Vale: esse é 4º ano consecutivo de recuo dos investimentos da companhia após pico em 2011 (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2014 às 17h45.
São Paulo e Nova York - A Vale anunciou que está analisando a opção de abrir o capital de sua divisão de metais básicos, em meio a um cenário mais desafiador para o seu principal negócio, com o preço do minério de ferro em queda livre.
A oferta envolveria uma fatia minoritária da operação, que pode ficar entre 30% e 40%, disse o presidente da mineradora brasileira, Murilo Ferreira.
"O principal objetivo desse IPO é destravar valor desses ativos, mas não faremos a qualquer preço", destacou o executivo a analistas, em evento da companhia em Nova York.
A listagem, que deverá acontecer na Bolsa de Toronto (Canadá), ocorre em um momento que a companhia está trabalhando para reduzir seus custos, diante da expectativa de 'vacas mais magras' por conta do preço do minério de ferro, o que deverá afetar o fluxo de caixa livre da empresa.
O executivo disse que nenhuma decisão foi tomada e que um eventual IPO ainda não passou por deliberação do Conselho de Administração da mineradora.
"Trata-se de um inconformismo com relação ao valor percebido nas ações da Vale sobre o negócio de metais básicos e que precisa ser melhor expresso", disse o executivo.
Além de considerar o IPO, como forma de manter bons dividendos sem aumentar o endividamento, o executivo disse que a Vale intensificará seu controle de custos e irá, ainda, prosseguir com a estratégia de desinvestimentos.
Nesse contexto, a Vale anunciou nesta terça-feira, 02, investimentos para 2015 de US$ 10,17 bilhões, com queda de 26,3% em relação ao montante anunciado para este ano.
Esse é o quarto ano consecutivo de recuo dos investimentos da companhia após o pico de US$ 16,3 bilhões em 2011 e a empresa prevê novas quedas nos próximos anos, até os gastos se estabilizarem a partir de 2018 ao redor de US$ 5 bilhões.
O presidente da Vale disse ainda que a empresa irá concluir projetos correntes de desinvestimento e parcerias, incluindo em carvões e fertilizantes.
"O ano de 2015 será desafiador", disse o executivo.
Ferreira afirmou que em 2017 e 2018, o mercado será capaz de ver de forma mais completa os reflexos das ações que a Vale toma agora. "O investimento (capex) vai drasticamente cair, para algo em torno de US$ 5 bilhões em 2018", afirmou o executivo.
"A abertura de novas minas vai trazer maior produtividade", disse, destacando que a Vale conseguiu em 2014 reduzir despesas em mais de 20% e despesas pré-operacionais em 40% e aumentar a produção de minério para níveis recordes.
"Mantemos nossa disciplina e o balanço da Vale permanece forte", concluiu.
Já o diretor-executivo de Ferrosos da Vale, Peter Poppinga, disse que a mineradora está focada em redução de custos e que será competitiva em qualquer cenário.
O diretor apontou que, neste momento de preços depreciados do minério, o objetivo de ampliar a competitividade se torna ainda mais importante.
Nesse panorama, a conclusão do projeto S11D, o principal projeto da companhia, terá papel preponderante, já que ajudará a Vale a reduzir seu custo de produção, além de proporcionar à companhia um minério de mais alta qualidade.
O executivo citou que o projeto S11D teve seu orçamento revisado, indo para um valor entre US$ 16 bilhões e US$ 17 bilhões, ante uma previsão inicial de US$ 19,7 bilhões.
"Parte dessa redução ocorre pela depreciação do real, mas também pela otimização do projeto", afirmou.
O presidente da mineradora disse que a companhia não irá aumentar seus volumes de produção a qualquer preço. "Nosso critério é focar em projetos de classe mundial".
Para 2015, a Vale estima que sua produção de minério de ferro alcançará 340 milhões de toneladas, ante 320 milhões de toneladas previstas para 2014.
Ajustes
Ferreira disse ainda que o mundo passa por uma fase de ajustes, o que acabou levando a uma queda dos preços do minério de ferro.
"É uma fase de ajustes, das economias e é claro, dos provedores de matérias-primas", disse.
Ele citou que esse momento faz com que muitos players se confrontem com a realidade por não estarem preparados, mas que acaba restaurando aqueles mais competitivos.
O executivo mostrou ainda otimismo em relação à China e disse que a gigante asiática está "fazendo o que muitos países não têm coragem de fazer".
"A China está focada no emprego e continua reduzindo a disparidade da sua população. Estamos passando por ajustes, mas estou longe de enxergar que eles irão fugir do destino de ser a primeira economia do mundo", disse, destacando que hoje a sua maior preocupação é em relação à Europa.
Sobre o Brasil, o executivo disse que espera que os pontos mais frágeis da economia brasileira sejam endereçados pela nova equipe econômica anunciada na semana passada, assim como os aspectos sociais.