5 conselhos de Gustavo Franco a investidores
Ex-presidente do BC e sócio da Rio Bravo prefere evitar as ações da moda e aconselha investidor a encontrar o nível de risco adequado a seu perfil
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2013 às 15h16.
São Paulo - Num país com uma economia historicamente bagunçada como a brasileira, qualquer presidente de Banco Central que tenha promovido mudanças institucionais importantes sempre será lembrado por isso.
Henrique Meirelles ensaiou uma carreira política, chegou a presidir um grande banco americano, mas no futuro será recordado por ter acumulado as reservas necessárias para que o Brasil resistisse ao furacão que varreu a economia mundial na segunda metade de 2008.
Arminio Fraga coordena trabalhos para a evolução do mercado de capitais brasileiro, já ganhou muito dinheiro em bolsa, mas ficou marcado por ter pilotado com extrema competência o processo de desvalorização do real em 1999. Já Gustavo Franco é reconhecido como um dos pais do Plano Real e por ter ajudado a trazer a inflação anual brasileira de 7.260% para 2% em um período de quatro anos.
No livro "Cartas a um Jovem Economista", lançado nesta semana pela Campus-Elsevier, Gustavo Franco confirma que não fez nada mais importante como economista do que sua colaboração para o sucesso do Real durante a década de 90, quando presidiu o BC.
Mas ele também joga luz sobre trechos menos conhecidos de sua carreira, como o doutorado na Universidade Harvard e a atual fase como estrategista-chefe e sócio da Rio Bravo Investimentos.
Para quem investe em bolsa, seguramente os relatos do investidor Gustavo Franco são os mais interessantes. Abaixo, EXAME publica um compilado de uma entrevista exclusiva e de trechos do livro em que o ex-presidente do BC fala sobre sua visão sobre o mercado financeiro:
1 - Não compre ações por "modismos" - Não parta do princípio de que existem trouxas no mercado financeiro por mais irracional que uma decisão possa parecer. Isso é uma ilusão. Imperfeições do mercado costumam ser rapidamente percebidas e exauridas. Isso não quer dizer que sistemas de incentivos errados não levem a distorções na bolsa. As ações negociadas estão sujeitas a ondas e modas. A John Maynard Keynes é atribuída uma famosa comparação entre as movimentações de mercado e um concurso de miss. Para adivinhar a vencedora, não adianta escolher a que lhe parece mais bonita para "nossos deformados parâmetros individuais". É necessário identificar quem cairá no gosto da opinião majoritária.
É um erro se deixar levar por esse tipo de coisa - e isso não é fácil. O que um economista faz é trabalhar com uma cabeça mais fundamentalista, firmemente ancorada na teoria econômica, nas lições da história e na experiência. O economista estuda as demonstrações financeiras e levanta informações sobre uma empresa para formar uma ideia sobre o preço correto dos ativos. Isso não está ligado a modismos ou movimentos especulativos nem é o que conta todo o tempo, mas no fim do dia é o que importa. Esse trabalho não é utilizado para operações de curto prazo. Diz o site da Rio Bravo: "Acreditamos menos em imperfeições nos mecanismos de mercado do que em diferenciais relevantes e consistentes nas capacidades de diferentes investidores em apreender a realidade que os cerca." E completa: "Trabalhamos (...) cientes de que o funcionamento das leis econômicas sempre acaba prevalecendo sobre a névoa produzida pelas posturas curto-prazistas amiúde adotadas pelos mercados."
2 - Economistas erram tanto quanto outros profissionais - Muito criticados em 2008 pela incapacidade de prever os excessos na concessão de crédito nos países desenvolvidos, os economistas estão longe de ser tão ruins quanto muitas vezes se diz. Como qualquer outro profissional, o economista não possui uma bola de cristal. A todo momento, entretanto, é chamado a fazer previsões. "Erros e acertos, intencionais ou não, ocorrem todo o tempo nessa profissão em que não há base científica para o ofício de profeta, mas há enorme demanda por profecia", escreve Franco. Quando se recusa a tentar antecipar o imprevisível, o economista fica sujeito a ser tratado com desprezo. Não são raros os momentos em que aparece uma patrulha que diz que não entende por que esses profissionais estudam tanto para nada.
Erros sobre o futuro são bastante comuns em qualquer profissão. Físicos se equivocam na previsão do tempo não porque as leis da física não funcionam, mas porque é complexo prever o futuro. Não é porque um médico não sabe prever qual será a evolução do estado de saúde de uma pessoa que ele não serve para nada. Quando inventaram a loteria esportiva, muita gente pensou que os comentaristas esportivos ficariam milionários. Mas não sei de nenhum que tenha enriquecido dessa maneira.
As previsões que não estão fadadas a dar errado são as menos específicas. Há muito imponderável em acertar o resultado de um jogo no curto prazo. Já prever o campeão ao final de um torneio me parece dentro do terreno fundamentalista. Todo mundo sabe que haverá bolhas econômicas a cada cinco ou dez anos. O difícil é prever quando alguma delas vai estourar. Não é à toa que um presidente americano disse que os economistas anteciparam dez das últimas cinco recessões.
Na gestão de investimentos, sempre haverá profissionais que vão errar e que vão acertar as previsões. Mas quem faz o dever de casa e levanta mais informações que os outros terá uma taxa de acerto acima da média. Da mesma forma, o meteorologista que se graduou em física será melhor que o camarada que ficou na praia, não estudou nada, não passou no vestibular e joga búzios para saber se vai chover ou não.
3 - Junte-se a pessoas que compartilham de seus valores - Antes de se associar a uma empresa por meio da compra de ações, cheque a reputação dessa companhia cuidadosamente. Todas as empresas divulgam em seus sites que possuem mais ou menos os mesmos valores. Mas isso é uma ilusão. Há níveis diferentes de integridade. Tente conversar com pessoas que trabalham ou já trabalharam nessa empresa. Fale com clientes e com fornecedores. Verifique se é uma empresa que faz tudo dentro da lei ou paga seus colaboradores por fora. Ou então se paga impostou ou utiliza artimanhas tributárias. Lembre-se que você vai se associar com a empresa e com tudo que está dentro dela.
4 - Pratique aquilo que você acredita - Os fundos da Rio Bravo possuem políticas de investimento definidas por escrito em conjunto com seus investidores. Essas políticas definem em grandes linhas as formas como vamos fazer nossas escolhas de investimento. Para que o mercado confie na Rio Bravo, temos que seguir à risca o que está escrito ali. Se nos procuram para encontrar empresas boas e baratas, essa é a missão que temos de perseguir. Há muitas empresas espetaculares na bolsa, mas que estão caras. Essas empresas de excelente reputação são as melhores para alguém trabalhar, mas não necessariamente são ótimas opções de investimento. Procuramos o que é bom e barato e acreditamos que a análise fundamentalista é o caminho para chegarmos nisso. Sabemos que não é fácil. Mas é preciso praticar aquilo que acreditamos para que o cliente confie em nós.
5 - Encontre o nível de risco que você pode tolerar - Há certo inconformismo de pessoas mais velhas como eu, talvez meio irracional, ou excessivamente racional, e que tem a ver com jovens que correm riscos. É um sentimento egoísta de gente mais velha, que quer racionalizar o medo de ver seus filhos seguindo seu destino. Um jovem sempre parece estar ultrapassando os limites do que parece prudente. Mas a verdade é que alguém que não toma nenhum risco também não vai a lugar nenhum. O que cada um tem que encontrar é um ponto de equilíbrio que mostre o nível de risco que pode tolerar. A bolsa é um investimento de risco, mas, na Rio Bravo, temos vários sistemas de controle. Cabe ao gestor medir o risco dos fundos e ver se está de acordo com o que os cotistas definiram como política para cada um deles. O gestor é um servo do mandato estabelecido dentro do regulamento do fundo.