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Após perdas, resgates crescem em fundos e bancos enviam alerta

Se o investidor continuar com os papéis, com o tempo, os preços dos títulos podem voltar a cair ou recuperar parte das perdas

Diante de perdas, é preciso cautela. Não adianta se desesperar, dizem especialistas (flytosky11/Thinkstock)

Anderson Figo

Publicado em 18 de junho de 2018 às 17h06.

As perdas provocadas pelas oscilações dos juros , do dólar e da bolsa nos últimos dois meses em fundos multimercados, de renda fixa de longo prazo e de previdência levaram muitos investidores a resgatar as aplicações em fundos e títulos públicos, assustados com prejuízos. Na última semana de maio, foram registradas saídas líquidas de R$ 2,071 bilhões em multimercados e R$ 157 milhões em previdência, enquanto ações captaram R$ 686 milhões. Já nos primeiros 12 dias de junho, saíram R$ 5,2 bilhões de multimercados, R$ 661 milhões em ações e R$ 126 milhões em previdência, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais ( Anbima ).

NTN-B longa cai 13% em 30 dias e prefixado, 9,6%

Os resgates acompanham as perdas dos fundos, inclusive os de renda fixa, que sofreram com as quedas dos preços dos títulos públicos. Em 30 dias, as NTN-B, papéis que pagam juros mais correção monetária pelo IPCA, chegaram a ter queda de 13% nos prazos mais longos, até 2045, acompanhando a alta dos juros. Papéis prefixados longos, as LTNs, com vencimento em 2025, perdem 9,6% em 30 dias. A queda ocorre porque o preço do título se ajuste ao juro. Quando maior o juro, menor o preço do papel, e vice-versa. Como as taxas dispararam de abril para cá, de 5,29% reais para 5,98% agora na NTN-B 2045, e de 9,60% para 12% na LTN 2025, os preços dos papéis caem, especialmente nos prazos mais longos.

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Previdência tem perda de 0,23% em renda fixa em maio e multimercado macro, 1,56%

Essa queda impacta os fundos renda fixa, especialmente os que aplicam em papéis mais longos. Os Renda Fixa Duração Alta Soberanos perderam 0,93% em média em maio e mais 0,33% em junho, até dia 12. Também os multimercados perderam, não só com os títulos públicos, mas com apostas em dólar e bolsa. Os multimercados Macro perderam 1,56% em média em maio e mais 0,13% em junho, os Trading, 1,51% e mais 1,39% neste mês e os Livres, 0,98% no mês passado e mais 0,43% em junho.

Também os fundos de Previdência Renda Fixa perderam em média 0,23% em maio e caem 0,01% em junho, já que aplicam em papéis longos.

Perda é virtual até investidor antecipar o resgate

As perdas refletem, porém, movimentos de mercado e pode ser apenas virtuais se o investidor não sacar. Um título do governo, por exemplo, que perde 13% em 30 dias, continua pagando a mesma taxa de juros mais a correção da inflação contratada na aplicação. O que varia é o valor de mercado hoje, para quem for vender o título antes do vencimento. Nesse caso, se vender o papel, o investidor receberá o valor atual e confirmará o prejuízo. Como os fundos de investimento precisam atualizar diariamente o valor dos títulos em suas carteiras, as cotas mostram os prejuízos, mas que só se confirmarão se o fundo tiver de vender o papel, o que pode ocorrer se os saques aumentarem.

Já se o investidor continuar com os papéis, com o tempo, os preços dos títulos podem voltar a cair ou recuperar parte das perdas. No caso dos multimercados, em geral os gestores acabam reduzindo as posições mais arriscadas e acabam confirmando parte dos prejuízos. Mas podem compensar essas perdas com novas apostas, ajustadas ao novo cenário. Nessa hora, a qualidade do gestor se torna fundamental.

Até fundação saca; bancos e corretoras orientam clientes

Até mesmo fundações de empresas estatais resgataram de fundos multimercados, afirmam gestores. O mais preocupante é que muitos dos que estão sacando agora aplicaram há pouco tempo, seis meses ou menos, envolvidos pela onda de ganhos dessas carteiras no ano passado e no começo deste ano. Ou seja, não tiveram o benefício dos ganhos anteriores para compensar as perdas de curto prazo.

Dessa forma, ao sacar, acabam realizando um prejuízo que talvez pudesse ser reduzido ou revertido nos próximos meses. Para tentar evitar essa perda, bancos, consultores e corretoras estão orientando os investidores sobre as oscilações do mercado, especialmente em previdência, que são aplicações de longo prazo.

Entrou onde não devia e sai no prejuízo

Parte dos investidores que está saindo nem deveria ter entrado, pois não gosta de correr riscos e foi atraído pela rentabilidade do passado, afirma Marcelo Giufrida, ex-presidente da Anbima e sócio da Garde Investimentos. Outra parte, porém, é investidor que precisa ter diversificação em seus investimentos e perfil de longo prazo, mas se assusta e acaba saindo no prejuízo e ficando traumatizado. “E aí vai levar mais alguns anos para voltar a investir, depois que o mercado voltou a subir”, diz. A Garde ajustou suas carteiras, reduziu os prazos e está atuando mais no dia a dia para reduzir os riscos, estratégia que muitas outras casas de multimercados também devem estar adotando.

Bradesco orienta clientes da Previdência

O brasileiro é pouco resistente a oscilações dos investimentos, afirma Jorge Pohlmann Nasser, diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência. “Agora mesmo estamos apresentando ao mercado perdas em renda fixa e todo mundo se assusta e diz: como assim?”, afirma Nasser. “Mas isso é normal e o cliente deveria saber que essa perda ou ganho é virtual, e lá no fim, no vencimento, é o contratado que você vai receber”, explica. “Mas falta resistência para ver o rendimento caindo e o cliente pula do carro com ele andando. ”

Segundo Nasser, os resgates aumentaram e o banco resolveu fazer uma campanha para orientar os clientes. “Este é o pior momento para se mexer em um fundo de previdência ou qualquer investimento de renda fixa”, afirma. “Mesmo em renda variável, na bolsa, não é hora de mexer”, diz. “Essa é a hora do nervosismo, a hora do tubarão, quando a pessoa começa a se mexer muito e atrai o predador”, compara. “É preciso ter cuidado, ter confiança na instituição e na orientação sobre o que está acontecendo, e a partir daí, com tranquilidade, olhar para frente e ver se vale a pena ou não sair de determinado fundo ou estratégia”, explica.

Itaú fala com Personnalité

Já o Itaú Unibanco enviou aos clientes Personnalité no começo de junho um comunicado falando das oscilações dos mercados após o Copom manter os juros em 6,5%. O banco observou que as aplicações em ações tiveram perdas, mas recomendou a manutenção como diversificação. A recomendação para novos investimentos foi para multimercados, pois a “agilidade do gestor é fundamental para aproveitar oportunidades e tentar defender o retorno dos investimentos”.

XP explica oscilações aos clientes

Na corretora XP Investimentos, que tem uma grande plataforma de multimercados, a captação de fundos DI e renda fixa aumentou por conta das oscilações do mercado. Já a de fundos de ações e multimercados diminuiu, segundo uma fonte que pediu para não ser citada. Não houve, porém, saída brusca de investidores. A corretora está divulgando informações sobre as oscilações para tranquilizar os clientes, via e-mail marketing e webinars, e o último relatório sugeriu redução da exposição em multimercados e ações, mas mais para novos investimentos.

Este conteúdo foi publicado originalmentena Arena do Pavini

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