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A volta do rosé

Uma nova safra de rosados chega ao país -- desta vez, os produtores resolveram caprichar

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h05.

O rosé sempre foi visto como um ilustre representante da segunda divisão do mundo do vinho. Alguns motivos contribuíram para sedimentar essa percepção. O mais importante deles foi a total falta de capricho de muitos produtores. Os exemplares resultavam de sangrias realizadas para aumentar a concentração dos vinhos tintos. Outros nasciam da mistura pura e simples de vinho branco e tinto -- quase sempre com resultado sofrível. Outra razão para o descrédito do rosé era a ausência de hábito do consumidor, que não tinha idéia das combinações possíveis entre o vinho e a comida. Nos últimos meses, porém, isso vem mudando radicalmente. O rosé foi a maior sensação nos bares da Europa e dos Estados Unidos no último verão, e as vendas de alguns produtores triplicaram. Os importadores vêm constatando uma repetição do fenômeno no Brasil. Nas principais empresas do setor, as vendas de rosé dobraram de um ano para cá. "O consumo está explodindo no mundo todo", afirma Philippe Guigal, diretor-geral e enólogo da Domaine E. Guigal, premiada vinícola da região do Rhône, na França.

O investimento em qualidade é a principal razão para que os rosados voltem à moda -- eles já fizeram sucesso nos anos 50 e 60. "Quem acompanha o mercado sabe que eles estão muito melhores", afirma Otávio Lilla, diretor da importadora Mistral. Os produtores que estão na vanguarda elaboram o rosé da maneira tradicional, sem as apelações que colocaram o produto em descrédito. Até o início do processo, a fabricação é idêntica à de um tinto: as uvas tintas são prensadas na vinícola e começam a fermentar em contato com as cascas. A diferença vem 24 horas depois do início da fermentação, quando as cascas (responsáveis pela cor do vinho tinto) são retiradas. Esse processo de vinificação -- com um moderno controle de temperatura enquanto o mosto se transforma em vinho nos tanques de aço inox -- garante o frescor, o corpo leve e os aromas frutados característicos do rosé. O resultado, diz a enóloga argentina Susana Balbo, sócia da vinícola Dominio del Plata, é um vinho que atende às expectativas atuais do mercado. "Os consumidores têm buscado vinhos mais frutados, alegres, fáceis de beber", afirma ela. Nesta safra, a Dominio del Plata aumentou em 70% a produção do seu Crios Rosé, elaborado com a uva malbec, e tem encomendas garantidas para Europa, Estados Unidos e Brasil.

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Idade
Os melhores são os mais jovens. Fuja daqueles com mais de três anos de idade
Temperatura
O rosé deve ser bebido entre 10ºC e 12ºC
Comida
Acompanha pratos em que um branco seria muito leve e um tinto mascararia o sabor da comida, como quiches e refeições com frutos do mar e azeite

A segunda explicação para o interesse pelo novo rosé é de natureza gastronômica. O crescimento do mercado mundial de vinhos e a sofisticação dos hábitos do consumidor aumentaram naturalmente a demanda por produtos menos conhecidos, como os rosés e os vinhos de sobremesa. "Um dos grandes desafios é harmonizar o rosé com a comida", afirma Cecilia Canaro, responsável pela Fleixenet para a América Latina. A harmonização sai do batido carne-tinto e peixe-branco. Os rosés são considerados ideais para acompanhar pratos mais leves, como saladas e quiches, e receitas mediterrâneas, com peixes, frutos do mar e muito azeite.

A pressão do mercado está forçando as vinícolas a abrir espaço para os rosés. A chilena Santa Rita, por exemplo, lançou um rosado elaborado com a uva cabernet sauvignon, cujas vendas crescem 15%. A Viña Montes, também chilena, conhecida por tintos como o Montes Alpha, acaba de lançar seu primeiro rosé, o Cherub. A produção de 20 000 garrafas em 2005 mais do que triplicou nesta safra: 65 000 garrafas. Outras vinícolas, como Santa Carolina e Santa Helena, também trouxeram para o Brasil seus rosés. Mesmo produtores nacionais, como a Miolo, colocaram no mercado rótulos para competir nesse nicho. "Havia uma demanda reprimida por um rosé de qualidade", diz Otávio Piva de Albuquerque, presidente da Expand. Apesar do crescimento, o número de garrafas vendidas ainda é pequeno. Na Expand, por exemplo, os rosés representavam 0,2% das vendas totais em 2004 e devem chegar a 1% neste ano. Nesse ritmo, a volta à primeira divisão fica cada vez mais próxima.

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