Funcionário da Usiminas: companhia já é a produtora siderúrgica com o pior desempenho do mundo (Usiminas/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2014 às 16h39.
Rio de Janeiro - A Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA, que já é a produtora siderúrgica com o pior desempenho do mundo, agora também é a que tem mais posições vendidas no Brasil, depois que uma luta de poder entre os acionistas levou à destituição do CEO.
A proporção de posições vendidas da Usiminas, como a empresa com sede em Belo Horizonte, Minas Gerais, é conhecida, excede em 12 por cento as ações em circulação e é a maior entre as 69 ações do índice Ibovespa, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O valor se compara com 2,1 por cento da principal siderúrgica brasileira, a Gerdau, e com 8,4 por cento da rival menor, a Companhia Siderúrgica Nacional.
A Usiminas pulou do terceiro para o primeiro lugar nas classificações de vendas depois que o conselho destituiu o CEO Julián Eguren, em uma votação que ocorreu no dia 25 de setembro, cujo resultado de 5 contra 5 exigiu que o presidente do conselho interviesse para desempatar.
A decisão, que a acionista Ternium afirmou derivar de uma briga interna do grupo controlador da Usiminas, está aprofundando uma queda das ações neste ano causada pelo enfraquecimento da demanda por aço, pela recessão no Brasil e pela queda dos preços do minério de ferro, que prejudica a unidade de mineração da Usiminas.
“O mercado não gosta de incertezas e devido a isso o montante de ações vendidas aumenta em relação às compradas”, disse Marcelo Aguiar, analista de ações do Goldman Sachs Group em São Paulo.
“É muito mais uma aversão ao risco do que possa estar vindo na frente – ou seja, bad new flow e uma mudança de gestão”.
A Usiminas, a maior produtora de aço plano da América Latina, caiu 14 por cento desde a votação da semana passada, levando a perda das ações neste ano até ontem para 54 por cento.
Este é o pior desempenho entre as 83 maiores siderúrgicas de capital aberto do mundo, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Entrada de Rocca
A desavença no conselho ocorre menos de três anos depois que a Ternium e a Tenaris, ambas controladas pela família do bilionário italiano Paolo Rocca, através da Techint Group, decidiram participar do grupo controlador da Usiminas, junto com a japonesa Nippon Steel Sumitomo Metal.
Junto ao fundo de pensão dos trabalhadores da Usiminas, o grupo possui uma participação combinada de 63,9 por cento no capital votante da siderúrgica e controla a companhia através de um pacto.
A Techint pagou cerca de R$ 5 bilhões (US$ 2 bilhões) por sua participação votante de 27,7 por cento, ou seja, R$ 36 por ação. A ação fechou ontem a R$ 6,51, 82 por cento abaixo do preço de compra.
A assessoria de imprensa da Nippon, em resposta enviada por e-mail a perguntas, disse que Eguren, que dirigiu a Ternium no México antes de assumir a Usiminas em 2012, e outros dois diretores nomeados pela Techint foram destituídos depois que auditorias internas e externas mostraram “recebimento indevido de dinheiro”.
A Nippon também disse que pretende conversar “de boa-fé” com a Ternium para chegar a um acordo sobre os membros permanentes da gestão da Usiminas depois da remoção.
Em comunicado do dia 26 de setembro, a Ternium disse que a decisão viola um acordo de acionistas.
A empresa não quis fazer comentários para este artigo, de acordo com um comunicado enviado por uma empresa terceirizada de relações públicas que trabalha para a companhia no Brasil.
A Usiminas não quis comentar, apesar dos diversos pedidos enviados por e-mail, e o fundo de pensão da companhia disse que não comenta questões internas. A Techint enviará um comunicado hoje.
Parceria com o Japão
O envolvimento da Nippon Steel na Usiminas remonta ao final da década de 1950, quando a Usiminas foi criada depois que o Brasil e o Japão decidiram estabelecer uma parceria em siderurgia.
A entrada da família Rocca no início de 2012 aumentou as esperanças de uma reviravolta operacional, pois a gestão se concentraria em reduzir custos, vender ativos e melhorar os lucros.
A Usiminas deve registrar uma receita líquida de R$ 481,2 milhões neste ano, seu melhor resultado desde 2010, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Os investidores que apostavam na reviravolta promovida pela gestão da Ternium agora se perguntam o que vem pela frente para a siderúrgica, disse Aguiar, do Goldman.
“O teaser da empresa mudou bastante dada a incerteza de como vai ser a gestão da empresa daqui para frente”, disse.
“A Usiminas vem de vários setbacks em relação a CEOs (...) ela não teve CEOs tão bem-sucedidos e a Ternium era uma que, pelo menos nos resultados, estava demostrando ao mercado que começou a entrar no rumo, no eixo”.