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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Passeios de helicóptero ou jantares românticos costumam ser programas irresistíveis para criar intimidade entre dois desconhecidos. Pois é com a aposta em prêmios como esses que uma corretora paulista, a Intra, espera atrair novos participantes para a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A empresa lançou, há três meses, uma promoção que oferece prêmios inusitados ao pequeno investidor que se dispuser a entrar no mercado de minicontratos, um tipo de negociação a valores bem mais baixos do que o padrão e na qual o comprador se dispõe a receber, ao fim de um prazo determinado, o preço que se previu para uma dada mercadoria na data inicial. Graças a essa iniciativa, a corretora já conquistou mais de 650 clientes, desde maio. A idéia da Intra faz parte de um esforço iniciado pela BM&F há dois anos e meio para popularizar suas operações, algo que já vem acontecendo com a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
A distância entre o investidor de varejo e o mercado de futuros ainda é grande, como mostra a comparação entre o número de pessoas físicas que aplicam na Bovespa e na BM&F. Há na bolsa de futuros 12 mil pessoas físicas habilitadas para operar minicontratos, enquanto na Bovespa o total de pequenos investidores cadastrados para negociar ações chega a 280 mil.
A diferença entre uma bolsa e outra, porém, começa a diminuir. Criados em novembro de 2004 como um primeiro passo no esforço de "popularizar" o mercado de derivativos, os minicontratos fechados no primeiro semestre de 2007 já totalizaram 9,82 milhões, mais do que o volume de negociações de todo o ano passado, que ficou em 8,81 milhões. Em 2005, primeiro ano completo em que eles estiveram disponíveis, o número havia sido de 1,01 milhão - ou seja, houve uma alta de 900% desde então. Por causa desse crescimento acelerado, o minicontrato tornou-se o motor de arranque do processo de inclusão do investidor de varejo na Bolsa de Mercadorias e Futuros, como explica o diretor de pregão da instituição, José Carlos Branco.
"Aplicar em ações pode parecer mais fácil para o pequeno investidor por causa do próprio conceito de comprar um papel relacionado a uma empresa que existe. Isso é mais palpável do que comprar um contrato futuro, mas os os minicontratos, junto de outras ações educativas, já têm trazido mais pessoas físicas para a BM&F", diz
Investimentos mais acessíveis e simulador a caminho
Os minicontratos dividem-se, hoje em quatro categorias de futuros: boi gordo, café, dólar e Ibovespa. Nas três primeiras, a vantagem mais evidente, para o pequeno operador é a possibilidade de obter um hedge, uma proteção do valor aplicado, com um capital correspondente a apenas 10% do exigido nas compras e vendas comuns. É possível entrar no minicontrato de dólar, por exemplo, com 10 mil reais.
O preço do mini de Ibovespa, por sua vez, corresponde a 20 centavos de real para cada ponto do índice Bovespa futuro e, portanto, varia a cada dia, conforme muda o volume de negociação na bolsa de valores. Num dia em que o índice esteja em 50 mil pontos, por exemplo, o investidor precisará aplicar 10 mil reais para comprar um mini, mas se o índice subir a 55 mil pontos, no mês seguinte, o preço do contrato também sobe, para 11 mil reais. Com isso, o investidor que tem dinheiro em ações pode ganhar na BM&F mesmo nos períodos de nervosismo: um operador que nos primeiros momentos de operações da última quinta-feira (16/08), por exemplo, vendesse cinco minicontratos de Ibovespa receberia por eles 47,9 mil reais, já que a previsão para o Ibovespa encontrava-se em 47,9 mil pontos. Conforme a bolsa foi caindo, porém, a previsão para o futuro de Ibovespa baixou a 46,9 mil pontos, poucas horas depois. Logo, se o operador recomprasse cinco papéis, pagaria por eles 46,9 mil reais, ou seja, teria um ganho de mil reais em relação ao começo do dia.
O mini de Ibovespa, embora seja mais caro, tem a vantagem de não exigir muito conhecimento sobre um produto específico. Ao invés de saber se a cotação do boi vai cair ou subir, o operador aposta se a bolsa, como um todo, tenderá à alta ou à baixa. Essa categoria também é indicada pelos analistas a quem aplica na bolsa de valores, já que as eventuais perdas com as ações podem ser compensadas pelos contratos de futuros, que preservam seu valor. Por essas razões, o mini de Ibovespa tem aparecido como o preferido das pessoas físicas. Elas correspondem a 95% dos investidores, contra uma média de 85%, nos outros três tipos.
Em todos esses casos, os participantes dos minicontratos seguiram o mesmo caminho, para começar a negociar: fizeram o cadastro numa corretora e depositaram as garantias, variáveis para cada categoria. Ao fim do prazo definido, esses investidores recebem a diferença entre o preço na época da compra e o daquela data. Em caso de perda, da mesma forma que no contrato comum, a garantia é usada como pagamento. A forma de operação, porém, é diferente da tradicional, já que o dono do contrato pode investir mais ou se desfazer do que já tem diretamente do próprio computador - sistema batizado de "webtrading", pela Bolsa de Mercadorias e Futuros.
O iniciante interessado em conhecer as possibilidades do minicontrato já pode testar os efeitos de seu investimento por meio de um simulador, disponível na página da BM&F, mas esse tipo de negócio tem chamado tanta atenção que a instituição deve lançar em setembro uma ferramenta mais atualizada, que mostra o comportamento de um minicontrato fictício em tempo real, conforme os movimentos do mercado no exato momento da observação.
Outra jogada prevista "para breve" é o lançamento de uma quinta categoria de minicontrato, a de futuro de ouro. A expectativa é que os acordos de menor valor ajudem a ampliar o alcance do mercado de futuros entre pessoas físicas, que na visão dos analistas tem potencial para crescer até alcançar o tamanho da Bovespa.
"Todas as pessoas que aplicam em ações poderiam operar também em futuros, inclusive é uma forma muito boa de "hedge" (proteção do patrimônio). Muitos pequenos investidores acham que é só para os grandes, mas não percebem que é uma maneira de garantir segurança, num mercado onde há muito menos rumores do que na Bovespa", afirma Fábio Cooke, da Intra Corretora.