Minhas Finanças

Brasileiro toma empréstimo caro para comprar produto barato

Cresce o empréstimo para a aquisição de itens como geladeira e televisão; especialistas alertam que o ideal é sempre pagar à vista

Eletrodomésticos financiados estão entre os itens que impulsionaram o crescimento do empréstimos para a aquisição de bens (Lia Lubambo/ EXAME)

Eletrodomésticos financiados estão entre os itens que impulsionaram o crescimento do empréstimos para a aquisição de bens (Lia Lubambo/ EXAME)

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Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2011 às 09h37.

São Paulo - O Senado aprovou na semana passada a medida provisória que cria um cadastro positivo com as informações de quem está em dia com seus compromissos financeiros. O objetivo é tornar a concessão de crédito mais barata para os bons pagadores, com base no histórico que construíram ao longo do tempo.

Pelo texto, o consumidor terá que autorizar por escrito sua inclusão na lista. A partir de então, terá os dados de várias contas reunidas em um mesmo registro. A exceção ficará para as contas de celular pós-pago, que ainda não farão parte desse conjunto. Também será possível solicitar a retirada do cadastro a qualquer momento, bem como consultar as informações reunidas de forma gratuita.

Transformada em projeto de lei, a proposta ainda precisa passar pela sanção da presidente Dilma em um prazo de 15 dias. “Ao ampliar a quantidade de informação disponível, reduzir a assimetria da informação e melhorar os modelos de análise de risco, o cadastro positivo tende a ter um impacto positivo nas taxas de juros”, explica Fernando Cosenza, diretor de Inovação e Sustentabilidade da Boa Vista Serviços-SCPC.

“Mas o próprio governo fala em um prazo de dois anos para que ele se consolide”, pondera Cosenza. Por ora, os juros continuam os mesmos - e nas alturas - para os adeptos do financiamento. Segundo pesquisa mensal da Anefac, o rotativo do cartão de crédito cobra uma média de 238,3% ao ano. Empréstimo pessoal com financeiras, cheque especial e crediário não ficam atrás, com taxas anuais de 195,2%, 150,9% e 94%, respectivamente.

"O brasileiro não faz as contas dos juros que está pagando quando compra um determinado bem. Ele olha apenas se a prestação caberá no seu bolso", afirma Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf. "Isso gera um volume de pequenas prestações que, no todo, acaba corroendo metade do salário do indivíduo."

Na ponta do lápis, bens que não parecem caros o suficiente para causar estragos no orçamento, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, podem se tornar os protagonistas de uma verdadeira armadilha financeira. Uma geladeira de 1.500 reais dividida em 12 meses sai por nada menos que 2.910 reais considerados os juros médios cobrados no comércio. 



Levantamento do Instituto Assaf aponta que são justamente esses itens que crescem na lista de compras parceladas do consumidor. Enquanto o endividamento para o financiamento imobiliário manteve-se mais ou menos estável de 2001 a 2011, houve um aumento de 672% nos empréstimos para a aquisição de bens. A modalidade contempla a aquisição de produtos como televisão e computador, que não agregam valor ao patrimônio como a aquisição de um apartamento, por exemplo. 

Endividamento do brasileiro por modalidade de crédito (em milhões de reais)

Fonte: Instituto Assaf

 

Pesquisa do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) sobre o endividamento em março deste ano vai ao encontro desta ideia. Entre os consumidores com nome sujo na praça, 37% disseram ter feito as compras com carnê, usualmente utilizado para a aquisição de bens não duráveis. Em uma distante segunda colocação aparece o cartão de crédito, com 19%.


“As pessoas costumam optar pela facilidade de ter o bem aqui e agora, mesmo pagando bem mais que seu real valor de mercado”, diz Fernando Cosenza, do SCPC. Para ele, a tentação fica maior com os bens supérfluos. Mas ainda que não pareçam exigir grandes investimentos, se transformam em uma verdadeira bola de neve quando o consumidor sofre um baque no planejamento financeiro por conta de eventualidades como gastos médicos e desemprego. 

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