Mercados

Volatilidade externa e economia em ritmo lento afetam mercado de capitais

Cenário eleitoral incerto também contribui para maior cautela na escolha dos ativos pelo investidor

Impacto: apesar do impacto ser mais imediato nas captações externas, o mesmo movimento é observado no mercado de renda variável (wutwhanfoto/Thinkstock)

Impacto: apesar do impacto ser mais imediato nas captações externas, o mesmo movimento é observado no mercado de renda variável (wutwhanfoto/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de maio de 2018 às 14h56.

Última atualização em 28 de maio de 2018 às 14h59.

São Paulo - A expectativa em relação à mudança da política monetária nos Estados Unidos aumentou a seletividade dos investidores em relação aos seus investimentos, sobretudo nos mercados emergentes. Somado a isso, a recuperação da economia brasileira em ritmo muito mais lento do que o esperado e o cenário eleitoral incerto também contribuem para a maior cautela na escolha dos ativos pelo investidor. Os efeitos desse cenário já são vistos no mercado de capitais brasileiro.

Neste ano, das emissões de ações no "pipeline" (jargão do mercado financeiro para negócios em fase de preparação), algumas não tiveram sucesso, evidenciando a seletividade dos investidores. Entre elas, Blau Farmacêutica, Ri Happy e Grupo Dass. Outras desistiram ao sondar o mercado, como JHSF Malls e Centauro, por exemplo. Em relação a emissões externas, a Light e a usina Coruripe aguardam momento mais propício para emitirem.

A disparada do dólar no mundo e a alta de juros nos Estados Unidos já estão criando ambiente "menos amigável" aos emergentes, mas os investidores vão seguir buscando boas oportunidades de retorno, embora possam exigir maiores prêmios, por conta do maior risco cambial nos emergentes, avalia o Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo.

"Agora, o mercado está 10 vezes mais seletivo. Os investidores não vão comprar qualquer 'case', mas de empresas com fundamento, que tenham base de crescimento, do setor", diz o vice-presidente executivo do Itaú BBA, Alberto Fernandes. Segundo ele, uma possível mudança da política monetária nos Estados Unidos tem afetado todos os emergentes e desviado a atenção dos investidores.

O aumento do nervosismo dos mercados começou nas últimas semanas, com a elevação da aposta de que a alta de juros nos EUA pode ter um ritmo maior do que previsto inicialmente. Com isso, o dólar vem se valorizando em relação a outras moedas e criando um ambiente menos favorável para a entrada de fluxo de capital nos emergentes.

Equilíbrio

A mudança do cenário no exterior está fazendo os investidores a fazerem um rebalanceamento de suas carteiras, ressalta o economista-chefe da gestora Western Asset, Adauto Lima. A elevação de juros nos Estados Unidos aumenta a atratividade dos títulos daquele país, muito mais seguros. Nos emergentes, Brasil e México passarão por eleições muito disputadas que ajudam a elevar o quadro de incerteza.

Nesse ambiente, o apetite dos estrangeiros em relação aos ativos brasileiros segue firme, mas a seletividade dá o tom, destaca Renato Ejnisman, diretor executivo do Bradesco. "Não será qualquer nome que irá a mercado e não a qualquer preço", diz o executivo. "A empresa que passar por essa 'régua' vai encontrar demanda", afirma. Por conta da atual volatilidade da moeda, Ejnisman pondera que algumas ofertas podem demorar pouco mais para ir ao mercado.

Mesmo com esse cenário e pelo ano eleitoral, a atividade dos bancos de investimentos segue aquecida, comenta o responsável pelo banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch, Hans Lin. "O nível está bom para um ano de eleição. O que está afetando neste momento são fatores externos e ainda uma recuperação da economia brasileira mais lenta do que o esperado", afirma. As eleições locais devem começar a ganhar a cena a partir do fim de julho, afirma Lin.

Segundo ele, a expectativa é de uma janela aberta para emissão de ações em julho e já há, inclusive, uma fila de cerca de seis empresas se preparando para estrearem no mercado, segundo apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Troca

Apesar do cenário menos favorável, as empresas brasileiras tiveram sucesso ao longo dos últimos meses para acessarem o mercado. As grandes companhias, por exemplo, conseguiram aproveitar e trocar dívida cara por mais barata acessando o mercado externo, lembra o responsável pelo banco de investimento do Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema.

"As grandes empresas não estão com a corda no pescoço e têm o luxo de poder esperar (uma normalização). A fase de necessidade já passou", afirma o executivo. Já aquelas que ainda precisam realizar o "liability management" (gestão de ativos e passivos da empresa) poderão esperar para realizar em um melhor momento.

Apesar do impacto ser mais imediato nas captações externas, o mesmo movimento é observado no mercado de renda variável. "O apetite externo é muito seletivo e não serão todas as histórias que virão a mercado que funcionarão, mas o sucesso das últimas três emissões do mercado de ações (Notredame, Hapvida e Banco Inter) mostrou claramente que o mercado está disposto a realizar investimentos", salienta Zema.

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