Cinco formas de se proteger na bolsa
Especialistas ensinam como enfrentar a turbulência no mercado se você já tem ações ou está tentado a aproveitar a baixa
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
A Grécia está no olho do furacão da crise que abalou os mercados nos últimos dias, mas o que vai determinar a continuidade e a extensão do atual movimento de correção são os demais países da Europa. Com o pacote de ajuda à Grécia aprovado e as necessidades de financiamento deste ano já cobertas, os investidores estão com as atenções voltadas para o que vai acontecer em outras economias da região. A situação é bastante ruim em Portugal e na Espanha, que tiveram suas classificações de dívida recentemente rebaixadas e podem ser os próximos a pedir ajuda. Itália e Irlanda aparecem no noticiário como outras possíveis vítimas, mas ainda possuem uma situação fiscal melhor que a dos países ibéricos. Por último, ainda há preocupações com o Reino Unido, mas as apostas de que o país possa ter problemas no futuro ainda estão longe de ser generalizadas. Como ninguém sabe exatamente até onde a crise pode se espalhar, especialistas ouvidos pelo Portal EXAME recomendam que as pessoas físicas aguardem que o cenário fique um pouco mais claro para entrar na bolsa. Para quem já possui uma carteira de ações, é possível se proteger de cinco formas:
1 - Vender ações das empresas mais afetadas pela Europa e comprar papéis que distribuem bons dividendos. Entre os setores mais defensivos, estão as empresas de telefonia fixa, energia e bens de consumo não-duráveis. Essa rotação de carteira já pôde ser observada no mercado nos últimos sete dias. Enquanto o Ibovespa caiu 7,81% no período, sete papéis avançaram: Pão de Açúcar, Souza Cruz, CPFL, AmBev, Natura, Telesp e Copel. Não por acaso, durante a crise de 2008 essas sete empresas mostraram resiliência à crise, geração de caixa constante e distribuição farta de dividendos. "Antes de comprar uma ação defensiva, é importante pesquisar que empresas devem pagar dividendos nas próximas semanas", alerta Kelly Trentin, analista-chefe da corretora Spinelli. Também é importante lembrar que, quando começar a recuperação, os papéis que caírem mais tendem a apresentar um melhor desempenho. Foi assim no ano de 2009, quando as construtoras, os bancos médios e as empresas de Eike Batista se destacaram no pregão.
2 - Fazer hedge com opções ou contratos futuros. Com essa estratégia, o investidor pode continuar comprado nas mesmas ações que está atualmente, só que, paralelamente, vai construir uma posição em derivativos que possa proteger a carteira. A recomendação de especialistas é que quem não sabe fazer isso não tente aprender de uma hora para outra. O mais indicado é procurar a corretora ou algum assessor financeiro mais próximo que tenha condições de analisar a carteira de ações e indicar o instrumento certo apenas para protegê-la - e não para apostar na baixa do mercado. "Não recomendo que um pequeno investidor com pouco conhecimento tente especular com opções", afirma o consultor financeiro Mauro Calil. "Até grandes empresas quase quebraram no passado ao tentarem fazer isso."
3 - Investir em fundos quantitativos que seguem tendências. Para esses fundos, não importa para que lado a bolsa vá. O gestor usará contratos futuros para operar vendido em bolsa caso haja uma tendência de desvalorização ou para ficar comprado caso o viés seja de alta. Os ganhos são maiores sempre que a tendência do mercado é clara. Em anos como 2001 e 2008, esses fundos apresentaram ótimos resultados mesmo com a forte queda da bolsa. "Como não há uma correlação entre os resultados da bolsa e dos ativos que compramos, nosso fundo acaba servindo de hedge", explica Jorge Rodrigues, da MAN Investments, uma das maiores e mais antigas gestoras de fundos quantitativos do mundo. "Recomendo que 10% a 20% do dinheiro do cliente destinado à renda variável seja investido em um fundo desse tipo." Os retornos, no entanto, não costumam ser tão bons quando há muito sobe-e-desce no mercado. E podem até ficar negativos se você entrar em um momento de reversão de tendência.
4 - Alugar ações. O investidor também pode proteger sua carteira de ações ficando vendido em alguns dos papéis mais ligados à crise na Europa. Nesse caso, o investidor vai apostar que a tensão nos mercado não vai se dissipar em breve. Em 2008, empresas de commodities, com dívidas bastante elevadas e alta necessidade de financiamento no curto prazo foram as que mais sofreram. Os interessados precisarão ligar na corretora e perguntar quais são as opções de papéis para aluguel e qual é a taxa cobrada pelo dono do papel. Após decidir quais ações lhe parecem mais interessantes, o investidor alugará esses papéis e os venderá no mercado para depois recomprá-los no futuro a um preço mais baixo - isso se tudo der certo. O lucro será equivalente à queda dos papéis menos a taxa que deverá ser paga ao dono do papel alugado.
5 - Reduzir a exposição a bolsa e investir em ativos seguros, como fundos de renda fixa ou DI. Essa é a estratégia mais radical, já que, se a bolsa se recuperar em breve, o investidor perderá dinheiro. No entanto, para especialistas, essa opção é recomendada para o investidor que exagerou nas aplicações em bolsa e vai precisar do dinheiro em breve. Como a situação ainda pode piorar, é prudente garantir os recursos necessários para arcar com os compromissos das próximas semanas. Já os investidores que podem se dar ao luxo de pensar no longo prazo porque usaram a bolsa apenas como diversificação podem ficar mais tranquilos. A maioria dos especialistas ainda considera o Brasil uma economia bem-protegida contra as turbulências externas - o que garante boas chances de recuperação ao mercado acionário no médio e longo prazo.