Minhas Finanças

Brasileiros tiram dinheiro da previdência privada para pagar boletos

No acumulado de janeiro a maio, a captação líquida dos planos abertos está negativa em 3 bilhões de reais e o patrimônio da indústria recua 0,41%

Fabio Giambiagi, economista e sócio da Longevità: poupar requer disciplina e persistência (Ernani DAlmeida / VOCÊ S/A/VOCÊ S/A)

Fabio Giambiagi, economista e sócio da Longevità: poupar requer disciplina e persistência (Ernani DAlmeida / VOCÊ S/A/VOCÊ S/A)

NF

Natália Flach

Publicado em 16 de junho de 2020 às 11h50.

Última atualização em 18 de junho de 2020 às 10h38.

A crise econômica levou os brasileiros a resgatar parte de suas reservas de longo prazo para encobrir o rombo em suas contas. No acumulado de janeiro a maio, a captação líquida dos planos de previdência privada aberta está negativa em 3 bilhões de reais, o que ajuda a explicar a redução no patrimônio líquido, que passou de 928,4 bilhões de reais em dezembro de 2019 para 924,6 bilhões de reais em maio deste ano, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais.

“Estamos assistindo a uma reversão da tendência, já que, nos últimos 10 anos, observamos um crescimento médio constante de 13% nos investimentos previdenciários”, afirma Arlete Nese, sócia da Longevità, startup de assessoria em previdência complementar. “O conceito de formação de reserva para o futuro tem sido colocado à prova.” Parte da queda patrimonial também está atrelada à desvalorização dos ativos, apesar de o impacto no total ser menos proeminente, já que 88% das reservas estão alocadas em renda fixa.

Mas não é apenas o valor poupado que vem diminuindo: o número de participantes também recuou em 2020. Se em 2019, ano da aprovação da reforma da previdência, 400.000 brasileiros passaram a investir em uma reserva de longo prazo, até abril, 200.000 já abandonaram - ou postergaram - o objetivo de ter uma aposentadoria mais tranquila.

Fabio Giambiagi, sócio da Longevità, explica que o ideal é dividir as receitas em três “cofres”.  O primeiro só se deve ser aberto depois de aposentado, o segundo a cada 10 ou 15 anos – uma vez que este serve para juntar dinheiro para grandes aquisições, como carro ou apartamento – e o terceiro é destinado a compras mais triviais, como uma televisão, por exemplo.

“Em tese, não se deve mexer no primeiro cofre até os 65 anos. Isso é fácil para mim, pois continuo trabalhando e recebendo meu salário. Mas e se eu fosse dono de um restaurante e pudesse salvar o meu negócio com esse valor da aposentadoria? Os resgates, portanto, têm a ver com a tragédia em curso”, afirma Giambiagi. “O importante é rever as estratégias de reservas de capital e entender que poupar requer disciplina e persistência”, acrescenta. Até porque nunca se sabe quando virá outra crise – só se sabe que ela virá.

 

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