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Trabalho artesanal no mercado financeiro

A gestão de recursos é uma das poucas áreas do mercado em que tamanho não é documento. Com uma estrutura enxuta, os gestores especialistas conseguem altos retornos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h10.

Cada vez mais, o mundo das finanças é uma arena para quem tem peso. Bancos e corretoras que já são grandes unem-se e formam conglomerados ainda maiores, sob risco de desaparecer do mercado. Só há uma exceção nesse cenário darwinista: a atividade de gerir recursos. Administrar dinheiro é, ainda, um dos poucos nichos do sistema financeiro em que tamanho não é fator decisivo. Nessa atividade, é possível a um punhado de profissionais alugar um pequeno escritório, contratar sistemas de informações e de cotações e formalizar seus registros junto às autoridades para sair à caça do dinheiro do investidor -- e conseguir prosperar mesmo sem ter um porte minimamente comparável ao dos gigantes do mercado.

Diferentemente dos bancões de varejo, que possuem milhares de agências e servem a milhões de investidores, esses gestores dedicam-se a um grupo restrito de pessoas, focam suas atividades em poucos produtos -- às vezes em um único fundo -- e buscam a excelência absoluta no que fazem. São, por isso, chamados de especialistas. Em reconhecimento ao trabalho desses profissionais, o Guia EXAME de Investimentos Pessoais escolheu os melhores gestores de fundos especialistas. Para ser considerado um deles, o gestor deve administrar, no máximo, 0,5% do total de uma determinada categoria de fundos. Nesta edição, a disputa pelo título de melhor gestor envolveu 88 empresas. Para levar o prêmio, portanto, foi preciso enfrentar uma acirrada disputa entre dezenas de especialistas. A seguir, os premiados.

BBM Investimentos
A BBM Investimentos, escolhida como a especialista do ano, é a empresa de gestão de recursos de uma casa bancária tradicional, o banco BBM, fundado em 1858 como Banco da Bahia. É uma instituição de médio porte, que ocupa a 15a posição no sistema financeiro nacional. Além de receber o troféu de melhor gestor especialista de fundos do ano, a BBM Investimentos levou também o prêmio de melhor gestor especialista de fundos alavancados.

Especialista do ano
BBM Investimentos
Beny Parnes
Idade: 48 anos
Formação: economista
Tempo no banco: 4 anos
Tempo de mercado financeiro: 16 anos
Emprego anterior: Banco Central do Brasil (diretor de assuntos internacionais)

A BBM teve seis de seus fundos analisados nesta edição do guia e obteve a nota máxima de cinco estrelas em três deles -- um fundo alavancado, um fundo DI e um fundo de ações. Também obteve quatro estrelas em um fundo cambial. "Nosso objetivo é oferecer ao mercado fundos específicos, como os fundos de ações e multimercados, em que o cliente pode ganhar com uma estratégia de investimentos diferenciada", diz Beny Parnes, principal executivo da empresa de administração de recursos do banco e ex-diretor do Banco Central.

A receita para o bom desempenho, diz Parnes, é ter uma forte equipe de análise macroeconômica. Diariamente, as 25 pessoas chefiadas por Parnes debruçam-se sobre os dados econômicos do Brasil e do exterior, além, claro, de indicadores das companhias abertas. "Isso nos permite testar hipóteses sobre o que pode acontecer com um determinado setor no caso de mudança no cenário", diz o executivo. Nos últimos meses, o desempenho das carteiras geridas pela BBM foi beneficiado pela percepção precoce de que o primeiro semestre de 2007 seria um período benigno, de melhora dos cenários e queda do dólar e dos juros. Para os próximos meses, Parnes já não está tão otimista. "A liquidez mundial deverá encolher, o que vai provocar um ajuste generalizado nos preços dos ativos financeiros", diz.
 

Banco OB
O Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) é um participante recente no mercado financeiro. Nasceu em 1997, de 14 cooperativas de crédito, que lançaram um banco para centralizar a compensação de cheques e a administração de recursos, e ao completar dez anos foi escolhido como o melhor gestor especialista de fundos multimercados. Seu único fundo aberto à captação de recursos -- o Bancoob Capital Multimercado -- recebeu a avaliação máxima de cinco estrelas em 2007, em 2006 e também no período de três anos, mostrando uma boa consistência na gestão. Sua rentabilidade em 12 meses foi de 14,6%, levemente abaixo da média do mercado. Os principais cotistas do fundo são as cooperativas que controlam o Bancoob. "A maioria das cooperativas tem sobras de caixa, e elas precisam deixar esses recursos aplicados por um bom tempo", diz Felipe Barros, executivo responsável pela empresa de gestão do Bancoob. "Por essa razão, podemos ser um pouco mais ousados do que a média dos gestores de fundos e comprar ativos que ofereçam boa rentabilidade e risco baixo, mas que não são os mais líquidos do mercado."

Multimercados
Bancoob
Felipe Barros
Idade:
32 anos
Formação: economista
Tempo no banco: 5 anos
Tempo de mercado financeiro: 12 anos
Emprego anterior: Latinvest

Banco Sumitomo
O banco japonês Sumitomo foi, mais uma vez, premiado como o melhor gestor especialista de fundos cambiais, repetindo o desempenho registrado em 2006. Seu fundo, o Sumitomo Mitsui Cambial, obteve cinco estrelas neste ano e também na avaliação de 36 meses. Nos 12 meses terminados em 30 de junho, ele apresentou desvalorização de 5,4%, inferior à queda de 11% do dólar no mesmo período. Para ganhar o prêmio, o gestor Edson Eiji Takakura contou com o perfil de seus clientes e a escolha bem-sucedida de papéis há mais de dois anos. Como sua clientela é formada por empresas japonesas que alteram pouco suas posições, Takakura não fica operando diariamente e pode manter seus melhores papéis em carteira.

Cambiais
Banco Sumitomo
Edson Eiji Takakura
Idade: 42 anos
Formação: matemático
Tempo no banco: 22 anos
Tempo de mercado financeiro: 22 anos

O cenário não tem sido nada fácil para os gestores de fundos cambiais. A turbulência de agosto reacendeu momentaneamente o interesse dos investidores por essas aplicações, mas o fato é que há cada vez menos títulos indexados ao dólar em circulação no mercado financeiro. Por isso, trata-se de um segmento que deve passar por uma transformação nos próximos meses. "Ainda temos alguns papéis em carteira, mas, quando eles vencerem, teremos de usar derivativos cambiais", diz Takakura.

Mercatto Gestão de Recursos
A carioca Mercatto recebeu o prêmio de melhor gestor especialista de ações. Sua estratégia para escolher os melhores papéis para os fundos desenvolve-se em três etapas. Em primeiro lugar, a equipe de analistas escrutina os números das empresas, em especial sua capacidade de gerar caixa. As companhias aprovadas passam então por uma análise qualitativa, em que pesam a competência de sua gestão, os riscos e as oportunidades de cada setor e sua posição em relação à concorrência. Finalmente, entra em discussão a governança corporativa, ou seja, como as empresas tratam os acionistas. "Uma empresa pode ter excelentes resultados, mas, se sua ação garantir poucos direitos aos acionistas, o investimento torna-se arriscado", diz Régis Lemos de Abreu Filho, diretor de renda variável da Mercatto. Poucas companhias sobrevivem à estrita avaliação da Mercatto. Os fundos geridos pela administradora têm poucos nomes, como Itaú, Gerdau e Perdigão.

Ações
Mercatto Gestão de Recursos
Régis Lemos de Abreu Filho
Idade: 36 anos
Formação: economista
Tempo na empresa: 4 anos
Tempo de mercado financeiro: 12 anos
Emprego anterior: Banco Bozano, Simonsen

Concórdia Corretora
A Concórdia, gestora de recursos que é dirigida por Antônio Joel Rosa e tomou seu nome emprestado da cidade catarinense homônima, foi premiada como o melhor gestor especialista de fundos de renda fixa. Seu fundo Concórdia Extra RF obteve cinco estrelas em 2007. A gestão desse fundo foi extremamente conservadora, procurando aproveitar os movimentos de baixa de juros que começaram a ficar mais claros no fim de 2006. "Adotamos uma estratégia otimista no início do ano, prevendo que os juros iriam cair mais no primeiro semestre", diz Ricardo Augusto Martins, gestor do fundo. Uma das características do Concórdia Extra RF foi manter papéis de longo prazo em carteira. O prazo médio dos títulos variou de 400 a 500 dias. Para atenuar as oscilações desses papéis, os gestores usaram contratos futuros de juros. "Usamos os derivativos apenas para proteção", diz Martins. A estratégia deu certo e rendeu o prêmio à corretora.

Renda fixa
Concórdia Corretora
Antônio Joel Rosa
Idade: 57 anos
Formação: economista
Tempo na corretora: 21 anos
Tempo de mercado financeiro: 35 anos
Emprego anterior: Sadia
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