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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O ano de 2004 revelou a retomada ainda que lenta da captação financeira no mercado acionário. Desde o início do ano, três empresas abriram capital, e outras já anunciaram que se preparam para listar as ações na bolsa. Em comum, essas companhias têm outras características além da necessidade de captar recursos. Segundo Marcelo Kayath, diretor de renda variável para a América Latina do Credit Suisse First Boston (CSFB), as empresas que ingressam na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) compartilham um perfil bem definido. Detêm participação dominante em seus mercados, apresentam claro potencial de crescimento e já no lançamento de seus papéis respeitam os minoritários. "Ou oferecem só ações ordinárias [com direito a voto], ou preferenciais com direito de voto em certas questões", diz Kayath. É um diferencial que oferecem para atrair mais investidores.
José Barreto da Silva Netto, advogado do escritório Levy e Salomão, aponta duas características que envolvem as estréias no mercado de capitais. Primeiro, é preciso escala para se animar à iniciativa. "É caro entrar e manter-se na Bolsa. Paga-se um banco, uma auditoria, um consultor legal, realiza-se um road show. A operação, portanto, tem que compensar, tem que ter volume." Além disso, explica, hoje não se abre capital apenas na Bovespa, mas também na Europa e nos Estados Unidos. "E lá, se a operação é inferior a 100 milhões de dólares, os investidores nem gastam tempo para analisar a operação."
Outro quesito é que a empresa demonstre dinamismo que justifique o lançamento de papéis em Bolsa. "As empresas entram para ampliar negócios. Esse é o discurso que cai bem para o investidor. Eventualmente, para abater dívidas. Neste caso, se é empresa com boas perspectivas, o investidor compra mesmo assim."
A explicação para a retomada do interesse das empresas em listar-se na bolsa encontra-se na diminuição da incerteza sobre o governo Lula, na opinião de Kayath. A maior confiança dos empresários, a redução lenta mas gradual da taxa básica de juros e a recuperação da demanda interna tornaram a renda variável interessante em relação à renda fixa.
Saídas
Segundo o diretor de renda variável do CSFB, o período entre 1997 e 2002 concentrou muitas saídas importantes da Bolsa de Valores, em função de privatizações, aquisições e fusões. "Não fazia mais sentido para certas companhias serem abertas no Brasil. Transferiram sua listagem para os Estados Unidos."
De qualquer modo, sair da Bolsa também é caro. Já houve época em que compensava recomprar as ações emitidas, porque haviam atingido um nível muito baixo. Mas a instrução 361 da Comissão de Valores Mobiliários, de março de 2002, estabeleceu que o fechamento de capital deve ser realizado a "preços justos".
Como o nível de preços dos papéis na Bolsa subiu consideravelmente, na avaliação do mercado, isso significa que fechar capital é mais custoso do que antes.