Minhas Finanças

8 ações com potencial, mas subestimadas pelos investidores

Conheça as empresas preferidas dos gestores de fundos que escolhem ações descontadas, mas com grande potencial de crescimento


	Pizzas da Sadia, da BRF: empresa ainda não atingiu seu potencial após fusão, diz gestora
 (Adriano Machado/Bloomberg)

Pizzas da Sadia, da BRF: empresa ainda não atingiu seu potencial após fusão, diz gestora (Adriano Machado/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h08.

São Paulo – No último Fórum Value Investing Brasil, realizado na semana passada em São Paulo, alguns gestores apontaram as suas ações preferidas com base na estratégia de investimento de valor ou value investing. Trata-se de empresas com ações descontadas, penalizadas exageradamente pelo mercado, mas que possuem bons fundamentos e potencial de crescimento de longo prazo que nem todo mundo ainda é capaz de ver.

Os gestores de fundos que seguem estratégias de valor estudam a fundo as empresas em que investem, compram fatias consideráveis das companhias e costumam ser ativos nas decisões de seus conselhos. Em função disso, torna-se muito difícil para o pequeno investidor pessoa física replicar suas estratégias.

Primeiro porque pode faltar tempo ou conhecimento para um estudo tão aprofundado das ações; segundo, devido à falta de poder de influenciar as decisões da empresa; e terceiro porque fica difícil saber quando o fundo vai sair do negócio e realizar seus lucros – o que pode ser especialmente problemático no caso de empresas de baixo valor de mercado e pouca liquidez.

Foi o caso das escolhas das ações top picks dos gestores convidados pelo Value Investing Brasil em outros anos – small caps pouco conhecidas e de baixa liquidez. Neste ano, porém, os convidados fizeram considerações interessantes sobre empresas um pouco mais óbvias, como Eztec, Coelce e Kroton.

Veja nas páginas a seguir as oito ações preferidas dos fundos de ações de quatro gestoras que seguem estratégias de valor - Edge Investimentos, M Square Investimentos, Apex Capital e Rio Bravo Investimentos – e entenda por que elas acham que essas empresas têm um potencial “escondido”.


Bernardo Dantas, sócio-fundador da Edge Investimentos, gestora de fundos de investimentos em ações

São Carlos

Controlada pelo trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, a São Carlos Empreendimentos e Participações (SCAR3) tem foco na gestão patrimonial de imóveis corporativos de alto padrão. Seu portfólio abarca empreendimentos nos estados do Rio, de São Paulo e de Minas Gerais.

O modelo de negócios da companhia se baseia na compra e na administração de imóveis adquiridos com o objetivo de aumentar as receitas de aluguel e valorizá-los. Para isso, a empresa faz melhorias nas propriedades, busca locatários e otimiza a administração, podendo, posteriormente, vender os empreendimentos.

Por que a Edge gosta da ação: boa gestão, bom modelo negócios, balanço sólido, correção das receitas de aluguel pela inflação, e baixa taxa de vacância dos imóveis (3%, contra 10% do mercado paulistano). A entrada da companhia no segmento de Strip Malls (pequenos shoppings de bairro) é interessante, uma vez que nenhuma outra empresa investe de forma organizada neste mercado no Brasil.

Mas há riscos que afetam o preço da ação. O mercado está um pouco “assustado” com o aumento na oferta de imóveis corporativos em São Paulo em 2013, o que vem aumentando a vacância.

Coelce

A Coelce (COCE3 e COCE5) é a distribuidora de energia elétrica do estado do Ceará. É a terceira maior distribuidora do Nordeste em volume comercializado de energia, com fornecimento para aproximadamente 3 milhões de clientes em 184 municípios. Sua área de concessão abrange uma população de 8,4 milhões de habitantes. Em 2012 foi eleita pelo quarto ano consecutivo a melhor distribuidora de energia elétrica do Brasil e a melhor na avaliação do cliente pela Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee).

Por que a Edge gosta da ação: É uma das poucas companhias do setor de energia elétrica que não sofreram diretamente com a interferência do governo nas renovações das concessões no ano passado por ter contratos longos, até 2028. Apresenta gestão eficiente e serviços de qualidade, bom pagamento de dividendos, correção das receitas pela inflação, baixo endividamento (900 milhões de reais) e 300 milhões de reais em caixa.

Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará vem apresentando crescimento acima do PIB brasileiro. A demanda por investimentos em infraestrutura no Brasil também deve favorecer a empresa. Existe também uma chance de o controlador da Coelce fazer uma oferta por suas ações.

A Edge espera um retorno de 18% a 20% para a ação nos próximos anos. A ação, no entanto, tem sido sacrificada tanto pela penalização do setor elétrico em função dos riscos regulatórios – o que a gestora considera injustificado no caso desta companhia em particular – quanto por causa de uma revisão tarifária que a obrigou à devolução de alguns valores. No entanto, a Edge considera que, após essa devolução, a geração de caixa da companhia voltará ao normal.


Paulo Belliboni, sócio da M Square Investimentos

Kroton

A Kroton (KROT3) é a maior companhia aberta de ensino superior do Brasil hoje, mas atende a diversos segmentos educacionais, da Educação Infantil à Pós-Graduação. Oferece Ensino Superior nas modalidades presencial e à distância, possui escolas associadas (quase como se fosse um sistema de franquias) e sistemas de ensino, que compreendem material didático, serviços de treinamento, avaliação e tecnologia educacional.

A presença da empresa é nacional, com 53 campi de Ensino Superior, localizados em dez estados, além de 447 polos de Ensino à Distância. Só no Ensino Superior são 411 mil alunos, sendo ainda 289 mil na Educação Básica. Recentemente se fundiu com a Anhanguera, criando a maior empresa do setor de educação do mundo, avaliada em aproximadamente 16 bilhões de reais.

Por que a M Square gosta da ação: oportunidade de crescimento muito grande devido à baixa penetração do mercado de Ensino Superior no Brasil. A companhia apresenta os melhores resultados do setor de educação privada nas avaliações de ensino do governo e possui equipe com grande conhecimento da área, tanto na parte acadêmica quanto financeira.

A expansão do crédito educativo no Brasil, programas governamentais como FIES e Prouni, e as mensalidades mais baixas e horários flexíveis do Ensino à Distância tornam o ensino superior mais acessível a pessoas de renda mais baixa e que precisam trabalhar e estudar. Com menos custos para os alunos, as salas de aula começam o ano mais cheias, a receita cresce e a evasão escolar cai. O ensino à distância também tem a vantagem dos menores custos operacionais, uma vez que os polos são operados por parceiros.

É possível que o governo mexa no FIES, reduzindo o benefício fiscal das instituições de ensino participantes ou obrigando-as a arcarem com uma fatia maior da inadimplência. No entanto, a medida atingirá o setor como um todo, não uma única empresa. A M Square espera que seu faturamento alcance 4,5 bilhões de reais no ano que vem. A gestora espera ainda que a companhia dê um retorno de 25% a 30% ao ano nos próximos três anos.

BRF

Criada a partir da fusão entre Perdigão e Sadia, a BRF (BRFS3) é uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Atua no segmento de carnes (aves, suínos e bovinos), alimentos processados de carnes, lácteos, margarinas, massas, pizzas e vegetais congelados, com marcas como Sadia, Perdigão, Batavo, Elegê, Qualy, entre outras.

A BRF é uma das maiores exportadoras mundiais de aves e responde por mais de 9% das exportações mundiais de proteína animal. Tem 110 mil funcionários, opera 50 fábricas e leva seus produtos para consumidores em 98% do território nacional. No mercado externo, atende a mais de 120 países nos cinco continentes.

Por que a M Square gosta da ação: Os produtos da BRF são de consumo essencial, o que faz com que a empresa tenha potencial de crescimento ainda que o cenário econômico seja de crise. Na opinião da gestora, é “um dos melhores ativos do mundo”. Tem vantagens nos preços dos insumos, como milho e soja para ração animal, devido ao grande volume adquirido no Brasil. A cadeia de produção e distribuição é bastante integrada, e a base de clientes é pulverizada, com nenhum cliente representando mais do que 5% da receita da empresa.

Suas marcas têm grande participação de mercado, e a companhia é capaz de explorar diferentes cortes de carne de acordo com as preferências dos diferentes mercados. A M Square acredita que a empresa ainda é nova (a fusão só foi concluída em 2012) e que, portanto, ainda não deu todo o retorno potencial que possui com a integração.

Outra fonte de retorno potencial é a recente ida de Abilio Diniz para a presidência do conselho e de Claudio Galeazzi para a presidência da companhia, uma vez que ambos têm foco em expandir o potencial dos ativos. A gestora espera um retorno de 15% a 20% para a ação nos próximos três anos.


Paulo Weickert, sócio-fundador da gestora Apex Capital, focada em renda variável

Eztec

A Eztec (EZTC3) é uma incorporadora que atua em São Paulo e Região Metropolitana, que também atua nas áreas de construção e vendas, com foco em empreendimentos residenciais de médio e alto padrão.

Por que a Apex gosta da ação: grande potencial do setor de construção civil no Brasil, redução do tamanho das unidades residenciais (o que deixa os preços mais acessíveis) e baixo volume de crédito imobiliário no Brasil em comparação ao Produto Interno Bruto (PIB). Em vez de atuar em diversos mercados e segmentos de renda, a Eztec optou por focar em um segmento e uma região geográfica. Além disso, é a única empresa do setor que opera desalavancada e com caixa líquido.

Os executivos da companhia estão compromissados com a geração de resultados, uma vez que são também os controladores. A rentabilidade dos projetos é boa, e a margem da empresa é comparável à de companhias de capital fechado. O fato de a operação ser verticalizada (incorporação, construção e venda) faz com que haja um bom ganho de margem em todas as etapas da cadeia. Os terrenos são comprados em dinheiro, evitando a permuta financeira ou física, que obriga a dividir o retorno com o dono do terreno.

Segundo a Apex, existe uma boa previsibilidade de lucro para a companhia nos próximos dois ou três anos, e a empresa está entrando em um momento de geração de caixa. Assim, ou vai distribuir um percentual maior de dividendos – hoje no mínimo de 25% dos lucros – ou vai reinvestir a taxas melhores. O retorno para este e o próximo ano é esperado em cerca de 30%.

Tecnisa

A Tecnisa (TCSA3) é uma empresa do ramo da construção civil que, assim como a Eztec, atua de forma integrada em incorporação, construção e vendas. Ao contrário da outra top pick da Apex, porém, a Tecnisa se expandiu geograficamente e em diferentes segmentos de renda, já tendo lançado mais de 5 milhões de metros quadrados em 27 cidades do país. Investe em imóveis residenciais, comerciais, hoteleiros, casas, flats e lotes.

Por que Apex gosta da ação: como outras construtoras, a Tecnisa teve sérios problemas recentemente com estouro de custos e alto endividamento, o que penalizou bastante suas ações. Por isso mesmo, suas ações já foram bastante descontadas, e não têm mais chance de cair tanto, apresentando boa margem de segurança. O empreendimento Jardim das Perdizes apresenta altas margens, e em 2014 chega o momento de geração de caixa.


Rafael Alves Rodrigues, diretor de renda variável da Rio Bravo Investimentos

Cetip

A Cetip (CTIP3) oferece serviços de registro, central depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos. É a maior depositária de títulos privados de renda fixa da América Latina e a maior câmara de ativos privados do país. Tem mais de 15 mil empresas participantes utilizando seus serviços, como fundos de investimento, bancos, corretoras, distribuidoras, financeiras, consórcios, empresas de leasing e crédito imobiliário, cooperativas de crédito, investidores estrangeiros e empresas não financeiras.

Entre os produtos e serviços prestados estão o processamento de TEDs e liquidação de DOCs, o registro de CDBs e títulos de renda fixa, e o serviço de entrega eletrônica das informações necessárias para o registro de contratos e anotações dos gravames pelos órgãos de trânsito.

Por que a Rio Bravo gosta da ação: Apesar do risco de concorrência, a gestora acha difícil que a Cetip perca sua posição no mercado, em função dos custos para os clientes da Cetip para trocar os serviços pelos de outra empresa. Em 2010, a Cetip comprou a empresa que mantém o Sistema Nacional de Gravames (SNG), onde são registradas todas as penhoras e financiamentos dos veículos. O negócio, que representa 35% do faturamento da companhia, pode ser considerado um pouco “blindado”, uma vez que o sistema precisa ter abrangência nacional e se relaciona com todos os DETRANs do país.

A Rio Bravo espera que a ação seja negociada a 20 vezes o lucro, com um dividend yield na casa dos 10%. Mas hoje é negociada a 17 vezes. Isso porque a ação é um pouco penalizada pelo mercado pelos riscos da entrada de novas concorrentes no setor, como a própria BM&FBovespa. O sistema de registro de financiamentos de veículos também sofre alguma concorrência de sistemas próprios de alguns DETRANs.

Unicasa

A Unicasa (UCAS3) é uma fabricante de móveis planejados do polo moveleiro de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. É dona de marcas como Dell Anno, Favorita, New, Casa Brasileira e Telasul Modulados. Trata-se de uma small cap, com valor de mercado de apenas 400 milhões de reais.

Por que a Rio Bravo gosta da ação: a ação caiu bastante após a abertura de capital (IPO) em 2012, porque estava no pico de seus resultados. Além disso, a empresa teve problemas com entrega e montagem de móveis e com revendedores que usaram o dinheiro recebido adiantado antes de pagar a fábrica.

Contudo, a Rio Bravo acredita que seu negócio seja muito rentável. As lojas de móveis planejados vêm se multiplicando no eixo Rio-São Paulo. O investimento em distribuição é baixo, uma vez que a empresa opera com modelo de revenda exclusiva. São os revendedores, que só operam marcas da Unicasa, os responsáveis pelo investimento em vendas.

A Rio Bravo está presente no conselho da empresa e contratou uma consultoria de marketing para saber, do cliente final, o que mais influencia na sua decisão de compra. Como não se trata de uma compra por impulso, a estratégia de marketing mais acertada pode não ser o investimento em anúncios de jornais e revistas, mas sim de internet, onde as pessoas procuram objetivamente esse tipo de produto, diz a gestora.

A companhia também tem projetos de lojas próprias em endereços premium de São Paulo que pertenciam a revendedores exclusivos com dívidas com a empresa. Outros projetos são parcerias com hotéis e incorporadoras para mobiliar as unidades comercializadas e investimento em pós-venda, parte mais sensível do negócio, que seria atendido por uma central própria.

*Matéria atualizada às 12h16.

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