro básico. Ele obrigará os investidores a tomarem mais cuidado ao investir seu dinheiro, muito mais do que tomam hoje com juros exorbitantes de quase 8% reais ao ano.

Com o ganho menor, quanto menos o investidor tiver de deixar na mão do Leão, melhor. Será mais interessante, portanto, alongar as aplicações para obter alíquotas mais baixas, de 15% ao ano, o que exigirá também um esforço do investidor em separar os recursos de curto, médio e longo prazo.

Aplicações isentas no radar

O aplicador terá então de ser mais seletivo com suas aplicações, escolhendo as que tenham menor taxa de administração, no caso dos fundos mais conservadores de renda fixa, ou procurando as que sejam isentas de imposto de renda, como as LCA e LCI ou os CRI ou CRA ou as debêntures.

Os 70% da Selic oferecidos pelo novo cálculo da poupança podem ser um bom referencial para o investidor pedir nos papéis isentos. E uma LCI mais curta poderá ter um retorno melhor que um fundo de curto prazo.

Outra preocupação será, nas aplicações tributadas, buscar os prazos mais longos para reduzir as alíquotas. Mas será preciso calcular bem os prazos das aplicações, para não ser pego no contrapé e ter de tirar o dinheiro antes da hora da aplicação.

Soluço de baixa inflação?

Há, porém, outro fator a ser levado em conta, que é a sustentação dessa queda de juros. William Eid Junior acha que essa queda atual do IPCA para perto de 4% é mais um “soluço” do que um novo nível para inflação brasileira.

“Por isso, há uma crença generalizada que o juro vai cair, mas eu acho que, se chegar a 9% ao ano, não vai ficar por muito tempo”, diz. Nos primeiros sinais de retomada da economia, os índices tendem a subir e voltar para mais perto de 10%.

Pouca atenção à rentabilidade

Sobre a queda da rentabilidade dos fundos, Eid não espera uma saída forte de recursos. “O investidor brasileiro não está preocupado com rentabilidade”, diz.

E explica: dentro das finanças comportamentais, na pirâmide de investimentos, a base mais larga é simplesmente para proteção contra a pobreza.

Para elas, não importa que a rentabilidade seja baixa. Por isso muita gente investe em imóveis ou poupança mesmo perdendo dinheiro horrivelmente, diz o professor.

“Temos 100 milhões de contas e poupança rendendo metade do que rendem outras aplicações e as pessoas não migram, porque não olham o retorno”, diz. Foi o que mostrou também estudo feito pelo Guiabolso, mostrando a baixa rentabilidade das aplicações de seus usuários.

Complicação financeira

A isso se soma o fato de que outras aplicações são mais difíceis, até mesmo os fundos. “Os nomes das novas categorias de fundos são complicadas, as pessoas não entendem o que é uma duração longa ou curta ou soberana”, lembra Eid.

E é preciso responder questionários complicados para o pequeno investidor, o que dificulta o investimento em fundos. Para outras aplicações então, como Tesouro Direto e LCI e LCA, é preciso ter conta em uma corretora, o que é outro desafio.

Por essas dificuldades, o percentual de varejo em fundos caiu a menos da metade em seis anos, diz o professor. “O varejo representava 30% do total de fundos e hoje essa fatia caiu para 12%”, diz.

Para Eid, a queda dos juros deve levar a uma maior propensão ao consumo em camadas específicas de renda da sociedade. “Muitos de alta renda vão comprar o carro novo, viajar, ou então, na baixa renda, comprar a geladeira ou a televisão nova”, diz.

Além disso, o brasileiro não guarda dinheiro, afirma Eid. “A poupança média do brasileiro é de R$ 2 mil, equivale à renda média mensal, ou seja, ele tem reserva para sobreviver um mês”, diz. E isso ocorre também na alta renda. “Vejo médicos, ganhando 30 mil que não guardavam nada.”

Foco nos fundos

Apesar das propostas para reduzir as taxas de administração com a criação dos fundos de renda fixa simples, totalmente digitais e que aproveitavam o fim da obrigatoriedade de envio de correspondências e outros custos, ainda há muitas carteiras com taxas altíssimas, de 5,5% ao ano, como mostra estudo feito com o sistema Economática de fundos, com carteiras de curto prazo, DI e renda fixa com patrimônio acima de R$ 50 milhões para clientes de varejo.

No caso de os juros caírem para 9%, esses fundos renderão mais para o banco do que para o cliente, que ficará com 3,5% de ganho depois de descontados os 5,5% para o gestor. E, sobre esses 3,5% que sobrarem, ainda haverá desconto de imposto de renda.

Os bancos justificam a cobrança pelos custos com sistemas de aplicação e resgate automáticos e pela estrutura de varejo, com seus serviços e controles para milhares de clientes.

No caso do Hiperfundo, do Bradesco, o cliente concorre a prêmios. Mas a culpa, na maioria dos casos é do investidor, que não se organiza para colocar o dinheiro em outras aplicações mais rentáveis ou se acomoda com o fundo que o gerente, que tem metas para cumprir, lhe oferece.

Comodidade tem custo

Em alguns casos, a comodidade do fundo pode compensar um ganho menor na caderneta. É o caso de quem precisa sacar o dinheiro antes de 30 dias ou em um dia fora da data de vencimento da conta.

Como o fundo tem liquidez diária, o investidor não perde um dia sequer de investimento se tiver de sacar antes. Mas é possível fazer isso com fundos mais baratos.

Para os muito desorganizados, pode ser melhor até ganhar menos desde que o banco resgate a aplicação para cobrir um saldo devedor de uma conta ou débito que cai na conta e a pessoa não lembra.

Mas a combinação de falta de organização, desconhecimento, desinteresse, e até mesmo preguiça, é uma fonte inesgotável de lucro fácil para os bancos.

Basta ver, pelos percentuais de volatilidade, perto de zero no ano, que poucos bancos se mexem para aumentar os ganhos dos fundos, enchendo as carteiras de títulos públicos ou privados de menor prazo possível.

Outro sinal dessa gestão passiva é que a diferença de rentabilidade dos fundos DI indexados e dos renda fixa tradicionais, que poderiam diversificar mais suas carteiras, é pequena, apesar dos nomes super, max, híper, extra, top, plus, prêmio, inteligente ou brilhante.

Assim, a rentabilidade varia mais em função da taxa de administração das carteiras. Em alguns casos, o rendimento bruto dos fundos, sem desconto do imposto de renda, fica abaixo do da caderneta.

Basta comparar o desempenho neste ano, em um ano e dois com o rendimento da poupança, de 1,26%, 8,34% e 17,23%, respectivamente.

Para empatar com esse ganho líquido, os fundos teriam de render pelo menos 1,48% em 2017, 9,82% em um ano e 20,30% em dois anos, considerando uma alíquota de 15%, a mais baixa.

Nos fundos de curto prazo, que têm a alíquota mínima de 20%, os fundos teriam de render mais, 1,57% no ano, 10,42% em 12 meses e 21,54% em dois anos.

Fundos na Mira

NomeGestoraCotistasPL R$/milPL/médiaEm 1 mêsEm 2017Em 1 anoEm 2 anosVolat.Taxa Adm.
Santander Fc Inteligente RF CPSantander32.551472.73057,210,431,447,6915,930,035,50
Banrisul Automatico FI RF CPBanrisul792365.586130,110,431,447,7015,920,035,50
Santander Fc Empresas RF CPSantander42.2433.591.25152,590,471,558,2417,120,035,00
Santander Fc Classic RF Ref DISantander108.2241.496.79160,040,471,568,2517,270,035,00
Santander Fc Extra RF Ref DISantander19.26068.96995,990,521,688,9618,840,044,20
Santander FICFI Top RFSantander15.46683.22388,780,521,779,3719,580,044,00
Bradesco RF Ref DI HiperfundoBram Bradesco277.4693.761.09886,720,551,799,3819,640,033,90
Itau Premio RF Ref DI FICFIItau Unibanco23.750235.87494,260,551,809,5019,860,043,90
Itau Premio RF FICFIItau Unibanco17.980199.59895,600,591,889,6120,180,073,90
BB RF LP 100 FICFIBB Dtvm S.A443.86911.856.296116,930,521,789,4219,670,033,80
BB RF CP Automatico FcBB Dtvm S.A140.42012.463.550116,360,561,839,5920,010,033,70
Bradesco FICFI Ref DI SafiraBram Bradesco10.785566.667107,720,571,879,8120,590,033,50
BB CP Estilo FICFIBB Dtvm S.A125.7444.399.209116,260,611,9810,3521,650,033,00
FI Banestes Investidor RF CPBanestes Dtvm1.933248.76697,550,612,0010,4721,960,033,00
Bradesco H Fc FI RF Ref DI LP 50Bram Bradesco27.208279.21672,910,622,0310,4822,070,043,00
Itau Pers RF Ref DI FICFIItau Unibanco1.441520.002133,020,632,0410,6622,450,043,00
Santander Supremo RF Ref DISantander12.888750.368149,050,642,0410,5922,160,052,70
BB RF Ref DI Social 50 Fc FIBB Dtvm S.A11.988163.348142,300,662,1111,0523,180,102,60
Bradesco RF Simples BrilhanteBram Bradesco22.4702.321.734171,300,642,0910,8522,940,032,50
BB RF CP 200 FICFIBB Dtvm S.A211.5056.098.57998,610,652,1010,8922,850,032,50
BNB FICFI RF CPBNB34.739619.364106,520,642,1010,9423,010,032,50
Santander Fc Senior RF Ref DISantander13.269823.416127,790,652,1110,9623,210,032,50
Santander FICFI Senior RFSantander5.639209.25898,410,622,0911,0823,350,042,50
Itau RF Ref DI Super FICFIItau Unibanco33.4191.370.706108,050,662,1311,1123,390,042,50
Itau Money Market RF FICFIItau Unibanco20.90656.436103,140,692,1811,1323,500,072,50
Itau Super RF FICFIItau Unibanco7.574359.63394,340,692,1911,1923,660,072,50
BB RF LP 500 Fc FIBB Dtvm S.A3.98080.14283,690,682,2411,5824,670,172,50
BNB Classico FICFI RF Ref DIBNB15.426126.959102,250,712,2911,5924,420,082,50
BB Nc RF Ref DI LP Principal Fc FIBB Dtvm S.A13.677359.06697,120,612,0610,8022,790,032,47
Wa DI Plus Fc FI RF RefWestern Asset1.52572.57697,060,672,1010,9923,250,112,45
HSBC FICFI RF LP PlusBram Bradesco6.283126.14194,610,682,3311,6524,191,642,15
FI RF BRB MaisBRB Dtvm7.518240.993110,700,592,0011,2224,620,112,00
Santander Fc Extra Plus RF Ref DISantander12.406193.858120,420,682,2111,4924,380,032,00
HSBC FIC RF Ref DI LP EmpresaBram Bradesco1.773518.561100,030,682,2211,5824,630,042,00
Bradesco H Fc FI RF Ref DI LP 1.000Bram Bradesco12.268502.53062,670,692,2511,6324,650,042,00
Itau Uniclass RF Refer DI FICFIItau Unibanco44.762956.279117,330,692,2411,6524,560,042,00
Itau Empresa RF Ref DI FICFIItau Unibanco30280.403109,350,702,2511,7324,810,042,00
Itau Uniclass RF FICFIItau Unibanco11.492170.809170,940,732,3011,7324,840,072,00
Itau Personnalite RF Refer DI PlusItau Unibanco4.8861.200.57898,710,702,2611,7824,930,042,00
BB RF 500 FICFIBB Dtvm S.A405.42112.088.013116,260,702,2511,7924,720,082,00
BB RF Ref DI 500 FcBB Dtvm S.A78.2182.046.202111,650,702,2511,7924,830,102,00
Itau Personnalite Plus RF FICFIItau Unibanco3.934147.40290,440,732,3211,8225,130,082,00
Itau Max RF FICFIItau Unibanco13.352630.253157,400,752,3511,9925,430,071,80
Bradesco H Fc FI RF Ref DI LP ClassicBram Bradesco1.79648.61989,200,712,3111,8825,150,041,75
Uniclass Conservador FICFI RFItau Unibanco3.058216.94893,640,752,3612,0325,540,071,75
Itau Person Special RF Refer DI FICFIItau Unibanco19.145406.137109,560,722,3312,1025,650,041,70
Bradesco Prime FICFI RF Ref DIBram Bradesco8.570298.690115,910,712,2911,8925,190,031,60
Itau Uniclass Maxi RF Refer DI FICFIItau Unibanco23.487678.16693,800,722,3312,1025,580,041,60
Itau Uniclass Maxi RF FICFIItau Unibanco4.299129.67793,550,762,3912,1925,880,071,60

Fonte: Economática.

Este conteúdo foi originalmente publicado no blog Arena do Pavini.

Acompanhe tudo sobre:fundos-de-renda-fixaJurosPoupançarenda-fixaSelic

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Minhas Finanças

Mais na Exame