Brahma, Antarctica e Skol: Ações da Ambev cresceram mais do que ações como Vale e Petrobras (Quatro Rodas)
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2012 às 09h51.
São Paulo – As ações preferenciais da Ambev (AMBV4) tiveram rendimento superior a algumas das mais negociadas na bolsa nos últimos cinco anos, como Vale e Petrobras. Enquanto os papéis da fabricante de bebidas tiveram uma valorização 257,31% entre 10 de setembro de 2007 e 10 de setembro de 2012, a mineradora apresentou queda de 0,48% e a estatal de petróleo queda de 3,76%.
Com caráter defensivo, a empresa se valorizou mesmo em momentos de crise e conseguiu atingir bons níveis de crescimento. Para os próximos anos, no entanto, analistas não acreditam na manutenção do mesmo crescimento. A margem de lucro já atingiu níveis muito altos e o potencial de algumas alavancas que a fizeram crescer no passado parece esgotado, além de a empresa possivelmente ser afetada pelas novas regras de tributação das bebidas.
Para estabelecer um paralelo com os investimentos em renda fixa, nos últimos cinco anos, a valorização do CDI foi de 65,77%, quase quatro vezes menor do que o retorno das ações da Ambev. E mesmo na comparação dos últimos dez anos (entre 13 de setembro de 2002 e 12 de setembro de 2012), a Ambev teve uma valorização de 1.168,84%, quatro vezes maior que o CDI, que rendeu 272,34%.
Atualmente, a companhia é líder de mercado, com 70% de participação no setor de bebidas no Brasil. Seu portfólio exibe marcas como Antarctica, Brahma, Bohemia, Budweiser, Skol, Guaraná Antarctica, H2OH! e Gatorade. Além disso, também é uma das maiores engarrafadoras da PepsiCo fora dos Estados Unidos.
Sua margem Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações) teve uma variação de quase quatro pontos percentuais entre 2007 e 2011, passando de 44,9% a 48,4% no período. A variação do indicador de um ano em relação a outro mostra que a empresa conseguiu ser mais eficiente e aumentou sua produtividade.
A Ambev é reconhecida por sua cultura de gerar eficiência e generosas retribuições de lucros. Especialistas em análises da empresa explicam que a remuneração dos funcionários varia de acordo com os resultados. Por isso, desde os profissionais da área de operações até os executivos têm metas agressivas.
Além da gestão eficiente, a empresa cresceu também pelo impulso do setor. Apenas no Brasil, o consumo per capita de cerveja, principal produto da Ambev, passou de 47,6 litros por ano em 2004, para 54 litros por ano em 2008 e a 65,3 litros por ano em 2010, segundo o ranking global de consumo de cerveja do Instituto Kirin, centro de pesquisas de uma das maiores cervejarias do mundo. Com o aumento da renda disponível, além do aumento do consumo, há uma mudança nos hábitos. Consumidores que antes só consumiam cachaça, por exemplo, passam a consumir cerveja.
Outros fatores que impulsionaram o crescimento da empresa foram as compras de novos distribuidores, o que garantiu à empresa maior capilaridade, o aumento da inovação, com o anúncio de novos produtos e o fortalecimento da venda da cerveja em bares, onde o consumo é mais elevado.
A escassez de outras opções de ações com boa visibilidade e focadas no setor de consumo também favorece as ações da fabricante. Além da Ambev, as únicas opções com características semelhantes seriam a Natura e a Souza Cruz, por isso as três empresas são bastante buscadas por investidores. As ações da Souza Cruz, por exemplo, também tiveram bons retornos nos últimos cinco anos, com uma valorização de 420,19%. A empresa é uma alternativa de investimento à Ambev por também ter demanda estável, que decorre do fato de o cigarro também ser um produto viciante.
Caráter defensivo em momentos de crise
Enquanto algumas empresas sofrem com desacelerações econômicas, como a Vale, que reduziu as exportações de minério de ferro, o consumo de bebidas permanece quase inalterado. Isto porque em uma recessão, o consumidor prefere não diminuir o consumo de eletrodomésticos e carros, que são produtos que exigem maior confiança do comprador, do que a cerveja. É exatamente esta demanda estável que garante à ação um caráter defensivo em momentos de crise.
Outro fator decorrente da crise atual que atrai investidores para as ações da Ambev é a sua atuação em mercados emergentes. A Ambev e suas subsidiárias produzem, distribuem e vendem cerveja, refrigerantes e outros produtos em 14 países da América. Na América do Sul, a empresa tem operações na Argentina , Bolívia, Paraguai, Uruguai e Chile. Com a situação desfavorável na Europa e nos Estados Unidos, os investidores estão procurando crescimento justamente nos mercados de atuação da empresa, que são os países emergentes.
Perspectivas
No curto prazo, o fator mais influente sobre as ações da Ambev é o aumento da tributação sobre bebidas frias. A medida que passa a vigorar no dia 1 de outubro e deve gerar um aumento no valor dos produtos.
Fernando Labes, analista das ações da Ambev do Banco Safra acredita que a mudança deve ter impactos negativos para a empresa. “Nós esperamos que a Ambev passe o impacto [da medida de tributação] para os preços, levando a uma contração de volume de vendas de 1% e 5% em cerveja e bebidas gaseificadas, respectivamente”, diz.
Outros dois analistas consultados por EXAME.com, que não quiseram se identificar, também comentaram o impacto da nova tributação sobre a empresa.
Um deles defende que parte do efeito da nova tributação já foi assimilada pelas ações nos últimos meses, por isso, o papel não deve ter uma forte desvalorização depois que a medida entrar em vigor. Ele também acredita que, se por um lado os novos impostos podem reduzir os investimentos, por outro lado, a Copa do Mundo e as Olimpíadas devem aumentar a demanda por bebidas no país e podem impulsionar novos investimentos.
O outro analista discorda. Para ele, os megaeventos não devem afetar em nada a demanda da empresa e a nova tributação ainda não foi totalmente precificada. “Os eventos terão 0,000% de impacto na empresa. O que é o público das Olimpíadas perto do público que bebe no Brasil? Um verão quente e seco ou um Carnaval é melhor do que as Olimpíadas”.
Ambos concordam, no entanto, que os níveis de crescimento da empresa não devem ser os mesmos dos últimos anos. “As alavancas de crescimento do passado estão se esgotando. Sem novas aquisições em outros países, sem opções claras de expandir, sem ganhar marketshare e com mais impostos nos próximos anos, o crescimento deve ser muito mais devagar”, diz um dos especialistas. E o outro analista completa: “A empresa cresceu muito em 11 anos. Quando houve a fusão entre a Brahma e Antártica ainda havia muito custo e eficiência para tirar da empresa. Eles podem até comprar mais empresas, mas o crescimento de margem não deve ser o mesmo”.
Mesmo com novos investimentos previstos na região nordeste do país, eles não acreditam que a entrada na região seja o suficiente para sustentar o mesmo crescimento. Eles justificam que crescer em São Paulo e no Rio de Janeiro pode ser mais fácil que crescer no norte e no nordeste, onde o consumidor é mais sensível ao preço.
Há quem acredite também que o avanço das cervejas premium, como Bohemia, Original e Budweiser deve favorecer a empresa. Atualmente, as marcas premium respondem por 5% das vendas do setor. Estas cervejas podem se tornar mais conhecidas com o aumento de renda e a maior influência de turistas que vêm ao Brasil e de brasileiros que viajam ao exterior. Os argumentos contrários à tese de crescimento do setor premium, porém, são baseados na possibilidade de que os brasileiros migrem seu consumo não para cervejas premium, mas para produtos como whisky e vodka e também no fato de esta ser uma aposta antiga, que não se concretiza já há alguns anos.
Apesar de menor crescimento, investimento ainda é seguro
Mesmo com as perspectivas de desaceleração, os analistas ainda veem as ações da Ambev como um investimento seguro. “A Ambev é uma empresa de muita qualidade, com uma ótima gestão, e não tem surpresas. O volume de vendas de cerveja deve cair um pouco, mas ela continua líder. O grupo Kirin, que comprou a Schincariol pode aumentar competição e o setor pode ser afetado pela inflação dos preços dos alimentos, mas não tem nenhuma ameaça muito grande”, diz um dos analistas consultados.
Ele também afirma que outra fonte de segurança para os papéis da Ambev é a baixa interferência do governo. “O governo afeta as companhias elétricas reduzindo as tarifas, os bancos, diminuindo os juros e a Petrobras, reduzindo as margens. No caso das bebidas, o governo tem pouca interferência, apenas pelos impostos e os investidores fogem dos papéis que o governo põe a mão”.
Os analistas também afirmam que e empresa tem um bom relacionamento com os investidores. Periodicamente são realizadas teleconferências para os investidores com a participação do CFO (responsável pelo setor financeiro da companhia) e o presidente da companhia e normalmente o atendimento a investidores é feito por funcionários que estão há mais de três anos na empresa. Essa transparência com os investidores, segundo eles, também é um fator que garante mais segurança ao investimento.
Boa distribuição de dividendos
A Ambev integra a maior plataforma de produção e comercialização de cervejas do mundo, a Anheuser-Busch InBev (AB InBev) e individualmente é a quarta maior cervejaria do mundo e líder no mercado latino-americano. A liderança de mercado é um dos fatores que explica a alta geração de fluxo de caixa e os altos pagamentos de dividendos. Com grande participação de mercado, a empresa não tem tanta necessidade de usar suas margens de lucros para fazer frente a outras empresas, repassando assim maiores lucros aos acionistas.
Entre 2007 a empresa repassava 40% dos lucros aos acionistas e em 2011 o repasse aumentou para 63%, mesmo depois da queda de três pontos percentuais nos repasses entre 2010 e 2011 - ano em que a empresa optou por aumentar os preços de alguns produtos e teve uma diminuição no volume de vendas.
A demanda estável da empresa também contribui para a maior distribuição de dividendos. Enquanto outras empresas de comportamento cíclico têm resultados que oscilam diante de crises, a Ambev mantém os resultados e consegue também manter os pagamentos dos proventos regularmente.
Com as perspectivas de redução do crescimento e a consequente diminuição do comprometimento dos lucros com investimentos, existe a possibilidade de que a empresa pague maiores dividendos aos investidores.
No entanto, com menor crescimento do volume de vendas, também restam menos margens para serem distribuídas. E ainda, com as reduções da taxa Selic, as ações que pagam bons dividendos ficam mais atraentes em relação a investimentos em renda fixa e pode haver uma valorização dos papéis. Com um possível aumento do preço da ação, o dividend yield (dividendo pago por ação) ficaria menor e o pagamento de dividendos sofreria reduções.
Para chegar a um consenso sobre o que deve acontecer em relação aos investimentos da empresa e sobre os dividendos, os analistas aguardam ainda o pronunciamento da empresa na próxima teleconferência, que irá definir qual será a posição da companhia diante do novo cenário de impostos e da economia.